Edson Arantes do Nascimento estreou na Seleção Brasileira aos 16 anos e iniciou uma trajetória que o eternizaria como melhor jogador de futebol de todos os tempos, eleito Atleta do Século XX. Um negro brasileiro desbancou todos os grandes jogadores da sua época, ao ponto de se tornar uma unanimidade. Cerca de 50 anos após sua aposentadoria, novamente alguns gaiatos da imprensa imperialista tentam rebaixar o tamanho dos seus feitos.
Com a vitória da Argentina na Copa do Catar, diversas matérias foram publicadas decretando arbitrariamente que Messi seria o “maior da história”. Título que já haviam tentado atribuir a Cristiano Ronaldo, mas que depois do seu desempenho na última temporada ninguém mais lembra. Não foram poucos os candidatos a “novo Pelé”, que ganham notoriedade e uma enxurrada de textos de exaltação da noite para o dia e que somem com a mesma velocidade.
Um argumento que vem sendo consistentemente usado para tentar diminuir a importância do Rei é o de que o futebol na sua época era mais simples e que os marcadores não eram tão qualificados. Para quem nunca se deu ao trabalho, vale assistir algumas das várias coletâneas de lances de Pelé, mais especificamente coletâneas de faltas sofridas por ele. É até pesado de assistir, pois não foram poucos os carrinhos sofridos por trás, com a bola já longe, os marcadores nem tentavam pegar a bola, se atiravam covardemente nas pernas do craque brasileiro. Mais de uma vez, é possível ver o Rei sair de campo carregado e algumas vezes voltar mancando para o campo.
Para se ter uma ideia, os cartões amarelo e vermelho, utilizados para inibir a violência nos jogos, foram introduzidos pela Fifa na Copa do México em 1970. Apenas na sua última Copa, Pelé jogou com as novas regras, e mesmo assim apanhou bastante. Após a violência que o tirou da Copa da Inglaterra em 1966, Pelé estava convencido a não disputar mais uma Copa pelo Brasil. O futebol arte que encantava o mundo era caçado em campo, com a conivência dos árbitros.
E não precisamos ir muito longe para entender como isso funcionava. Ganhar uma Copa do Mundo é um feito extraordinário, que beneficia economicamente os países vencedores. Recentemente, pudemos acompanhar a campanha de ataques contra Neymar, chamado de “cai cai”. Um craque que, mesmo com a regra dos cartões amarelo e vermelho existindo há bastante tempo, tem sido caçado impiedosamente em campo, inclusive quase ficando paraplégico após falta sofrida na Copa do Brasil em 2014.
Pelé foi o suprassumo da ascensão dos negros no “esporte bretão”, algo que escapou habilidosamente do controle dos ingleses e outros europeus. A disciplina tática e preparo físico dos europeus sucumbiu ao futebol dos negros sul-americanos. Uma reviravolta no roteiro planejado para o futebol, algo que jamais conseguiram reverter e tentam amenizar importando jogadores africanos ou descendentes de africanos. Depois de coroado como Rei do Futebol, parece que seu caminho foi tranquilo, mas Pelé foi retirado através da violência das Copas de 1962 e 1966.
O craque teve que expandir seu leque de movimentos, para além do carinho com a bola que conquistou os amantes do esporte, aprendeu a revidar as pancadas. O maior time de todos os tempos, que vestiu a amarelinha no México, que definiu o Brasil como país do futebol, também sabia bater. Podemos até nos arriscar e imaginar que se isso não tivesse acontecido era capaz de até hoje não existirem os cartões amarelo e vermelho. Enquanto a gente só apanhava, estava tudo certo. Pelé jogou pelo Santos e pela Seleção contra os melhores jogadores e times do mundo, todos eles, e mesmo podendo bater a vontade não conseguiram conter seu futebol arte.
Pelé escreveu seu nome na história com um talento incomum, mas ao custo de muito sangue, torções e inchaços. Zagueiros badalados pela imprensa, como Bobby Moore e Franz Beckenbauer, não viram a cor da bola diante da majestade do esporte mais popular do mundo. Se Pelé fosse um pouco menos do que foi, ninguém hoje em dia lembraria do seu nome.