A preocupação dos Estados Unidos com a Amazônia ganhou manchete novamente na imprensa capitalista. Dessa vez, a alegação é a preocupação que os americanos têm com uma possível exploração da floresta pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).
Em entrevista aos jornalistas da imprensa cooptada, Brian Nelson, o subsecretário de terrorismo dos EUA, afirmou ter recebido informações assustadoras sobre a relação da organização brasileira com o garimpo ilegal de madeira na floresta amazônica. Segundo essa autoridade do tesouro norte-americano, o desenrolar de suas reuniões em Brasília e São Paulo com as autoridades de segurança brasileiras despertam preocupação com essa possível ligação entre o PCC e a mineração de ouro, principalmente, porque a mineração ilegal do ouro “pode gerar recursos para outras atividades ilícitas, dado o valor do ouro, quanto fornecer um meio para lavagem de dinheiro do narcotráfico”.
Vindo de um secretário norte-americano, faz sentido Brian Nelson ter propriedade para falar tanto de terrorismo, quanto de atividades ilícitas, lavagem de dinheiro e narcotráfico. De quebra, o subsecretário da potência terrorista fechou a sua entrevista falando que também discutiu com autoridades brasileiras um teto para o preço do petróleo russo que o Brasil negocia com o país liderado por Putin.
Uma visão existente em setores brasileiros, amplamente difundida pela imprensa capitalista, é a confusão provocada a respeito da política devastadora de Bolsonaro com a soberania nacional. Não é porque o fascista sentado na cadeira presidencial não apresenta nenhuma proposta para a Amazônia – além do confisco da sua riqueza, inclusive, por potências internacionais – que a defesa da internacionalização da Amazônia se torna menos direitista e reacionária.
Defender que a Amazônia, que já possui um alvo em seu peito na mira dos imperialistas, seja internacionalizada, significa enterrar o Brasil de forma definitiva no domínio daqueles que não souberam cuidar das suas florestas, das suas riquezas e promoveram os piores massacres no quintal dos outros.
Em meados de agosto de 2019, a Folha de São Paulo publicou um caderno especial elogiando o presidente francês por sua política sobre a Amazônia brasileira. O jornal não retrata Emmanuel Macron como o lobo em pele de cordeiro que é, ignorando que, apesar de já ter acenado com a esquerda, todas as medidas presidenciais foram tomadas com a mão direita. Pelo contrário. As inúmeras páginas defenderam que um possível interesse imperialista na Amazônia era uma verdadeira teoria da conspiração, elaborada pelos militares brasileiros e criada durante o regime militar estabelecido pelo golpe de 1964. Ou seja, uma verdadeira teoria da conspiração.
Sem irmos para um passado longínquo, podemos enumerar diversos países cujo imperialismo criou uma situação de crise e entrou com seus tentáculos em busca de recursos banhados de sangue dos civis que nada tinham a ver com seus interesses obscuros, como foi na Iugoslávia, antigo país que foi fatiado e separado pelo imperialismo em pedaços menores, mais fracos e, consequentemente, mais controláveis, provocando conflitos com graves crises humanitárias como a Guerra Civil da Bósnia. Seu esfacelamento foi provocado por motivos econômicos.
Outros exemplos são o Iraque, invadido por sua riqueza em petróleo e o continente africano como um todo, sendo o eterno palco de uma guerra constante promovida pelas potências imperialistas. Os próprios homens santos comedores de croissant, por exemplo, foram os responsáveis pela Guerra Civil de Ruanda, no massacre de uma etnia da população por outra, com mais de um milhão de mortos e participação direta dos soldados e da inteligência francesa. É válido lembrar que usar etnias contra a outra, como no caso de Ruanda, é prática comum ao longo da história por parte do imperialismo.
É óbvio, entretanto, que os capitalistas não derramarão o sangue de milhões de pessoas apenas para satisfazer seus interesses vis e dirão, de rosto lavado, que promoveram genocídios. Assim como na Ucrânia e no Sudão, todos os casos são apresentados sob uma máscara e, no caso brasileiro, a máscara da vez é o desmatamento e o medo de uma possível relação do PCC com o garimpo ilegal.
Foi no governo Bolsonaro que mais empresas madeireiras estadunidenses exploraram ilegalmente o solo amazônico, fazendo com que a preocupação de Brian Nelson e Joe Biden não passem de cinismo puro e barato. A criação de países artificiais é recorrente pelo imperialismo durante sua busca por explorar tais países atrasados, ou seja, defender que não exista o interesse na Amazônia é, no mínimo, uma falta de informação ou uma falta intencional com a verdade.
A esquerda cooptada deixou para a direita a pauta da soberania nacional, defendendo as posições mais reacionárias possíveis no tocante às nossas florestas. O problema, porém, é que os militares brasileiros podem falar, escrever livros, dar palestras e falar “integrar para não entregar”, mas não fazem e nunca fizeram nada pela proteção da Amazônia enquanto terreno nacional.
Na Amazônia vivem 25 milhões de brasileiros, sendo 250 mil índios. A mesma esquerda que afirma defender os direitos da população indígena defender que o lugar onde eles vivem, que já é atacado por latifundiários e pelas polícias, seja território internacional, é um alinhamento direto com os planos dos escritórios de Washington.
Somos um país continental e possuímos o alvo dos imperialistas em nossa testa. Preservar o que é nosso, garantindo uma exploração que cumpra com a satisfação dos anseios de cada trabalhador brasileiro é o dever de quem se diga revolucionário ou de esquerda. É dever de um nacionalista, caso assim o chame, ser veementemente contra qualquer intervenção externa na Amazônia, seja por meio das ONG’s imperialistas, das ações de secretários como Brian Nelson ou de fundos benevolentes das potências que apontam suas armas para nós. Afinal, quem paga a banda escolhe a música.