O YouTube publicou no seu blog oficial um pacote de medidas da plataforma visando as eleições de 2022 no Brasil. Assinado pela Gerente de Políticas Públicas da empresa no país, Alana Rizzo, o comunicado se intitula “Combatendo a desinformação sobre as eleições brasileiras” e anuncia no seu subtítulo os objetivos de reduzir a “disseminação de informações enganosas e a recomendação de fontes de conteúdos confiáveis sobre as eleições”.
A cruzada “democrática” do YouTube
O pacote de medidas foi anunciado contando com quatro tópicos: “remoção de conteúdo que viole nossas políticas”, “redução da disseminação de informações enganosas e recomendação de conteúdos de fontes confiáveis sobre eleições”, “recompensar campanhas, candidatos e criadores de conteúdo sobre política” e “apoio à cidadania e ao processo democrático”. Sobre as violações às políticas do YouTube, o comunicado coloca no mesmo balaio a manipulação maliciosa de informações e informações indesejadas pelo TSE. Denúncias sobre a lisura do processo eleitoral brasileiro serão barradas pelo mesmo mecanismo proposto para impedir a veiculação de informações erradas sobre dia, horário e regras oficiais das eleições.
Uma “censura do bem”, que evitaria que eleitores não conseguissem votar, por exemplo, por terem assistido a um vídeo dizendo que as datas oficiais teriam sido adiadas, e que ao mesmo tempo silencia qualquer ceticismo em relação às instituições eleitorais ou às “sagradas” urnas eleitorais. O comunicado faz uma ressalva de que “vídeos que mostrem contexto educativo, documental, científico ou artístico” estão permitidos. Podemos ficar tranquilos em relação à veiculação de análises marxistas sobre as eleições no Brasil então?
Sobre o direcionamento de conteúdos aos usuários da plataforma, ou a “redução da disseminação de informações enganosas e recomendação de conteúdos de fontes confiáveis sobre eleições”, o YouTube explicita novamente que qualquer questionamento às urnas eletrônicas será tratado como “desinformação”. O tema terá a mesma atenção dispensada anteriormente a assuntos como a chegada do homem à Lua e a Covid-19. O objetivo declarado da empresa é praticamente invisibilizar “conteúdo duvidoso”, mantendo as visualizações de recomendações de quem receber esse rótulo num patamar abaixo de 0,5%.
No tópico “recompensar campanhas, candidatos e criadores de conteúdo sobre política”, o comunicado explica que desde novembro de 2021 já está mobilizando “anunciantes interessados em veicular publicidade eleitoral no Google Ads e no Display&Video 360”. Obviamente, a empresa diz estar aberta a criadores de conteúdo político e candidatos de “todo o espectro político”, o que não significa absolutamente nada, tendo em vista as limitações já anunciadas em relação a conteúdos “duvidosos” e o fato de que no mundo real a discrepância no poder econômico entre a burguesia e o resto da sociedade já seleciona o “espectro político” que será patrocinado. Esse é o “apoio à cidadania e ao processo democrático” proposto pelo YouTube.
Eleições cada vez mais antidemocráticas
Como não poderia deixar de ser, o domínio da internet por monopólios capitalistas reduz ao mínimo possível o potencial dessa tecnologia para a sociedade. O comunicado do YouTube deixou bem claro que é proibido questionar a inviolabilidade das urnas eletrônicas, mesmo que a quase totalidade da população não tenha sequer o conhecimento técnico para auditar o equipamento.
Quem acompanha a imprensa e a atividade política do PCO conhece a opinião do partido sobre o pleito de 2018, onde a palavra de ordem “eleição sem Lula é golpe” ecoou desde antes da abertura oficial do processo eleitoral. Ou seja, o partido denunciou uma fraude eleitoral, embasado na retirada arbitrária do candidato mais popular das eleições pelo poder judiciário. A ditadura imposta à atividade política na internet visa esconder o quanto for possível as opiniões que se opõem ao regime político burguês em vigência.
Diante da impossibilidade de controlar o aplicativo de mensagens Telegram, a Justiça Eleitoral vem travando uma batalha contra a empresa russa. Assim como em outros episódios de ataques aos direitos democráticos no Brasil, a burguesia coloca num primeiro momento figuras da extrema-direita na linha de tiro e com isso recebe apoio de setores da esquerda pequeno-burguesa. No caso do Telegram, a alta popularidade do ilegítimo presidente Jair Bolsonaro tem sido usada para isso, fechar um canal de comunicação que ganhou usuários nos últimos anos em benefício dos monopólios.
O desenvolvimento dos mecanismos de censura nas redes sociais serve justamente para que a burguesia controle e se preciso fraude as eleições. Ao impedir a livre expressão de pessoas, grupos e partidos políticos, esses monopólios estrangeiros atuam coordenadamente com os monopólios da comunicação tradicionais do país, como Globo, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e outros. Estes, não disseminam “fake news”, apenas mentem e manipulam a opinião pública sistematicamente. Obviamente não estão no radar “anti desinformação” do YouTube.