Elementos anônimos nas redes sociais, que buscam indispor os militantes do PT com o PCO em um momento da campanha eleitoral em que o Partido da Causa Operária vem redobrando os seus esforços para mobilizar o povo pela vitória de Lula, iniciaram uma campanha de calúnias contra o Partido a respeito de sua posição no segundo turno em São Paulo.
Acusam o PCO de se aliar com os bolsonaristas por não apoiar Fernando Haddad e decidir que irá votar nulo na eleição paulista. Reproduz-se, assim, o mesmo discurso caluniador e fantasioso promovido há algum tempo por setores da esquerda identitária vinculada à CIA, que, curiosamente, acusa o PCO de ser uma quinta-coluna da direita infiltrada na esquerda.
O principal argumento seria de que o adversário de Haddad é Tarcísio Freitas, um bolsonarista que, portanto, faria um governo muito pior para a população paulista do que Haddad. Mesmo que Haddad não fosse o melhor candidato da esquerda, em um caso como esse seria óbvio que qualquer um que se considera de esquerda deveria votar nele para que o bolsonarista não vencesse ─ eis a opinião de nossos críticos. Um perfil chegou a fazer uso de chantagem da mais baixa qualidade ao dizer que Tarcísio trará a milícia de volta para São Paulo e o PCO não teria se comovido com isso. Um terrorismo político que não vai funcionar com o PCO.
Voltamos, mais uma vez, ao argumento do “mal menor”, da “civilização contra a barbárie”, da “democracia contra o fascismo”.
O problema é que o PCO não age conforme esse “raciocínio” que, em última instância, é um raciocínio desesperado e irracional. O PCO segue a política de Lênin e dos bolcheviques, como explicou o líder revolucionário a respeito da posição dos comunistas nas eleições:
O que nos importa não é assegurar por meio de negociatas um lugar na Duma. Ao contrário, estes lugares só são importantes na medida em que possam contribuir para desenvolver a consciência das massas, elevar o seu nível político, organizá-las, não em nome da placidez filisteia, da «tranquilidade», da «ordem» e da «prosperidade pacífica (burguesas)», mas em nome da luta, da luta para conquistar a plena libertação do trabalho de toda a exploração e opressão. Só nesta medida são importantes para nós os postos na Duma e toda a campanha eleitoral. O partido operário deposita todas as suas esperanças nas massas, mas não em massas atemorizadas, que se submetam com passividade e tolerem resignadamente a opressão, mas em massas conscientes, que reivindiquem e lutem. O partido operário deve desdenhar o habitual método liberal de intimidar o filisteu com o fantasma do perigo das centúrias negras [os bolsonaristas da época]. A social-democracia deve despertar nas massas a consciência do verdadeiro perigo, a consciência da verdadeira tarefa de luta das forças que não veem na Duma a fonte de inspiração, que não consideram os debates na Duma como a plena expressão das suas aspirações, nem resolvem na Duma o problema do futuro da Rússia. ─ Lênin (Os comunistas e as eleições)
As eleições realmente são um período especial. Todos os políticos bandidos, pistoleiros, assassinos, estupradores, coronéis, traficantes etc. transformam-se em santos milagreiros. Os hackers que tudo invadem tornam-se inofensivos diante da inviolável urna eletrônica. A eleição, que nunca resolveu minimamente os verdadeiros problemas dos trabalhadores, passa a ser a única solução para tudo. Esse é o pensamento da maioria da esquerda brasileira.
Para o PCO, entretanto, a eleição nada mais é do que uma extensão das atividades cotidianas de seus militantes. O PCO não se comporta na eleição diferente de como se comporta fora dela, ao contrário de todos os outros partidos ─ que, após passarem quatro anos sem fazer nada pelo povo, apresentam-se em 45 dias como os grandes salvadores da nação, mesmo os da esquerda.
