O acesso dos moradores a prédios que abrigam escolas e vários projetos sociais localizados no altos das comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, assim como em outras comunidades no Rio de Janeiro, é dificultado ou impossibilitado pela inexistência ou má conservação dos elevadores nos morros. O conserto e/ou aquisição de novos elevadores foi requisitado, em 2021, pelo vice-governador do RJ, em ofício, como parte de urbanização e instalação de equipamentos sociais nas comunidades atendidas pelo então embrionário Projeto Cidade Integrada, um substituto das fracassadas UPPs. O projeto, principalmente em suas intenções “sociais” foi descrito pelo portal de notícias da burguesia G1, em 21/11/2021. Na época, a previsão para o início da implementação das ações do projeto era dezembro de 2021.
Naquela reportagem, somos informados pelo título de que: “Cidade Integrada: novo projeto de ocupação de comunidades prevê início por Muzema e Jacarezinho”. Delegacias foram destacadas para fazer levantamentos das “lideranças criminosas” da região, mapear o território que iria sofrer as intervenções do Estado, onde os próprios governantes afirmam que o Estado não está presente. As comunidades inseridas na política estatal de segurança pública são áreas onde milicianos e traficantes têm domínio sobre a população e suas relações econômicas e sociais.
Se no anúncio do projeto, há 9 meses, o lado “limpinho e cheiroso” do Cidade Integrada foi mostrado, o que a população experimenta no cotidiano do projeto em andamento é violência, uso excessivo do poder, crimes e intimidações. Nada de novos elevadores ou projetos educativos. Nada de incentivo ao trabalhador que mora nas comunidades, embora ainda exalte que o Cidade Integrada tenha boas intenções e vai fazer melhorias nas comunidades, em três fases de implementação, sendo a primeira de sondagem, a segunda de estudos e a terceira de ações sociais.
Reportagem do mesmo veículo de informação golpista afirma, em matéria de 19/08/2022, que: “Cidade Integrada: metade dos moradores relata que policiais invadiram casas sem mandato, diz pesquisa.” A reportagem traz dados obtidos por pesquisa junto a moradores do Jacarezinho, mostrando que 63% dos entrevistados já testemunharam ou foram vítimas de policiais que furtaram ou danificaram objetos de suas propriedades, sem mandato judicial, ou seja, de forma ilegal. Combater os criminosos intimidando e amedrontando moradores? Se for este tipo de presença que o Estado, através da Polícia, pretende intensificar nas comunidades do RJ atendidas pelo programa, seria melhor que nem existisse. De boas intenções, o inferno está cheio, e os morros estão exauridos pela força e constância da opressão violenta de bandidos e de PMs. O problema é que a ação dos PMs é uma ação de política pública, do Estado. As ações dos bandidos, não. Ou seja: a violência contra os moradores daqueles locais é duplamente reforçada pelos dois mais poderosos grupos que disputam o poder: PM e criminosos de várias espécies. Não há para onde fugir, se proteger ou recorrer, pois os acessos são limitados e difíceis, em todos os sentidos, desde a topografia dos locais até as resistências e integridades mentais, físicas e sociais dos moradores.
A pesquisa foi realizada por entidades como a Casa Fluminense, o Lab Jaca, o Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (GENI) da Universidade Federal Fluminense e o Instituto de Defesa da População Negra (IDPN) e contou com o apoio de várias organizações. A pesquisa foi organizada pelo Observatório da Cidade Integrada, que visa mapear o impacto do projeto nas comunidades. Dentre os 387 moradores ouvidos, 62% querem o fim do Cidade Integrada, iniciado em fevereiro de 2022, hoje com 7 meses de implementação. 69% dos moradores se sente mais inseguros com a presença dos agentes do projeto nas favelas. Para bons entendedores, esses números bastam. A cidade Integrada integra medo e insegurança a mais na vida dos trabalhadores do Jacarezinho e a maioria quer o seu fim.
Aparentemente, apenas uma etapa do Cidade Integrada foi realmente posto em prática: o costumeiro e habitual ritual de humilhação e violência de populares por agentes das forças policiais, dos PMs. Em estatutos e documentos oficiais, a função da polícia é a de proteger os cidadãos, mas essa proteção, na prática, torna-se perseguição. O que a PM defende são os interesses econômicos e políticos dos seus superiores e associados a eles. Eles defendem uma cerca de exclusão da população dos morros via intervenção militar e policial que é pura violência e terror. Para que os pobres e trabalhadores em geral sejam protegidos, a condição que se faz urgente é o fim da PM, órgão repressor do Estado.





