A reportagem abaixo, de autoria de Kátia Perin, com a colaboração de Edson Rossi, para a Placar, conta a trajetória de Pelé no Bauru Atlético Clube, clube que formou o menino Pelé antes da ida dele ao Santos Futebol Clube. A matéria venceu o Prêmio Esso, que era considerado a maior premiação do jornalismo brasileiro. Confira o texto na íntegra logo a seguir:
PRAZER, BAQUINHO
Publicado em 10 de fevereiro de 1989
A primeira ideia era formar um time infantojuvenil para fazer, com meninos, o que os profissionais já não conseguiam: arte com a bola nos pés. João Fernandes, diretor e provedor do Bauru Atlético Clube, o BAC, convidou Waldemar de Britto, meia-direita da seleção brasileira de 1934, para ser o técnico. E, em setembro de 1953, o Diário de Bauru publicou um anúncio, convidando as crianças da cidade — distante 345 quilômetros de São Paulo — para participarem da peneira. Cem peladeiros de 8 a 16 anos se apresentaram. Waldemar sentou-se no alto da arquibancada e de lá escolheu os melhores 25 garotos. Menos de um mês depois, em 29 de outubro, o Baquinho (meninos do BAC) estreava contra o Gérson França F.C.: 3 a 3. Na partida seguinte, porém, a equipe começou a mostrar do que seria capaz. Ganhou do São Paulo por 21 a 0, um gol a cada três minutos. Um crioulinho mirrado, que mais parecia a mascote, foi um dos artilheiros com sete gols: Pelé. Na época, o treinador Waldemar se orgulhava ao constatar que, se outro time jogasse sozinho contra estacas de madeira, já seria difícil alcançar o mesmo resultado. Mas não havia limites para o Baquinho. Entre amistosos e o campeonato da Liga Bauruense de 1954, disputou 33 partidas e marcou 148 gols, uma média de 4,5 por jogo. A seis rodadas da final, era campeão. Como presente pelo título, o Baquinho atuou em São Paulo, na preliminar de Associação Desportiva Araraquarense (ADA) x América de São José do Rio Preto. Goleou o Flamengo de Vila Mariana por 12 a 1. Depois que saiu de campo, metade do público foi embora: a partida principal não poderia ser melhor. Chegou ao bicampeonato em 1955. Mas, no ano seguinte, a equipe se desfez. Pelé ainda jogou alguns meses num time de futebol de salão e viajou para o Santos. A infância havia passado. Logo o clube encerrou suas atividades no esporte. Tempos depois, acabou dividindo pela metade o campo — cenário de tantas histórias do Baquinho — para construir cinco piscinas. Hoje elas atraem mais meninos que a bola. Na parede do restaurante, um pôster amarelado com o time de 6 de abril de 1955 foi tudo o que restou como lembrança do nascimento de um rei.