Desde a grande vitória alcançada pelo Talibã em agosto do ano passado ao derrubar o governo afegão capacho e ao expulsar as tropas imperialistas do país, o Imperialismo tem feito de tudo para tentar sufocar o restaurado Emirado Islâmico do Afeganistão e o seu povo: atualmente 95% da população afegã vive em situação de insegurança alimentar e milhões de pessoas, dentre elas mulheres e crianças, estão próximas à morte por inanição. Na época, os russos e os chineses já haviam se manifestado em prol do reconhecimento do Talibã como governo legítimo desde que algumas condições fossem cumpridas, a mais importante delas sendo o combate ao jihadismo na região.
É importante lembrar que o Afeganistão faz fronteira com a região de Xinjiang, um dos focos de desestabilização imperialista na China, e com as antigas repúblicas soviéticas do Turcomenistão, do Uzbequistão e do Tadjiquistão, que potencialmente serviriam de ponte para a entrada de terroristas islâmicos em território russo. Vale lembrar aqui o movimento separatista checheno impulsionado pelo Imperialismo no período posterior ao colapso soviético que rendeu duas guerras intensas na região e grande atividade terrorista no território da Federação Russa até meados de 2007. Vale lembrar também que muitos dos jihadistas chechenos financiados pelo imperialismo participaram da guerra na Síria que buscava derrubar o governo nacionalista de Bashar al-Assad e os indícios de que estes mesmos jihadistas tenham ido combater os russos na Ucrânia.
Com a tentativa do Imperialismo de cercar a Rússia devido à sua resposta dura, e correta, ao governo protofascista ucraniano em prol das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e de garantir a sua própria segurança nacional, o governo de Putin tem sido impulsionado a assumir uma postura mais progressista no cenário geopolítico de se aproximar ainda mais dos países de capitalismo atrasado do mundo que opõem, em maior ou menor medida, a dominação imperialista mundial, dentre eles o Afeganistão, que como evidenciado no parágrafo anterior ocupa uma posição geográfica estratégica na Eurásia. Nesta semana, o chanceler russo, Sergei Lavrov, se encontrou com Amir Khan Muttaqi, atual Ministro das Relações Exteriores de Afeganistão, em Tunxi, na China, para discutir a questão do reconhecimento do Talibã como governo legítimo, além disso, informou-se a credenciação por parte dos russos de um diplomata afegão em Moscou.
Lavrov informou: “Estamos convencidos que a comunidade internacional deve cooperar ativamente com o novo governo do Afeganistão, encorajando-os para que os passos para o reconhecimento oficial por parte da ONU e do resto de seus membros sejam tomados.” O chanceler russo pontuou, algo que já havia sido pedido pelos chineses e pelos russos ano passado, que no governo do Afeganistão deveriam estar presentes representantes das outras etnias presentes no país, além dos Pashtuns, de minorias religiosas e de outras forças políticas. Apesar de toda a campanha feita pelo Imperialismo contra o Talibã de que seriam sectários e esmagariam as outras forças políticas do país, a expectativa dos russos é muito razoável: foi somente quando o Talibã se converteu em uma verdadeira força afegã, e não meramente Pashtun, que conseguiram dirigir uma grande insurreição popular para expulsar a presença norte-americana do país.
Assim como a derrota dramática do Imperialismo no Afeganistão, uma espécie de Saigon 2.0, mas dessa vez sem trunfo diplomático algum por parte dos EUA, a guerra na Ucrânia tem cumprido um papel profundamente progressista no mundo. Desde então temos visto uma postura mais assertiva dos Houthis no Iêmen na guerra genocida perpetrada pela Arábia Saudita no país que bombardearam refinarias sauditas; vimos também ataques dos Iranianos a agentes do Mossad no Iraque; Israel sofreu o maior ataque cibernético da sua história; um fortalecimento da posição da Venezuela contra o Imperialismo; as ações chinesas em Taiwan; etc. A reação dos oprimidos começou pelo mundo todo e países de capitalismo atrasado importantes têm se recusado a boicotar os russos, dentre eles os outros integrantes dos BRICS, o que tem acontecido, na verdade, é uma aproximação destes países com a Rússia.
A Federação Russa e a sua liderança acabam cumprindo um papel de vanguarda nos agrupamentos dos países de capitalismo atrasado contra o Imperialismo devido ao seu grande poderio militar e à sua posição enérgica, dadas as ameaças da OTAN à sua existência em si. As operações militares russas na Ucrânia são mais um dos eventos marcantes do começo de uma nova onda revolucionária pelo mundo, independentemente do caráter do governo russo, os de cima já não conseguem mais dominar como antes.