Matéria do PSTU sobre a situação do Peru mostra que esse grupo não perde sua mania de fazer o que sempre tem feito: se esconder atrás de um “ultrarradicalismo” para ocultar sua política de colaboração de classes.
A matéria do PSTU afirma que Castilho “pretendia governar por decreto e chamar um Congresso Constituinte, garantindo, porém, “o modelo econômico e a propriedade privada…”.
O que faz o PSTU acreditar que Castillo pudesse, ou quisesse, confiscar a propriedade privada? Esse tipo de comentário serve apenas como um esquerdismo vazio. Não existem condições materiais, políticas, para que se exproprie a burguesia peruana. Dizer que o presidente ‘garante’ a propriedade privada, apenas abre um flanco para justificar quaisquer críticas a ele direcionadas. As críticas sempre devem ser à esquerda, visando o esclarecimento e aumento da consciência de classe e a partir daí organizar a luta.
Um breve panorama
Todos fomos surpreendidos com as notícias que chegaram do Peru nesta quinta-feira, dia 8, dando conta da destituição e prisão de Pedro Castillo.
O presidente peruano tentou um lance, frente às sucessivas tentativas de golpe / impeachment que vinham ocorrendo contra sua gestão desde o início do mandato. Com isso, tentou fechar o Congresso, os Órgão do Judiciário, governar por decreto e chamar uma Constituinte.
Horas antes do anúncio das medidas de Castillo, Walter Córdova, comandante-geral do exército peruano, apresentou uma carta de renúncia alegando “razões estritamente pessoais”. O que mostra que havia um plano em andamento e que deixaram Castillo no meio da estrada. Obviamente, não se pode dar golpe sem a participação das Forças Armadas.
Aqui vale uma observação, pois parte da esquerda brasileira classifica como tentativa de golpe a invasão ao Capitólio por manifestantes, e os bloqueios de estradas promovidos por eleitores de Bolsonaro. As Forças Armadas não estão participando, portanto, esses grupos não têm como dar um golpe de Estado. Mesmo assim, a esquerda pede punição e cadeia para os manifestantes. Esquecendo-se de um pequeno detalhe: estão recorrendo às instituições burguesas, ao STF, para que tomem medidas repressivas contra as manifestações. O que, sabemos, só poderá se voltar contra a esquerda.
A eleição
A eleição de Castillo foi muito acirrada. Ele se elegeu com apoio da esquerda e derrotou a extrema direita, liderada por Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori. Esses resultados apertados têm se tornado constantes na América Latina, basta relembrar também das eleições de Gustavo Petro e Lula.
Ao se eleger, já pressionado pelo resultado das urnas, Castillo tratou de se livrar da esquerda que o elegeu e buscou um acordo com a direita. Por isso seus ministérios foram instáveis e foram trocados quatro vezes. Suas tentativas fracassaram, o tempo todo sofreu acusações de todo tipo: corrupção, de tratar com simpatizantes do Sendero Luminoso. Obviamente que as acusações partiram sempre da direita.
Sem conseguir os acordos é que Castillo tentou fazer um retorno à esquerda, mas sofreu o golpe e foi prontamente substituído por sua vice, Dina Boluarte, muito solícita em assumir a presidência. Essa é a principal função dos vice-presidentes, facilitar os golpes de Estado.
Fora todos – Parte II
Ao mesmo tempo em que diz que não aceita a vice — “chamamos a não depositar nenhuma confiança ou expectativa no governo Boluarte e, pelo contrário, rejeitar qualquer possibilidade de “diálogo” proposto pelo novo governo que se apoie em um acordo com um Congresso que não representa o povo trabalhador ” — O PSTU também retira o apoio ao presidente peruano.
“A classe trabalhadora não é responsável pelo fim do governo de Castillo. Um governo que manteve a aplicação do plano econômico neoliberal incólume, que não se dignou a tomar uma só medida efetiva a favor das condições de vida da população pobre e trabalhadora do país, que renunciou às suas promessas de campanha no mesmo dia de seu juramento”. A mesma atitude que vimos em 2016.
Durante o golpe conta Dilma Rousseff, o PSTU chamou a palavra de ordem “Fora todos eles!”, o que incluía Dilma, e prometia permanecer nas ruas até que todos fossem substituídos. No entanto, após a destituição da presidenta, o PSTU saiu das ruas, para surpresa de ninguém.
Ainda que Castillo tenha tentado um golpe contra a direita, e tenha recebido ele próprio um golpe, o saldo, o resultado desse processo, é que um mais um presidente eleito com apoio da esquerda é destituído na América Latina.
Na Argentina, já deram um ‘golpe preventivo’ contra Cristina Kirchner, pois é favorita para se eleger como presidenta e a direita tratou de condená-la e, como não poderia deixar de ser, a acusação é sobre corrupção, nos mesmos moldes da Lava Jato.
Ao dizer que não apoia ninguém, o PSTU nada mais faz que aceitar o golpe dado contra Castillo. Fazer um chamamento abstrato no sentido de que a classe trabalhadora precisa se mobilizar, como já vimos da parte desse próprio grupo, não vai dar em nada.
No Brasil, o PSTU esteve contra Dilma e se omitiu de lutar contra os golpistas, que jogaram milhões de brasileiros na mais absoluta miséria. Desta vez, com o mesmo “radicalismo”, tira o corpo fora e deixa caminho aberto para a direita golpista peruana, que é quem vai efetivamente governar o país.