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Golpe militar

Qual foi o papel dos EUA no golpe contra Castillo no Peru?

Imperialismo continua com sua política golpista na América Latina para tentar roubar as riquezas dos povos latino-americanos

No Peru, desde que Pedro Castillo foi deposto, instituiu-se uma verdadeira ditadura no país. Dezenas de pessoas já morreram em decorrência da repressão violenta do regime golpista de Dina Boluarte, causando uma situação de grande convulsão social que tem gerado enormes protestos populares.

O golpe contra Castillo, entretanto, ocorreu não só com anuência, mas com a ajuda dos Estados Unidos. Um dia antes da queda do ex-presidente, o então ministro da Defesa, Gustavo Bobbio, se reuniu com a embaixadora estadunidense em Lima, Lis Kenna. Os EUA, por sua vez, rapidamente reconheceram o governo de Boluarte, uma movimentação política que se destaca principalmente na América Latina, que já foi palco de dezenas de golpes de Estado nas últimas décadas.

Isso é o que demonstrou e analisou reportagem da Sputnik News publicada nessa quarta-feira (28) que traz uma série de discussões acerca desse problema. Reproduzimos o artigo logo abaixo:

A deposição de Pedro Castillo da presidência pelo Congresso do Peru gerou controvérsias e debates sobre a legitimidade do processo que culminou no último dia 7. A derrubada do presidente aconteceu horas depois de ele tentar fechar o Parlamento, mas já vinha sendo gestada desde o início do mandato, segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

Com o passar dos dias, novos elementos indicam que a queda de Pedro Castillo não teria acontecido apenas por conflitos internos no país — que são muitos. Conversas entre representantes do governo dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos (OEA) nos dias anteriores e posteriores à votação do dia 7 levantam questionamentos sobre qual teria sido a participação dos EUA na derrubada de Pedro Castillo no Peru.

Para entender essa conexão, a Sputnik Brasil foi atrás de elementos que chamaram atenção nos últimos dias e consultou especialistas que têm analisado a crise peruana. Questões como guerra híbrida e reedição do Plano Condor estão entre os pontos levantados pelos entrevistados, que enxergam “vínculos” dos EUA com o desfecho que se deu.

No dia anterior à deposição, o então ministro da Defesa, Gustavo Bobbio, se reuniu com a embaixadora estadunidense em Lima, Lisa Kenna — que anteriormente serviu por nove anos como agente da CIA, o serviço de inteligência dos EUA. Após Castillo tentar fechar o Congresso, Bobbio foi um dos primeiros a renunciar.

Washington se apressou para reconhecer Dina Boluarte, então vice de Castillo, assim que o ex-líder sindical foi deposto. Após Argentina, Bolívia, Colômbia e México se colocarem contra o processo e reconhecerem a continuidade da presidência de Castillo, Kenna se encontrou com a presidente em exercício no Palácio do Governo.

Três dias depois, Boluarte manteve uma conversa telefônica com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. O chanceler estadunidense reforçou que estava ao lado da presidente e das medidas que ela considerasse necessárias para lidar com o cenário de instabilidade.

Em carta, Castillo condenou esses encontros: “Alerta, compatriotas! A visita da embaixadora dos EUA ao Palácio do Governo não foi gratuita, nem a favor do país. Era para dar ordem de levar as tropas para as ruas e massacrar meu povo indefeso; e, aliás, deixar o caminho livre para a exploração mineral, como no caso da Conga, Tía María e outras [referindo-se a projetos de mineração]. A imprensa peruana não apenas permanecerá em silêncio sobre isso, mas também o negará com a mesma facilidade”.

Em razão da crise, o Peru foi impactado por fortes protestos que exigiam a renúncia de Boluarte, a antecipação das eleições gerais para 2023, a libertação de Castillo — que foi preso após a deposição — e a convocação de uma assembleia constituinte. A repressão contra os protestos deixou ao menos 28 mortos.

Castillo rompeu com o Grupo de Lima

Uma das primeiras medidas que Castillo adotou logo que assumiu a presidência foi romper o vínculo do Peru com o Grupo de Lima, organização formada por governos conservadores da região para apoiar a oposição venezuelana e tentar enfraquecer o presidente Nicolás Maduro. Para a socióloga Ana Prestes, doutora em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a eleição de Castillo e o consequente esvaziamento do bloco foram “parte de um processo de derrocada do intervencionismo na Venezuela”.

No entanto, o presidente não conseguiu implementar sua agenda máxima e de certa maneira acabou “refém de forças políticas aliadas ao imperialismo, ao ponto de o convencerem a pedir ajuda à Secretaria Geral da OEA, conhecida por sua subserviência aos EUA, para atuar na mediação política interna dos conflitos entre a presidência e o Congresso peruano”, segundo a especialista.

Essa opinião é compartilhada por Hugo Alburquerque, editor da Autonomia Literária e diretor do Instituto Humanidade, Direitos e Democracia (Ihudd). Para ele, Castillo foi eleito com um programa “anti-imperialista”, o que não era bem visto por Washington.

“O problema é Castillo ter sido acossado, e, em vez de resistir e mobilizar, ele buscou moderar suas posições buscando um meio-termo impossível. Mas ele preferiu acreditar nisso. Naturalmente, aos EUA nada disso interessava. Mas Washington conseguiu fazer Castillo recuar, até posar com [Jair] Bolsonaro [presidente brasileiro] e fazer número na 9ª Cúpula das Américas, onde [Joe] Biden [presidente norte-americano] procurava mostrar que ainda tem prestígio no hemisfério, tanto para o público interno quanto para legitimar suas políticas para a América Latina, a qual ele expressamente trata como seu jardim de frente de casa”, apontou.

