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Afonso Teixeira

Tradutor, formado em Letras pela USP e doutorado em Linguística com tese em tradução. Tem formação como músico, biólogo e cientista político.

Luto

Pelé, o maior do mundo

Morreu o maior de todos os tempos. O Rei descansa

Pelé morreu hoje, 29 de dezembro de 2022. A imprensa do mundo inteiro anunciou a morte dele. A BBC, a CNN, o der Spiegel alemão, o La Repubblica italiano, o Olé argentino, a RT russa, o Le Monde francês. Todos eles em primeira página. É o assunto de hoje no mundo. Porque Pelé não foi apenas um jogador ou um atleta. Foi um espetáculo.

Qualquer estatística de futebol que fizerem vai sempre colocar Pelé em primeiro lugar. Estranho é que se compare Pelé com jogadores como Cristiano Ronaldo e Messi, por exemplo. É injusto comparar qualquer um a jogadores que disputaram, na maior parte da vida, o campeonato espanhol, jogando pelo Real ou pelo Barcelona, as duas únicas equipes competitivas do país. Para termos uma ideia, apenas neste século de 22 anos, o Real Madrid ganhou 8 vezes o campeonato espanhol, apelidado La Liga. O Barcelona ganhou 10; o restante ficou com duas equipes. Não que essas equipes sejam extraordinárias. As outras é que são fracas. Ou seja, o campeonato espanhol é pouco competitivo; assemelha-se a um campeonato mineiro, gaúcho ou a outros estaduais brasileiros.

Mas o campeonato paulista e o carioca são diferentes: muito mais competitivos. No Paulistão, Pelé foi 11 vezes artilheiro, chegando a marcar, em 1958, aos 17 anos, 58 gols. Foi artilheiro por 9 anos seguidos. Num único ano, 1959, marcou 127 gols (sendo 44 no Paulistão).

Pelé foi três vezes campeão da Copa do Mundo de Futebol; duas vezes campeão intercontinental e da Libertadores da América; seis vezes campeão nacional; quatro vezes campeão do Torneio Rio-São Paulo (de nível muito superior ao Campeonato Espanhol); 10 vezes campeão paulista de futebol (o torneio regional mais competitivo do país); e vários outros títulos menores.

Uma última palavra sobre comparações entre jogadores de épocas diferentes. Pelé jogou numa época em que as chuteiras eram de couro, bem como as bolas de futebol. Na época de Pelé, os jogadores ganhavam muito menos do que ganham hoje. Os salários anuais de um jogador de ponta, hoje, giram entre 50 e 100 milhões de Euros por ano.

No entanto, quanto às regras, pouco no futebol mudou. Há quem diga que era mais fácil de jogar na época de Pelé pois, até 1970, não havia cartões no jogo. Mas o jogador podia ser expulso de campo pelo juiz. E Pelé era o mais caçado dentro de campo. Um outro pormenor: nos tempos de Pelé, tempos do bom futebol, era possível atrasar a bola para o goleiro; hoje não pode mais. E o futebol, com isso e outras pequenas mudanças, passou a ter placares mais amplos.

Mas o tempo de Pelé passou. O futebol tornou-se um empreendimento bilionário. A FIFA, que é o órgão internacional de controle do futebol privilegia o futebol europeu. Os bons jogadores brasileiros, uruguaios e argentinos pouco tempo ficam em seus países ou nos clubes que os formaram. Mal aparece um bom jogador, vêm os empresários do futebol para levá-lo para a Europa. E, quando chega a hora da Copa do Mundo, em que esses jogadores defendem seus países, têm a cabeça voltada para o lucro que a exposição e o desemprenho poderão lograr.

A verdade é que o futebol também se transformou nesse sentido. O jogador já vem perdendo o laço que o une ao país de origem. A França, por exemplo, que sempre teve um futebol medíocre, para formar uma equipe competitiva vai buscar jogadores em suas antigas colônias e nacionalizá-los, pela força do dinheiro. São os escravos negros do mundo corporativo.

Mas Pelé foi rei. O rei negro de um país dominado por brancos. Foi o rei do futebol, um esporte formado por negros, mulatos e brancos humildes, a maioria oriunda do proletariado. O jogador brasileiro aprende a chutar bola em campos de terra, de traves improvisadas, de bolas remendadas. São filhos das várzeas, das favelas, dos bairros pobres da periferia. O futebol é o esporte proletário. Ali, como moleque, Pelé conquistou o mundo. O que foi, depois do futebol, é pouco comparado com o que os craques de hoje em dia conquistam ainda como jogadores. Pelé tornou-se empresário, ganhou algum dinheiro e morreu confortavelmente. Mas tudo o que foi depois da bola não é nada comparado ao que era com a bola nos pés. Pelé era rei: o rei proletário.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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