Reprise 

PSTU Argentina chama “fuera todos!” e repete golpismo de 2016

Enquanto Cristina Kirchner é perseguida pela lava jato argentina o PSTU dos hermanos acusam-na de corrupta e patronal e servem de base esquerdista para o golpe

A ex-presidenta e atual vice presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, foi condenada no dia 7 de dezembro por corrupção em um processo judicial ao estilo da Lava jato. O mais importante é que a condenação nas próximas instâncias impediria Kirchner de se candidatar às eleições de 2023, algo muito semelhante ao que houve com Lula em 2018, é uma clara perseguição do imperialismo aos setores nacionalistas da América Latina. Contudo, a Liga Internacional dos Trabalhadores, LIT-QI, não consegue compreender esse caráter de classe; para eles, Kirchner não está sendo perseguida, e portanto não deve ser defendida, é mais um política golpista dos morenistas em sua terra natal.

O texto em questão “Sobre a sentença de Cristina Fernández” foi publicado no sítio digital da LIT-QI no dia 22 de dezembro. Ele começa colocando que “com alguns festejando à Justiça e outros colocando a defesa de Cristina como a causa popular por excelência. A verdade é que enquanto isso acontece, há novos detidos no contexto da luta piqueteira e ambos os lados se omitem.” O problema portanto seriam os outros perseguidos pelo judiciário e não a liderança mais popular do país, que já deveria ser a presidenta, e que só não o é por ter sofrido uma perseguição judicial já nas últimas eleições. É um argumento absurdo, que foi usado também com Lula no ano de 2018.

Quando Lula estava sendo condenado pela Lava Jato, como forma de impedir que ele concorresse nas eleições de 2018, setores da esquerda pequeno-burguesa tentaram usar o argumento de que ‘mais importante eram as condenações menores’, como a do catador de lixo Rafael Braga, preso nas manifestações de 2013. Para eles, um golpe de Estado que define o presidente do país pelos próximos 4 anos é menos importante do que a prisão de um ou outro elemento da população pobre, um argumento ultra esquerdista. É óbvio que um golpe terá um impacto geral na prisão dos pobres, basta ver o que fez Bolsonaro após assumir o governo em 2019, indicou o fascista Sergio Moro como ministro da justiça. Esse argumento de que outros presos são mais relevantes é apenas uma desculpa para não defender Lula ou Cristina Kirchner.

O texto segue afirmando: “o PSTU (Argentina) considera que a parcialidade desta Justiça não é novidade, e sim uma constante, mas a tentativa do kirchnerismo de fazer passar estas causas como perseguições políticas é uma falsidade nada inocente.” Ou seja, para justificar a posição de não defender Cristina Kirchner é preciso afirmar que ela não está sendo perseguida, mesmo que a organização considere que a justiça é parcial. É um malabarismo complexo para manter essa posição neste momento em que está claro que o imperialismo persegue todos os setores nacionalistas latino-americanos, até os mais moderados como Pedro Castillo, do Peru.

O PSTU Argentina para manter a sua posição se rebaixa ao nível de entrar na discussão da Lava-jato argentina alegando que Cristina Kirchner é uma corrupta. “Mas o que a própria Cristina reconheceu é que houve corrupção sob seu governo e o de Néstor Kirchner, embora tente atribuí-la aos seus funcionários, os que o kirchnerismo manteve ao longo de seus 12 anos” E assim ele conclui “Na realidade, não deveriam ser acusadas/os só Cristina e seus funcionários mas também os empresários”. É outro argumento ultra esquerdista, Kirchner deve ser condenada assim como todos os empresários corruptos. Parece que o PSTU Argentina leu somente textos do PSTU Brasil e não acompanhou o que houve de fato no país vizinho nos últimos 6 anos.

A argumentação segue: “A corrupção é inerente ao sistema capitalista. Hoje os setores patronais resolvem seus interesses na Justiça, acusando-se de corruptos uns aos outros, quando na verdade, todos são”. Aqui fica claro o erro da LIT-QI e o motivo pelo qual eles não defendem Kirchner, eles consideram que ela também faz parte dos “setores patronais”, ou seja, ela e a direita golpista são ambos aliados do imperialismo e inimigos dos trabalhadores. É exatamente o mesmo erro dos que apoiaram o golpe contra Dilma no Brasil, essa esquerda golpista não compreende que existe uma luta entre o PT, o PJ (Argentina), o MAS contra o imperialismo, mesmo os partidos não sendo autoproclamados revolucionários como o PSTU.

Ao contrário do PSTU, esses partidos, mesmo se proclamando reformistas, travam uma luta contra o imperialismo e por isso são vítimas de investidas golpistas. É impressionante que depois dos golpes de 2009 em Honduras, 2012 no Paraguai, 2016 e 2018 no Brasil, 2019 na Bolívia e 2022 no Peru, os morenistas ainda não tenham percebido que existe uma política do imperialismo para derrubar os governos da esquerda nacionalista na América Latina. A própria Cristina Kirchner já está sendo investigada na Lava-jato há anos e foi a pressão do judiciário que fez com que ela se candidatasse a vice e não à cabeça de chapa. A política golpista segue na Argentina exatamente como aconteceu no Brasil no ano de 2018.

O texto então argumenta sobre o caráter de classe da justiça: “Nesta democracia para ricos não existe a possibilidade de que haja uma justiça independente, porque é uma justiça de classe” É fato que não existe um judiciário imparcial e que ele é na verdade afetado pela luta de classes. E aqui aparece o grande erro da LIT-QI mais uma vez, mesmo citando a luta de classes não há uma análise de quais classes estão lutando. O imperialismo, isto é, a burguesia da Europa, do Japão e dos EUA principalmente, controla o judiciário da Argentina para atacar Kirchner. Ela, por sua vez, está ligada tanto a um setor da burguesia nacional quanto à classe operária argentina. Nada disso é citado no texto, não são nem mesmo mencionadas as palavras ‘imperialismo’ e ‘EUA’.

É óbvio que quando se ignora a existência do imperialismo, o inimigo por essência da classe operária, a política defendida pela organização, não será uma política defesa dos trabalhadores, pelo contrário, será uma política a reboque do imperialismo. Esse é o grande erro dos morenistas da Argentina e do Brasil. O fato de não enxergarem a luta entre Cristina Kirchner e o imperialismo mas colocá-los no mesmo grupo de “setores patronais” faz com que, na prática, eles apoiem o lado mais forte, ou seja, o imperialismo. E na luta entre o imperialismo e qualquer governo de país oprimido não há como tergiversar, é preciso declarar apoio total a este governo, o que não quer dizer que se adote a mesma política do partido que está no governo.

O texto finaliza com um ataque geral ao judiciário afirmando que ele deve ser controlado pelos trabalhadores, o que é um ataque vazio quando se ignora completamente a luta política que está sendo travada no momento. Apesar de não estar escrito desta forma, na prática o PSTU da Argentina defende a mesma política que adotou a partir de 2015 no Brasil, o “Fora todos!” Essa política serviu como uma base esquerdista para o golpe de Estado no Brasil e terá o mesmo efeito na Argentina em 2023.

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