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Bloqueio a Kaliningrado

OTAN provoca novamente a Rússia, desta vez usando a Lituânia

País do Mar Báltico diz estar apenas cumprindo determinações ao proibir o trânsito de mercadorias sancionadas. Governo russo fala em agressão sem precedentes

_ Rafael Dantas, de Moscou

Enquanto a cidade de Donetsk, no Donbass, está sendo bombardeada diariamente pelas forças ucranianas, outra batalha se desenvolve a mais de 1.400 quilômetros ao Norte. Uma guerra comercial com alto potencial explosivo se desenrola entre a Lituânia e a Rússia.

Extensão das sanções

A companhia estatal de linhas de ferro da Lituânia, país-membro da OTAN, notificou no último dia 18 sua homóloga na região russa de Kaliningrado de que proibiria o trânsito de mercadorias como cimento, ferro e madeira, incluídas nas sanções impostas pela União Europeia contra a Rússia. Carvão e outros combustíveis são os próximos da lista, com sanções ao seu transporte previstas para agosto.

O território de Kaliningrado é um enclave russo, sede de sua frota  no Mar Báltico. Para alcançá-lo por terra, Moscou precisa enviar seus recursos através da Bielorrússia e da Lituânia. O bloqueio diminuirá pela metade a variedade de mercadorias que podem transitar pelas linhas de ferro lituanas e fará cair até quatro vezes o seu volume bruto. Forçaria a Rússia a fazer com que o envio de mercadorias importantes fosse feito pelo mar, a partir do Golfo da Finlândia, aumentando significativamente os custos. 

A marinha mercante que opera no Báltico a partir de São Petersburgo já afirmou que está pronta para conduzir o comércio por mar enquanto o bloqueio durar. O embargo levará ao estrangulamento econômico de Kaliningrado. O trânsito de pessoas e mercadorias não-sancionadas continua normal.

Comportamento agressivo

“Eles [a Lituânia] agem de modo agressivo. Eles saíram dos limites das linhas hostis, ultrapassaram mesmo os limites da conduta contrária ao direito internacional. Eles se comportam [de maneira] agressiva e hostil”, disse Maria Zakharova, representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, em um programa na TV russa.

O quinto pacote de sanções europeias contra a Rússia foi introduzido em abril de 2022. Ele estava dirigido justamente a prejudicar o transporte de cargas, mas Kaliningrado era uma exceção. Acordos haviam sido assinados em 2004, garantindo a entrada da Lituânia na União Europeia na medida que não interferisse no trânsito de mercadorias para o enclave russo no Báltico.

“Espero que os representantes da Lituânia ainda tenham algum profissionalismo remanescente na avaliação da situação […] Eles devem entender as consequências – e as consequências, infelizmente, virão”, afirmou Zakharova (RIA Novosti, 21/6/2022).

O Ministério das Relações Estrangeiras da Rússia se manifestou exigindo que as autoridades lituanas suspendam imediatamente as restrições classificadas por ele como “abertamente hostis”. O embaixador russo na União Europeia foi chamado a Moscou nesta terça-feira (21) para discutir as medidas a serem tomadas.

Reação russa

“A Lituânia bloqueou Kaliningrado por terra e, nós, com o apoio da Bielorrússia, podemos responder na mesma moeda. Mais ainda, todo o Bálitco sofrerá, portos locais serão tornados completamente inúteis”, explicou à agência de notícias russa RIA Novosti o editor da revista Arsenal da Pátria, Alexei Leonkov.

Segundo a mesma agência, um economista, Leonid Khazanov, propõe que ao bloqueio de transportes pode ser acrescentado o bloqueio energético. “Há um terminal de processamento de gás liquefeito em Kaipeda. Sua capacidade é de quatro bilhões de metros cúbicos. Se a Rússia parar de vender o combustível azul aos lituanos, não somente esta empresa, mas toda a indústria local dependente dela seria paralisada sem dispararmos um tiro”, disse.

