Deus, por que fizeste isso conosco? Por que tiraste a vida do maior de todos os Teus filhos? Por que, meu Deus?
Admito que no último mês joguei o meu ateísmo para debaixo do tapete. Fui o mais fanático de todos os crentes. Mas minhas orações foram em vão. A raça humana está de luto. Os deuses choram.
Algumas pessoas dão graças a Deus por ter visto Pelé jogar. Eu não o vi. Mas dou graças a Deus só por ter tido a oportunidade de ouvir o seu nome, que será lembrado por séculos assim como é o de Cristo, Buda ou Maomé.
23 de outubro deveria ser um novo feriado de Natal. Um feriado mundial, mais do que é o 25 de dezembro. Porque, como é sabido, Pelé é mais conhecido ao redor do mundo do que o próprio Jesus Cristo.
Portanto, a História não deveria mais ser dividida em antes e depois de Cristo, mas sim em antes e depois de Pelé.
Alguns diziam que a bola era amiga de Pelé. Não. Assim como todos nós, ela era sua súdita. E a mais fiel. O que Pelé ordenava, ela fazia.
Um dos mais especiais de seus súditos, o gênio Neymar homenageou Sua Majestade dizendo que Pelé “deu voz aos pobres, aos negros e principalmente: deu visibilidade ao Brasil. O futebol e o Brasil elevaram seu status graças ao Rei!”
Foi a mais bonita homenagem que eu vi após a morte de Pelé. Uma das mais belas, ainda na época, é a de quem foi punido com a missão de marcar Pelé na final da Copa de 1970. “Eu pensei: ele é feito de carne e osso como eu. Eu me enganei”, disse o italiano Tarciso Burnigch.
Nelson Rodrigues, o grande cronista do futebol brasileiro, escreveu, na primeira vez que viu Pelé jogar, ainda em 1958: “quando ele apanha a bola, e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento.”
Mesmo que algum presidente do Brasil tivesse a ideia de mudar o nome do nosso país para Pelé, ainda assim a homenagem não estaria à sua altura. Nem mesmo se o planeta Terra se chamasse planeta Pelé. Até porque Pelé não era deste mundo, como atestam inúmeros atletas que estiveram em campo junto dele.
Como o mais fanático de todos os cristãos nos últimos trinta dias, vou esperar que, após o terceiro dia, Pelé ressuscite.
Não. Pelé não morreu.
O que morreu foi um pedaço de cada um de nós, brasileiros, terráqueos e extraterrestres.
Ele é eterno, assim como será a nossa saudade dele.