Enquanto as pautas identitárias dominam o imaginário da esquerda pequeno burguesa e colocam na ordem do dia reivindicações inócuas como cancelamento de músicas, uso de vogal neutra, classificação de gêneros etc., na vida real as “minorias”, neste caso, as mulheres, estão sofrendo com cortes cada vez maiores aos seus direitos materiais.
Em Sorocaba, mais de duas mil mulheres aguardam na fila para poder realizar um simples exame de mamografia. Sabe-se que desde de 2020 o número de procedimentos realizados caiu cerca de 60% junto com o valor destinado pela União às secretarias de saúde para a manutenção do procedimento que diminuiu cerca de 26% passando de R $49 milhões para R$36,5 milhões. Segundo a ginecologista oncológica do HUB-UnB Viviane Rezende de Oliveira, “Quando a gente lida com câncer, as estratégias começam pela detecção precoce, que é o caso da ultrassonografia e da mamografia, o principal exame quando a gente pensa em rastreamento. Sem a porta de entrada da atenção primária, as pacientes não vão chegar à consulta, os exames não vão ser solicitados e agendados, e a gente não consegue ter os diagnósticos” e ainda “Esse impacto a gente vai ver dentro de dois anos, quando começarmos a colher os frutos amargos dessa redução que a gente teve na assistência. Veremos mais pacientes com tumores mais avançados, o que leva a tratamentos maiores e mais caros para o SUS, com maior risco de reaparecimento desses tumores.”
A situação é crítica em quase todo o país, com filas de espera de milhares de mulheres querendo realizar a mamografia. Sabe-se que o número de mamógrafos não é suficiente para atender a demanda e ainda, que estão muito mal distribuídos ,com cerca de 77,8% dos municípios do país sem acesso a nenhum equipamento. Em todo o Brasil, são cerca de 5.000 mamógrafos disponíveis, quase metade desse número encontra se na região sudeste, enquanto por exemplo a região norte concentra apenas 6% desse total.
No que diz respeito ao tratamento quando da detecção de um nódulo, o problema persiste. É sabido que a chance de cura da doença quando detectada em seus estágios iniciais é de quase 95% se o período entre a detecção e o início do tratamento não ultrapassar 60 dias. Porém, uma pesquisa da fundação do câncer mostrou que o intervalo entre o diagnóstico e o início do tratamento não é obedecido em cerca de 70% dos casos atendidos pelo SUS.
A luta das mulheres nesse sentido deve ir muito além de ações como por exemplo o demagógico “outubro rosa”, campanha feita pela burguesia voltada para a conscientização das mulheres sobre a importância do exame de mama, precisa se pautar por reivindicações concretas como a luta contra o sucateamento do SUS promovido pelo golpe de estado e mais especificamente pela revogação da famigerada PEC do teto de gastos que congelou por 20 anos os investimentos em saúde e educação no País.