Especialistas ouvidos pela imprensa russa, no entanto, se dividem entre os que acreditam que a rusga sobre o transporte de mercadorias russas não levará a uma ação militar em breve, e os que consideram que as negociações, sanções e contrassanções de ambas as partes não levarão a nada, já que a Lituânia se declarou capaz de passar sem o gás russo em abril. 

Analistas em diplomacia e relações internacionais ainda depositam esperanças em que as contradições internas do bloco europeu apresentem oportunidades de negociação que possam apaziguar a situação.

Segundo algumas avaliações, uma saída negociada só poderia se dar contornando o governo da Lituânia, que já deixou claro que apenas cumpre o papel de pára-choques dos interesses da União Europeia. “Esta não é uma decisão da Lituânia”, disse o ministro das Relações Exteriores do País, Gabrielius Landsbergis. “Estas são sanções europeias que entraram em vigor no dia 17 de junho, e as ferrovias estão agora aplicando as sanções” (Southfront, 21/6/2022).

O governo russo deixou claro, por meio do porta-voz presidencial Dimitri Peskov, que considera ilegal a decisão das autoridades lituanas. 

O ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, afirmou que “se o trânsito de mercadorias entre Kaliningrado e o resto do território da Federação Russa por meio da Lituânia não for completamente restabelecido em breve, então a Rússia se reservará o direito de tomar medidas em defesa de seus interesses nacionais” (‘Lituânia está ilegalmente bloqueando Kaliningrado’, InfoBrics, 21/6/2022)

O chefe do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, afirmou nesta terça-feira (21) que haveriam “sérias consequências” para os lituanos “no futuro próximo” (The Guardian, 21/6/2022).

Uma saída militar não está descartada

Considerando o conflito armado em andamento no Donbass há oito anos, desde o golpe da Praça Maidan na Ucrânia, para muitos observadores internacionais uma solução negociada parece ser apenas uma etapa no aumento das tensões militares já em andamento.

Andrei Klimov, chefe do Conselho da Comissão para a Proteção da Soberania da Federação Russa, afirmou que a União Europeia precisa corrigir a situação do bloqueio de Kaliningrado. De acordo com ele, a OTAN está começando a bloquear a Rússia usando as mãos da Lituânia. “Isto é uma agressão direta, forçando o recurso à autodefesa” (20/6/2022).

O editor do canal do Telegram, Intel Slava Z, agregador de notícias especializado em conflitos militares, geopolítica e no noticiário internacional, afirma que a esta altura os tratados são inúteis. “Tudo aquilo que cuja violação gera benefícios [para a União Europeia] será violado. Não faz sentido apegar-se a papéis neste momento”.

“A ruptura deste bloqueio pela força e a solução do problema do ‘corredor polonês’ significa, primeiro, uma guerra convencional e, então, nuclear, com a OTAN. Daí que se fale cada vez mais sobre a ‘capacidade de armas nucleares de dissuasão’ [tradução livre para ”nuclear deterrence”] de modo a tentar manter este cenário dentro dos limites de uma guerra convencional”.

Atualização: Vilnius pode apelar à OTAN por tropas e armas

A agência RIA Novosti informa que o diplomata e ex-secretário de Relações Exteriores lituano, Albinas Januszka, declarou em suas redes sociais face ao conflito que

“É válido tirar vantagem da ‘crise do trânsito [de mercadorias em] Kaliningrado’ para provar à OTAN de que não precisamos sequer de uma brigada, mas pelo menos uma divisão, além de defesas aéreas antimísseis significativa. Nossos políticos (ministros) da defesa têm falado disso mais de uma vez. E eles precisam estar localizados fisicamente na Lituânia porque … de acordo com o artigo quinto da OTAN, a OTAN inteira deve defender a Lituânia, e não apenas uma brigada na Alemanha …. a Lituânia, queira ou não, recebeu os argumentos, então vamos usá-los”

A crise no país do Báltico pode, como se vê, facilmente ser usada para intensificar o cerco militar à Rússia com o deslocamento de tropas e armas para a fronteira com a Bielorrússia, aumentando a tensão em uma clara preparação para uma guerra.

Para muitos especialistas militares, são movimentações que colocam o planeta mais próximo da Terceira Guerra Mundial.

Veremos.

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