Tropas da PM ocuparam as ruas da comunidade do Jacarezinho, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, na manhã da última quarta-feira (19). O governo estadual afirmou dar início, assim, ao seu novo projeto de ocupação dos territórios urbanos da cidade, batizado como “Cidade Integrada”. Segundo a PM, a ocupação armada da comunidade terá a duração de, pelo menos, três meses. Foi no Jacarezinho que a PM cometeu, ano passado, a maior chacina da história da cidade do Rio de Janeiro, ao invadir, sem mandado, no dia 6 de maio de 2021, várias casas de moradores para torturar e matar, muitas vezes a facadas, 28 cidadãos que habitavam a comunidade, muitos deles sem qualquer passagem pela polícia. Relatos posteriores feitos pelos sobreviventes desta chacina revelam que a PM cometeu, contra os moradores do Jacarezinho, todo tipo de tortura, humilhação e intimidação imaginável, além de desfazer e manipular as cenas dos crimes cometidos para boicotar as investigações posteriores e sabotar a ação da justiça.
É esta mesma PM, uma organização que age de forma sistemática para reprimir violentamente o povo brasileiro, que será utilizada agora para ocupar, além do Jacarezinho, mais cinco comunidades da cidade do Rio de Janeiro: Muzema, Cesarão, Maré, Rio das Pedras e Cantagalo. Segundo a imprensa burguesa, trata-se de um projeto que promete levar, além das forças repressivas de segurança do Estado, iniciativas sociais para dentro dessas comunidades. Só que ninguém acredita mais nisso, já que as tristemente célebres Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) da época do ex-governador Sérgio Cabral Filho também foram vendidas para a população da cidade como a porta de entrada do Estado e dos seus serviços sociais (saneamento básico, asfalto, energia elétrica, reforma da propriedade urbana, educação e saúde gratuitas de qualidade, etc.) nas comunidades mais carentes da sociedade. Àquela época, a experiência ilusória das UPPs acabou sendo desmascarada por episódios infames como a tortura e o subsequente assassinato do pedreiro Amarildo Dias de Sousa – um morador da favela da Rocinha de 42 anos que foi sequestrado por policiais e morto nas próprias dependências da UPP local, com seu corpo desaparecendo em seguida.
Já está mais do que evidente para todos os brasileiros que têm um mínimo de apreço – não só pela democracia e pelo regime de direito, mas, sobretudo, por suas próprias vidas – que a ideia de uma “ocupação” virtuosa das comunidades e bairros mais pobres pela polícia militar não passa de uma falácia prejudicial e perigosa à própria questão da segurança pública. Não há instituição mais daninha à paz social e à tranquilidade da população do que uma polícia militarizada que se notabiliza, desde sempre, pela repressão impiedosa contra a população e pelo recorde mundial de mortes violentas, realizadas pela própria polícia contra a sua população, em um país que não está oficialmente em guerra civil, nem envolvido em nenhum conflito armado.
O fim da Polícia Militar é necessário. A população brasileira deve ter o direito à própria vida respeitado, e para isso é fundamental que as instituições estatais que contribuem para a sua miséria e opressão sejam totalmente abolidas. Em um governo dos trabalhadores, livre da opressão estatal patrocinada pelo crime, as próprias comunidades locais seriam orientadas a organizar suas unidades populares de autodefesa, resolvendo assim o problema da segurança coletiva sem submeter o cidadão ao poder autoritário e discricionário do estado e/ou de suas milícias privadas.