Aclamados pela imprensa golpista como os grandes bastiões da democracia, os Estados Unidos estão sofrendo com a maior crise social e econômica das últimas décadas. A propaganda estadunidense de que o american way of life seria o melhor estilo de vida para as pessoas já não consegue mais emplacar.
Como resultado do aumento vertiginoso dos preços dos alimentos e combustíveis, dos mais de 550.000 moradores de rua pelo país e de outras catástrofes humanitárias enfrentadas pela maior potência ocidental, a reputação do seu governo caiu perante os eleitores. Segundo a pesquisa de Harvard CAPS-Harris Poll, 71% dos eleitores acreditam que Joe Biden não deve buscar a reeleição para a presidência.
As pesquisas mostram, inclusive, que o antigo presidente Donald Trump, quando colocado contra o atual, apresenta uma vantagem considerável nas intenções de voto. A aprovação de Biden já era baixa, mas a escalada dos conflitos na Europa fizeram com que os EUA pagassem internamente com a sua reputação pelas consequências de suas medidas. Enquanto o número de pessoas nas ruas aumentou, por exemplo, quarenta bilhões de dólares foram enviados para os segmentos de linha de frente dos nazistas ucranianos. A base eleitoral que sustentaria um governo popular em situações de crise não existe nos países imperialistas.
O capitalismo funciona com mecanismos de opressão sofisticados, garantindo a eleição de presidentes e parlamentares que defendam seus interesses escusos por meio da manipulação do voto dos eleitores. Em 2020, seguindo a linha da imprensa capitalista, tanto a esquerda pequeno-burguesa brasileira quanto os segmentos identitários dos Estados Unidos acreditavam que a eleição de Joe Biden era uma questão humanitária. A situação foi apresentada como uma luta entre o fascismo, representado por Trump, com a frente democrática em prol dos trabalhadores, representada por Biden – com amplo foco em sua vice negra.
O pavio já estava exposto, mas o fogo foi ateado com o decorrer da operação especial russa no território do Donbass. As tentativas de atingir a economia da Rússia e a popularidade de Putin no país saíram totalmente pela culatra com as sanções impostas pelos EUA. O chefe do executivo russo buscou o diálogo sobre as possíveis reações à aproximação da OTAN com a sua fronteira, tentando negociar inúmeras vezes com os imperialistas mesmo depois do golpe na Ucrânia – com o único interesse de atingir a Rússia. Enquanto os governantes estadunidenses ignoraram todas as buscas por diálogo, internamente, a população sofre.
As sanções demandaram um alto investimento dos países da OTAN no geral, mas esse aumento foi ainda mais expressivo nos Estados Unidos. Assim como a classe média busca ser dominante e questiona os gastos excessivos de Joe Biden, a classe operária segue em um momento delicado por ter sido tão abandonada pela esquerda local ao longo dos anos.
As pautas identitárias e outras menos relevantes para o trabalhador, política imposta como prioridade pelos veículos de imprensa, afastam os operários da esquerda tradicional, fazendo com que uma parcela migre para o trumpismo justamente porque, mesmo também sendo parte central do sistema capitalista, faz demagogia com a situação dos trabalhadores.
Se as pesquisas refletirem a realidade, 71% das pessoas não querem que Biden tente a reeleição, enquanto 60% querem que o ex-presidente também não tente. O recado que a atual conjuntura política nos dá é direto: caso os ataques à Rússia continuem, as sanções não sejam interrompidas e o imperialismo continue mostrando suas garras, o já decadente capitalismo terá um embate ainda mais prolongado em território europeu, fazendo com que a situação interna piore e cada vez mais trabalhadores se levantem contra o governo vigente colocado pela burguesia como a salvação da democracia burguesa.