Mesmo com o rompimento de Castillo, o Peru Livre se colocou contra a movimentação que o depôs e defende a libertação do ex-presidente. Tania Bernuy, coordenadora do partido no Brasil, disse à Sputnik Brasil que as reivindicações das ruas de antecipação das eleições, renúncia imediata de Boluarte e assembleia constituinte também são abraçadas pela legenda.

Houve intervenção dos EUA no Peru?

O Peru Livre enxerga interesses dos EUA na deposição do presidente. Para Bernuy, “sem dúvidas, há intervenção dos EUA”.

“Trata-se mais uma vez da guerra híbrida de ‘lawfare’ contra a nossa América Latina, com o operativo mais conhecido como ‘Plan Condor 2’. [Trata-se do] […] imperialismo norte-americano com uma oposição de ultradireita peruana fujimontesinista [em referência a Alberto Fujimori, ex-presidente do Peru, conhecido por se perpetuar no poder com um autogolpe nos anos 1990, e Vladimiro Montesinos, chefe do Serviço Nacional de Inteligência do Peru durante o governo de Fujimori] muito corrupta; uma imprensa totalmente patrocinada, parcializada e dedicada a promover golpes à nossa frágil democracia; um aparato judiciário que se dedicou a perseguir os nossos líderes sociais e aceitar constantes denúncias sem provas contra o presidente; e um Congresso da República que promovia o impeachment desde o início do governo Castillo”, avalia Bernuy.

Ana Prestes acredita que o caos político no Peru não é interessante aos EUA, “mas muito menos interessa uma presidência sustentada por bases populares e de trabalhadores”. “Aos EUA interessam um governo frágil e subserviente como pode ser o de Dina Boluarte”, aponta.

“Os EUA nunca ficam alheios a nada do que ocorre na região. Lembremos que eles consideram as Américas sua região primordial de influência. Creio, sim, haver vínculos dos EUA no desfecho que se deu. Principalmente pela ação da OEA nos meses prévios à declaração desastrosa de Castillo. Os pronunciamentos do Departamento de Estado, por Blinken, e da Embaixada dos EUA no Peru muito instantâneos à posse de Dina Boluarte também não deixam dúvidas de que nada do que ocorreu foi surpresa para a Casa Branca”, disse ainda a socióloga.

Albuquerque também é categórico ao afirmar que “certamente há vínculos dos Estados Unidos e do Norte Global com a queda de Castillo” e destaca a reunião que a presidente em exercício teve com Luis Almagro, secretário-geral da OEA.

“Não há novidade nisso. Basta lembrar do que tem acontecido no cerco à Venezuela ou no golpe de 2019 na Bolívia. Outro ponto importante foram os encontros de Boluarte com delegações do Reino Unido semanas antes da derrubada de Castillo. Há fortes sinais semelhantes ao que já vimos no continente”, apontou.

Bernuy afirma que o processo de deposição de Castillo também envolveu interesses de empresas internacionais que exploram recursos minerais em solo peruano. Segundo a dirigente política, em 2023 serão reavaliados contratos de concessões mineiras, petroleiras, de energia e de lítio que estavam em vigor desde 1993, durante a ditadura de Alberto Fujimori.

“Há 37 projetos de lei no Congresso da República que propõem outorgar os lotes a empresas mineiras privadas. Trata-se de uma conspiração congressual em conjunto com todo o aparato de guerra híbrida que [trabalhou] […] para inabilitar o presidente neste fim de ano com a chancela estadunidense, pois a maioria dessas empresas privadas são desse país”, alerta.

“Não perdoaram que um professor ruralista vindo do interior do Peru assumisse o poder do nosso país com um programa de governo transformador de esquerda disposto a mudar os rumos da nossa economia, comprometido em recuperar nossos recursos e erguer a nossa capacidade de ser uma enorme potência na região sul-americana, com os imensos recursos naturais que temos e o sentido de elevar o nosso desenvolvimento social”, acrescentou a dirigente do Peru Livre.

Qual o papel do Brasil na crise?

Enquanto os EUA respaldam o governo de Boluarte e outros países da região reivindicam a continuidade de Castillo, o Brasil pode trabalhar para promover o diálogo no Peru e encontrar uma solução pacífica para o país.

“Qualquer instabilidade política na América do Sul afeta o Brasil, e acredito, sim, que o governo [de Luiz Inácio] Lula [da Silva] precisa ser proativo para apoiar e quiçá mediar uma solução pacífica e democrática para a crise institucional peruana. Por outro lado, a cooperação e as relações comerciais entre o Brasil e o Peru não devem ser afetadas, mas é evidente que um país pacificado internamente tem muito mais condições de ampliar a qualidade e o vigor de sua cooperação, atuar nas plataformas multilaterais, contribuir para a integração não só econômica, mas da infraestrutura e dos projetos sociais da região”, aponta Prestes.

Alburquerque e Bernuy acreditam que Lula deve adotar a mesma posição de México, Argentina e Colômbia, se posicionando contra a gestão Biden.

“Lula, sim, pode contribuir para a pacificação do Peru, em princípio mostrando sua solidariedade ao nosso povo, que foi assassinado ao comando da presidenta de facto Boluarte. São 30 vítimas mortas (inclusive há crianças e adolescentes na lista) e muitos desaparecidos, que ainda não foram contabilizados nas províncias do Peru onde o povo está se manifestando nas ruas todos os dias. Em segundo lugar, se faz necessário ecoar as declarações do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, contra as ingerências políticas imperialistas norte-americanas nos nossos países”, apontou Bernuy.

Fonte: Sputnik

* Os artigos aqui reproduzidos não expressam necessariamente a opinião deste Diário

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