Lula não assumiu a presidência ainda, no entanto, para a imprensa burguesa isso não faz muita diferença. Com o término do trabalho das equipes de transição em diversos setores governamentais, restou para ser definido o mais importante, como se dará de fato os recursos necessários para viabilizar todas as propostas econômicas de Lula. Ou seja, um ponto crucial para o novo governo e que entra em choque mais uma vez, com os interesses da burguesia brasileira e do imperialismo.
No Estado de São Paulo, um dos principais jornais da burguesia nacional e aquele que melhor expressa de maneira acabada o que pensa os grandes capitalistas brasileiros, o ataque à Lula é fulminante. Descrito como “um novo governo com velhas práticas”, o Estadão busca atacar dois pontos centrais do novo governo: o primeiro, a escolha de ministros ligados ao PT e de confiança de Lula, e o segundo, o programa de desenvolvimento econômico, uma das razões para que Lula fora eleito pela maioria da população.
Segundo o jornal golpista, faltaria supostamente à Lula “sensatez” ao escolher ministros que não são de agrado dos banqueiros e especuladores, o chamado “mercado”, e em relação a política fiscal, um dos maiores medos da burguesia brasileira.
Lula nesse sentido foi claro em toda sua campanha eleitoral, é necessário reindustrializar o país, e para isso é preciso atacar dois pontos fundamentais da política do golpe: o teto de gastos, visando melhorar a situação de vida da população, e o controle estatal das principais riquezas, sobretudo o petróleo visando o investimento e desenvolvimento da economia nacional.
A escolha de nomes de confiança por Lula, reforçam que o presidente eleito está decidido a seguir este caminho e passar por cima da vontade dos sanguessugas da burguesia e do imperialismo no País.
Segundo a imprensa, a mudança na Lei das Estatais e a possibilidade de voltar a nomear pessoas ligadas à partidos, seria um exemplo de “politicagem”, no entanto, é a maneira mais eficaz de quebrar com o controle das empresas privadas sobre as principais estatais brasileiras. Hoje no Brasil, o responsável pela estatal não pode ser de um partido, mas pode ser ligado à grandes corporações estrangeiras.
Além disso, o Estadão endossa a campanha feita pela burguesia em torno do Banco Central, um dos pontos mais críticos para a política econômica de Lula. O golpe agiu antes e garantiu Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central, que atualmente tornou-se “independente” do Estado, ou seja, colocado de maneira criminosa nas mãos dos bancos do imperialismo.
O jornal golpista, defende como “sereno” as declarações do presidente do BC, que já afirmou pretender manter a taxa de juros como está, ou seja, uma das maiores do mundo, forçando que os investidores, no lugar de investir na economia nacional, sejam direcionados ao capital especulativo.
Estes e outros ataques, que são um verdadeiro boicote ao novo governo, são as bases da campanha golpista contra Lula que a burguesia ensaia desde já. De maneira cínica, ainda afirma que “cuidar dos pobres é tarefa obrigatória”, ao mesmo tempo em que em defende toda a política neoliberal do regime golpista.
O jornal ainda afirma que “o mais preocupante é, na fotografia do novo governo, estarem em destaque velhos rostos que marcaram outras gestões petistas. Se eles continuarem tão velhos como seus retratos, talvez a preocupação do mercado financeiro tenha fundamento.” Ou seja, Lula deveria na realidade fazer um governo daqueles que não foram eleitos, e mais, que o próprio programa do qual foi eleito nas eleições deva ser rechaçado.
A burguesia a todo custo tenta controlar o novo governo do PT. O governo sequer começou de fato, mas a imprensa capitalista já prepara as bases para uma intensa campanha golpista. Até agora, fala-se em traição à terceira-via, que de nada serviu à Lula em toda a eleição, como também, se atacam os principais escolhidos pelo presidente eleito e seu próprio programa, escolhido por milhões de brasileiros neste ano, como uma resposta ao regime golpista e todos os ataques feitos ao povo. A campanha é cínica, e acima de tudo de boicote ao governo eleito.