É comum vermos os grandes meios de comunicação televisivos e impressos condenarem a luta política do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Seus integrantes geralmente são chamados de vândalos e bandidos quando invadem terras improdutivas e são criminosa e severamente agredidos pelas forças policiais.
Porém, no último sábado, 5 de fevereiro, uma manifestação em Curitiba contra o racismo organizada por identitários de “esquerda” não foi condenada da mesma forma que os integrantes do MST ou outra organização mais aguerrida. Na Folha de S. Paulo, a ação não foi chamada de vandalismo pelo jornal.
A pretexto de ser contra o racismo e a xenofobia, protestando contra as recentes mortes do congolês Moise Mugenyi Kabagambe, assassinado a pauladas em quiosque na Barra da Tijuca, e Durval Teófilo Filho, cidadão assassinado por um sargento vizinho em São Gonçalo, ambos no Rio de Janeiro, os manifestantes “invadiram” uma igreja católica em Curitiba.
Houve uma discussão na entrada da igreja. Segundo o vereador Renato Freitas (PT), um dos participantes do ato,
“Aí gerou uma discussão, um debate, porque é a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito. Uma construída pelos pretos e para os pretos, em 1737, durante a escravidão, porque os negros não podiam entrar em outras igrejas, reservados aos brancos na cidade de Curitiba. Essa igreja tem um poder simbólico, uma representatividade, é imbuída de um sentido histórico”.
Os manifestantes gritaram a palavra de ordem “racista, racista”, uma mulher fecha a porta de entrada, mas os manifestantes entram pela porta lateral.
Nos discursos dos manifestantes, um deles cita fala racista de Bolsonaro (PL), que, em referência aos quilombolas, disse que o descendente mais leve pesava sete arrobas. Houve gritos de “Fora, Bolsonaro!”
O episódio em Curitiba, com grande repercussão dos principais jornais impressos da burguesia, mostra que essa imprensa age com dois pesos e duas medidas. A condenação que ela faz ao MST e outras organizações de luta que incomodam diretamente a burguesia não é a mesma com relação a essa manifestação contra quem não tem nada a ver diretamente sobre o sofrimento do povo negro e de todos os oprimidos.
A conduta normal do jornal é de caluniar, atacar e difamar movimentos políticos e sociais que de fato podem trazer algum resultado para a luta política. Apoiam “invasões” desse tipo, como fizeram com o grupo de Boulos na época que os psolistas e identitários “ocuparam” a Bolsa de Valores de São Paulo, porque são inócuos. É uma demagogia manipulável pela burguesia, assim como também ocorre com as ações absurdas de queima de estátuas, monumentos históricos e censura de músicas e obras literárias. Neste último caso, além da demagogia, é um grande negócio para a burguesia abrir um brecha para censuras posteriores.
Nenhum desses movimentos identitários assumiu aguerridamente a luta para derrotar Bolsonaro e seus golpistas-responsáveis pela crise econômico-financeira do país-, ou propagar uma política de luta contra a Polícia Militar, braço fascista da burguesia. Nenhum deles faz campanha pela candidatura de Lula, que é o único candidato em torno do qual se pode formar um movimento para derrotar o golpe de Estado e o avanço fascista no País. Qualquer movimento nesse sentido, também é atacado pela imprensa golpista, que afaga os identitários.
“Invadir” igrejas, atrapalhar cultos, não resolve o problema dos povos oprimidos. Mas a imprensa burguesa não faz uma condenação veemente porque esses identitários, que não têm percepção dos seus verdadeiros inimigos, são aliados dessa imprensa direitista que só quer promover uma política distracionista que não abale em nada os verdadeiros carrascos do povo negro.