A grande imprensa capitalista nacional, neste segundo turno das eleições presidenciais, opera uma mudança de suas linhas editoriais em relação aos candidatos concorrentes, mostrando com isso, nas entrelinhas, a política adotada pelo Partido da Imprensa Golpista (PIG), como é também conhecida essa mesma imprensa. Bolsonaro era atacado pela imprensa com muito mais veemência pela imprensa capitalista durante o primeiro turno das eleições e mesmo um pouco antes, não sem razão é verdade.
Bolsonaro era apresentado como um grande risco para a maravilhosa democracia brasileira, um polo extremista e incompetende, houve até rumores de que um golpe militar poderia ocorrer caso não vencesse as eleições. A cada matéria exalava mais o odor da ditadura preso a Bolsonaro. Muitos elementos da esquerda, desde os oportunistas aos companheiros iludidos, creem que tratava-se e se trata de uma adesão de um amplo setor da burguesia, “civilizada”, à campanha do ex-presidente Lula, por rechaçar mais que tudo a ditadura.
O resultado do primeiro turno mostrou que não se tratava em absoluto disso, tão e somente, um setor da burguesia pretendia diminuir a votação de Bolsonaro, que já sabiam que seria alta, para com isso enfraquecer seu poder num futuro governo, tentaram abrir caminho para a candidatura da terceira via, o que foi inviabilizado pela polarização política do país, que não permitiu a redução da votação dos dois principais candidatos e que representam polos opostos. Agora, no segundo turno, a linha editorial adotada mudou.
Bolsonaro já não é mais o ser maléfico que aparecia na campanha da imprensa capitalista, a ideia de que planeja um golpe ficou para as calendas gregas. O fenômeno que ocorreu não se deve, evidentemente, à mudança na postura ou na política de Bolsonaro, que segue sendo o mesmo inimigo do povo que sempre foi, mas na posição da burguesia em bloco. O setor da burguesia que não apoio Bolsonaro e tentou emplacar a terceira via tende agora a passar para o apoio a reeleição de Bolsonaro, não podem fazê-lo, no entanto de maneira aberta e declarada, mais ainda a grande imprensa capitalista.
Tem que manter a imagem, muito arranhada, para dizer o mínimo, é verdade, de setor “civilizado”, passando abertamente para o bolsonarismo não teriam força para impor sua política ao governo, uma vez que ficariam sem base, já que o bolsonarismo não os apoia e passando para o lado do bolsonaro, a esquerda também não o faria. Assim a imprensa capitalista tem que apoiar Bolsonaro sem apoiar abertamente, isto é, devem atacar o ex-presidente Lula, mas sustentando a retórica de que Lula é mal menor.
Vejamos um caso paradigmático, um dos principais jornais da burguesia de São Paulo, o jornal Estado de S. Paulo (Estadão) tirou editoriais criticando os dois presidenciáveis, o tom, no entanto, é bastante distinto. Num editorial de 19 de outubro, o jornal critica Bolsonaro por desprezo das demandas femininas, por não operacionalizar o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, que visa assegurar a distribuição gratuita de absorventes para meninas e mulheres carentes. Segundo o governo, o programa esbarra nesse momento no defeso eleitoral, e o governo é criticado já que autorizou uma série de gastos no período eleitoral (com o estado de emergência). Uma crítica branda, nada excessivamente violenta.
No editorial de ontem (21), a crítica é dirigida agora ao ex-presidente Lula, o tom sobe exponencialmente. O editorial intitulado: “As piruetas retóricas de Lula”, procura agora colar em Lula, chamado de Chefão Petista entre outros, a etiqueta de ditador. Segundo o texto, Lula, que teria criado o fora de São Paulo com o objetivo de moderar a esquerda latino-americana, nas palavras do próprio, não teria logrado êxito e nem mesmo teria conseguido moderar o PT para caber no regime democratico. Cita o apoio de Lula a lideres da esquerda latina-americana e mundial a quem chama de ditadores. Sustentam que Lula e o PT estão fora do campo democratico, e que se são um mal menor em relação a Bolsonaro, são ainda sim um mal e dos grandes ou como diz o editorial:
“ Assim como outros próceres autoritários do Foro de São Paulo, o PT quando fala em democracia, que Lula agora se oferece para salvar, esta se referindo a um tipo muito peculiar de democracia – que o digam aqueles que tiveram sua reputação destruida pelos petistas porque ousaram questionar o Partido dos Trabalhadores e seu Grande Lider”.
Ainda, referindo-se aqueles que votaram e votarão no ex-presidente Lula por oposição a Bolsonaro:
“… Mas que seja um voto sem ilusão. Um novo mandato de Lula ( seu terceiro e o quinto do PT) bem pode ser, na atual conjuntura, um mal menor que o segundo mandato consecutivo de Bolsonaro. Ainda sim é um mal – e bem grande”
A comparação é flagrante, contra o atual governo, uma crítica corriqueira, contra Lula a acusação de ser antidemocrático, de querer uma ditadura. A situação é clara, a burguesia quer Bolsonaro, aquela que não pode falar em alto e bom som sussurra ou fla pela entrelinhas, como faz o Estadão.