Durante as eleições, é muito comum que surjam candidatos engraçados e exóticos, que, por conta de características peculiares, chamam a atenção do eleitor. E uma das táticas mais comuns para ser eleito a algum cargo é chamar a atenção, independentemente do motivo — estratégia que pode ser resumida na famosa máxima da grande poeta brasileira Melody: “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”.
Os jingles eleitorais — aquelas músicas feitas para divulgar uma candidatura que não saem da sua cabeça de jeito nenhum — são um dos principais meios de se divulgar uma candidatura através da escatologia. Além disso, elas também podem ser uma forma de explorar a despolitização de um determinado setor social e conseguir votos com isso — tal qual fez o Tiririca, que chegou a ser o deputado federal mais votado de São Paulo com o slogan “pior que tá, não fica; vote no Tiririca” (sic).
Em 2022, Tiririca voltou a concorrer para deputado federal, impulsionando a sua candidatura com um jingle paródia da música “O portão” de Roberto Carlos, cujo refrão é “Eu voltei, aqui agora é meu lugar”. Na apresentação de Tiririca no horário eleitoral gratuito, ele encena o episódio em que o Roberto Carlos mandou um fã calar a boca. “Eu votei, de novo eu vou votar. Tiririca, Brasília é o seu lugar”, diz Tiririca. “Tá falando o quê? Você nem sabe o número dele”, diz uma voz do fundo, que é respondida pelo comediante: “Cala a boca, bicho! Ô cara, cala a boca! Respeita o rei”.
Já no Rio de Janeiro, teve até mesmo paródia da música “We will rock you” da banda Queen. O jingle foi produzido pela campanha da candidata a deputada federal Chris Tonietto e pelo candidato a deputado estadual Márcio Gualberto, ambos do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. O jingle dos cariocas dizia: “Chris Tonietto! 2214! Márcio Gualberto,
22070! Contra o PT, comunismo e socialismo, quero essa ideologia na lata do lixo! E, agora, é com você, decidir isso também, por isso dia 2 de outubro vote assim, meu bem! Chris Tonietto!”.
E não foi só para as eleições proporcionais que os jingles criativos foram lançados. Também foi para as eleições majoritárias, mais especificamente para a Presidência da República, que esse fenômeno ganhou forma, mas de um modo um pouco diferente. Trata-se do jingle extraoficial de Jair Bolsonaro, presidente do Brasil e candidato à reeleição. Não foi ele, nem a sua campanha quem fez o jingle, mas, sim, Juliana Bonde.
Juliana Bonde é famosa no Instagram e é bastante conhecida por fazer letras de músicas com duplo sentido. Ela decidiu apoiar Bolsonaro e, com a ajuda de sua equipe, produziu ela própria um jingle para o presidente da República, cujo refrão era: “Ele só quer trabalhar com menas gente”. “Se precisa de quatro, ele contrata três; se precisa de cinco, ele contrata quatro; se precisa de seis, ele contrata cinco; é muito difícil trabalhar com Bolsonaro, porque ele só quer trabalhar com menas gente”.
Por falar em duplo sentido, lembremos também que Kid Bengala foi candidato a deputado federal em São Paulo pelo União Brasil, partido que lançou Soraya Thronicke — que foi dona de uma rede de motéis — para a Presidência do Brasil. O candidato a deputado tinha como slogan o termo “pau para toda obra” e lançou, como jingle, uma versão da música Bella Ciao: “Vai dar pau, vai dar pau”, dizia o jingle.
Ele, apesar de nunca ter sido eleito, já foi candidato nas eleições em outras ocasiões. Em 2014, ele foi candidato a deputado estadual e sua campanha foi embalada pelo jingle “33 cm para avançar”, que era uma paródia do jingle Lula lá — ao invés de “Lula lá”, tinha-se “Benga-lá”.
Além deles, o candidato a deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, André Barros, lançou uma campanha em defesa da maconha. “Maconheiro, não deixe para depois, aperta o verde, 5042”, dizia o refrão, além de coisas do gênero de: “Essa guerra tem que ter um fim/Ninguém nunca morreu por fumar um baseadin” (sic), “Contra a proibição, eu grito legalize já”, etc.
Enfim, a campanha identitária do deputado maconha totalmente ridícula e desesperada por votos produziu este jingle absurdo, expondo a decadência da esquerda pequeno-burguesa. Todos esses jingles citados demonstram como, atrás dos votos, os candidatos burgueses e pequeno-burgueses se sujeitam a qualquer coisa, até mesmo à completa ridicularização de si próprios.