Se os deputados do Partido Trabalhista britânico (Labour Party) aceitam a ‘sugestão’ de não criticarem a situação político-econômica do Reino Unido por conta do luto pela morte da rainha, então não poderão criticar por conta da crise na Ucrânia; pela queda nas bolsas… Resumindo, não poderão criticar, pois sempre se poderá arrumar desculpas para que seja assim.
Keir Starmer, líder dos trabalhistas, orientou os parlamentares a limitarem suas declarações, ou mesmo postagens, até 19 de setembro, dia do funeral.
Ora, o custo de vida continua subindo e corroendo o orçamento dos trabalhadores no Reino Unido, não param de subir os preços quando alguém morre, nem mesmo a rainha. A vida segue e está bastante difícil entre os cidadãos britânicos, pois muitos já estão sendo obrigados a saltar uma refeição para poder pagar as contas de energia.
Dezenas de milhares de trabalhadores da Austria sairam às ruas contra os aumentos dos preços de energia e gas causados pela intervenção imperialista da OTAN na Ucrânia. O inverno Europeu será um crise gigantesca. pic.twitter.com/CtGm0ghPLC
— PCO – Partido da Causa Operária – (M) (@mpco29) September 17, 2022
A coisa é tão absurda, que os deputados foram aconselhados a que ficassem longe de Westminster (sede do Parlamento Britânico e também do prédio da Câmara dos Comuns), além de interromper as comunicações com seus eleitores, seja por e-mail ou boletins informativos.
Na verdade, o Partido Trabalhista liberou os parlamentares a se manifestarem nas redes sociais, desde que fosse para prestar homenagens à defunta e a seu extenso reinado de horrores. A coisa não para por aí, também foi sugerido que os deputados usassem roupas sóbrias (sombrias) no dia do funeral.
Repressão
Enquanto isso, a vida real não para, manifestantes foram presos por se manifestarem contra a monarquia.
Paul Poweland disse que foi ameaçado por agentes, quando ainda tinha um papel em branco, que seria detido se escrevesse ali “Ele não é o meu rei”. Os agentes alegaram que o prenderiam pela Lei de Ordem Pública, pois alguém poderia se ofender.
Um outro homem foi preso no Sul da Inglaterra por portar um cartaz escrito “Quem o escolheu?” Qualquer semelhança com o nosso STF não será mera coincidência.
Pessoas também foram presas na Escócia.
Ditadura
As repressões ao direito de expressão manifestam a crise pela qual o imperialismo vem passando, trata-se de uma necessidade de ‘manter a ordem’, ou seja, calar as pessoas. Os governos estão tão enfraquecidos que qualquer movimentação social provoca uma crise imensa.
A atitude do Partido Trabalhista é vergonhosa e só serve para dar ainda mais munição para a direita, que só se utiliza da ‘democracia’ quando lhe é conveniente.
A tendência de fechar os regimes apenas aumenta, e a capitulação de setores da esquerda apenas dará mais segurança para a direita impor essa política contra as classes trabalhadoras.
Perspectivas
Olhando o passado do Partido Trabalhista, o que vem por aí não pode ser coisa boa. Praticamente decretou falência quando Tony Blair, o poodle de George Bush, participou da farsa que levou à invasão e destruição do Iraque, uma das guerras mais sujas de que se tem notícia. Inventaram que Saddam escondia armas de destruição em massa, a despeito de inspetores da ONU negarem esse fato. Foi uma operação para roubar petróleo e tentar dividir o país, pois assim fica mais fácil de controlar.
No final das contas, nunca se descobriram as tais armas, quase um milhão de mortos (além dos milhões de feridos), a maioria civis, um enorme deslocamento humano produzindo um verdadeiro mar e refugiados.
O que é um refugiado? É uma pessoa que perde tudo e vira mendiga da noite para o dia. São pessoas comuns que perderam todas as suas posses em bombardeios e vão viver em alguma barraca e dependendo de caridade.
Blair havia assumido a liderança trabalhista graças ao acentuado giro à direita do Labour, coisa que vinha ocorrendo há décadas mas que progrediu com surpreendente velocidade e radicalização a partir do reinado de terror de Margareth Thatcher e sua política neoliberal. Isso representou um forte golpe contra os sindicatos, que sempre foram a base de sustentação dos trabalhistas. Dessa forma, a direita conseguiu se apoderar do partido e impor uma terrível linha neoliberal dentro da organização.
Recentemente houve um outro golpe dentro do partido e Jeremy Corbyn foi afastado da direção e está sendo perseguido. Portanto, nem surpreende tanto essa subserviência canina do Partido Trabalhista. Corbyn chegou a ser acusado de antissemitismo. Tudo isso porque ele, diante da crise política e econômica do país nos últimos anos, conseguiu se eleger líder do partido graças ao apoio dos sindicatos. Isso foi inadmissível para a ala dominante, de direita, ligada diretamente ao imperialismo. Na primeira oportunidade, aproveitando os vacilos centristas de Corbyn ─ que perdeu as eleições para os conservadores por não ter uma política clara com relação ao Brexit e à burguesia imperialista ─, encontraram um pretexto para afastá-lo da direção partidária.
Piora da economia
A atual primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, é um capacho no qual o imperialismo limpa os pés com vontade. Ela fez de tudo para se apresentar como a melhor pessoa para o cargo. Tem criticado a Rússia, a China. Foi dela a frase em um encontro na Alemanha, que dizia que a Otan deveria se tornar um aparato internacional, não apenas regional.
Essa foi uma ameaça direta contra os chineses, pois já existem vários acordos militares em andamento na região do Indo-Pacífico. Dias atrás, Liz Truss fez uma ameaça de que poderiam ser usadas armas atômicas para ‘defesa’. Porém, todos sabem que esse é um recado à China.
Liz Truss também visitou a Índia, a quem pediu para que se parasse a compra de combustíveis fósseis da Rússia. Mas teve seu pedido negado.
A tendência da situação na Europa e no Reino Unido é piorar. O inverno está chegando e a Rússia quer, com razão, que os embargos contra sua economia sejam levantados, caso contrário cortará o fornecimento de gás.
A eleição de Truss mostra que o imperialismo não vai voltar atrás, mas a economia está deteriorando rapidamente e a tendência das massas já se manifesta nas ruas. A capitulação do Partido Trabalhista pode indicar que, por um lado, haverá crescimento da extrema-direita que canaliza parte da revolta popular e, de outro, as massas podem passar por cima das atuais direções capituladoras.
Com o aumento da inflação, as massas estão se levantando e ocupando as ruas. Perigo à vista que pode levar ao confronto entre as classes trabalhadores e o imperialismo.