O golpe de Estado no Peru, que derrubou o presidente Pedro Castillo no dia 07 de dezembro, se depara com uma resistência cada vez maior. As mobilizações, que começaram no dia do golpe após uma semana, se tornaram nacionais e cada vez mais radicais. Os sindicatos agora estão mobilizando os trabalhadores além de organizações rurais da população indígena. O governo golpista por sua vez reagiu violentamente, colocou o exército nas ruas, já são mais de 20 mortos nas mobilizações. Caso o movimento se amplie, o golpe pode até mesmo fracassar.
O presidente Pedro Castillo foi derrubado pelo Congresso Nacional do Peru em conluio com o judiciário, as forças armadas, o imperialismo e a vice-presidenta Dilma Boluarte, que assumiu o governo. Castillo no dia tentou fechar o Congresso golpista com o apoio das forças armadas, o que não ocorreu. Contudo essa política chegou a população, que tem como uma de suas principais reivindicações o fechamento do Congresso e a convocação de uma Assembleia Constituinte além da libertação do presidente Pedro Castillo.
Um fator que ficou mais claro foi a participação direta do imperialismo dos EUA no golpe de Estado. A embaixadora norte-americana Lisa Kena é uma ex-agente da CIA, onde trabalhou por 9 anos. No dia anterior ao golpe ela se encontrou com o ministro da defesa peruano, que por sua vez renunciou durante o processo golpista deixando as forças armadas atuarem contra o presidente Castillo. Está claro que o imperialismo foi crucial para garantir que as forças armadas estivesse ao lado do Congresso golpista e não do presidente que acreditou que poderia ter seu apoio e por isso decretou o fechamento do legislativo.
A embaixadora dos EUA no dia 13 de dezembro também se encontrou oficialmente com a presidenta golpista, deixando claro que o novo governo peruano está completamente alinhado com o imperialismo. O presidente deposto também publicou uma carta denunciando a participação dos EUA no processo: “a visita da embaixadora dos EUA ao palácio do Governo não foi de graça, muito menos a favor do país, foi para dar a ordem de colocar as tropas nas duas e massacrar o meu povo indefeso, e de conjunto, deixar o caminho livre para a exploração de minérios, como o caso do Conga, Tía Maria e outros”
Como em todos os golpes latino americanos a intervenção imperialista é fortíssima. Castillo não governou sob a mobilização da população e por isso não conseguiu sustentar o seu governo. Contudo isso não significa que o povo aceitou o golpe, na realidade a resistência cresce cada vez mais. No dia 15 de dezembro os sindicatos organizaram uma grande manifestação na capital peruano em defesa da libertação de Castillo e do fechamento do Congresso. Os trabalhadores foram reprimidos antes de alcançar o palácio do legislativo.
Os estudantes também estão mobilizados, a Universidade de São Marcos, a mais antiga da América do Sul, é o foco dos protestos. Dos 20 assassinados pela polícia nos últimos dias, a maioria eram jovens, o que ampliou a mobilização estudantil no país. As organizações do movimento estudantil também começam a defender o “Paro Nacional”, uma greve geral em defesa do fim do governo golpista de Dina Boluarte. Até mesmo o curso tradicionalmente mais reacionário da Medicina se colocou abertamente contra o governo golpista, principalmente contra a repressão.
As manifestações do dia 15 foram convocadas pela própria Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru, a maior central sindical do Peru. Essa ação de uma das principais organizações da classe operária peruano pode ser uma indicação de que a luta contra o golpe de Estado poderá ser organizada por uma direção capaz de levar o movimento à vitória. Na Bolívia, a resistência contra o golpe de 2019, que começou bem desorganizada, conseguiu derrotar os golpistas após um ano de mobilização. E os paralelos entre o Peru de 2022 e a Bolívia de 2019 são cada vez maiores.
Essas mobilizações acontecem em meio ao estado de exceção imposto pelo governo que impõe uma verdadeira ditadura nas ruas. Não só a polícia reprime violentamente os protestos como também as próprias tropas do exército peruano estão nas ruas para reprimir todos que se opõem ao golpe de Estado. Além disso, a prisão preventiva de Castillo já se estendeu de 7 dias para 18 meses, o que o torna inelegível para a próxima eleição. A presidenta contudo não parece estar sob o controle da situação, ela mais uma vez passou a falar em adiantar as eleições, agora para dezembro de 2023, dada a pressão das ruas sobre o governo.
O golpe de Estado no Peru é mais um ataque do imperialismo à América Latina. Um imperialismo decadente que se torna cada vez mais agressivo mas que tem cada vez mais dificuldade de manter o seu domínio. A única saída para o Peru está na mobilização popular, resta agora saber se existe uma organização capaz de organizar a classe trabalhadora para derrubar o governo golpista e tomar o poder. Em 2002 os trabalhadores venezuelanos derrotaram o golpe, os peruanos devem seguir o seu exemplo.