Nesse sentido, é preciso resgatar um pouco da história recente do PCO. O Partido fez intensa campanha e votou em Lula nas eleições de 1989, 1994 e 1998, porque Lula era um candidato que expressava, mesmo que de maneira confusa, a mobilização da classe operária em sua luta contra a burguesia. Em 2002, no entanto, diante da iminente explosão social com a crise neoliberal e a revolta das massas, o imperialismo teve de fazer um acordo com o PT e apoiou a eleição de Lula para que ela contivesse o movimento das massas. Portanto, naquela eleição, o PCO lançou candidatura própria e votou nulo no segundo turno quando Lula disputou com José Serra (PSDB), porque Lula não trazia consigo o movimento operário na tendência de enfrentamento com a burguesia. O mesmo sucedeu em 2006 e depois com Dilma Rousseff (que sequer era uma representante do movimento operário, ao contrário de Lula) em 2010 e 2014 ─ mesmo que, no segundo turno de 2014, Dilma tenha dado uma guinada à esquerda para vencer Aécio Neves. E também com o próprio Haddad em 2018, contra Bolsonaro.
O que muitos companheiros não entendem é que o compromisso do PCO é com a classe operária, não com algum político ou partido. E quando uma candidatura não expressa os interesses da classe operária, logicamente não terá apoio do PCO. Mesmo que venham chantagear o Partido com o argumento do “mal maior vs. mal menor”.
Nenhuma ameaça das centúrias negras em relação à Duma causará tanto prejuízo quanto a corrupção da consciência das massas que acompanhem cegamente a burguesia liberal, as suas palavras de ordem, as suas candidaturas, a sua política. (idem)
É exatamente o que ocorre com Fernando Haddad. Ao contrário do Lula de 1989, 1994, 1998 e 2022, ele não representa a classe operária. Mesmo o Lula de 2002 e de 2006, embora estivesse comprometido com a burguesia, ainda tinha um histórico de luta dentro do movimento operário, tendo sido metalúrgico, líder sindical, fundador da CUT etc. Haddad, por outro lado, é um membro da pequena burguesia que, mesmo sendo de sua ala progressista, expressa os interesses dessa classe social, e não da classe operária. O próprio Lula já afirmou que Haddad é “o mais tucano dos petistas”.
Como um partido marxista e revolucionário, portanto, o PCO não poderia votar e fazer campanha para um tucano de esquerda. Trata-se de uma questão de princípios políticos e ideológicos. E o PCO nunca abrirá mão de seus princípios e de suas convicções.
Na sua campanha eleitoral, o partido operário deve ser independente, não apenas nas palavras, mas de fato. Deve dar a todo o povo, e em particular às massas proletárias, um exemplo de crítica fiel aos princípios alheios, firme e audaciosa (Idem)
Alguns companheiros, principalmente do PT, esquecem-se, em suas críticas, que o PCO é um partido independente do PT. Portanto, tem a sua própria política. Se tivesse a mesma política do PT, não haveria razão para ser um outro partido. Tendo sua própria política, a política marxista e revolucionária, o PCO jamais poderia ter a obrigação de se comprometer com uma política diferente da sua. E a política do PCO é participar das eleições para elevar a consciência política e organizar o movimento do proletariado. O PCO não tem a obrigação em votar em nenhum candidato que não seja os seus próprios candidatos, porque, sendo um partido operário, apresenta candidaturas operárias e populares, aquelas que representam verdadeiramente os setores oprimidos da população, inclusive sendo geralmente oriundos desses mesmos setores. Apenas por alguma exceção um partido operário poderia apoiar candidaturas de outros partidos, caso elas expressem esses mesmos interesses que o partido operário defende, ou seja, os interesses do proletariado. Esse é o caso da candidatura de Lula, e apenas dela.
Isso não significa que o PCO fará alguma campanha contra Haddad, coisa que nunca fez. O PCO critica os posicionamentos de Haddad, como se aliar a Alckmin na repressão ao movimento pelo passe livre em 2013 ou se aliar aos golpistas no ataque ao governo venezuelano. Mas, embora não vote em Haddad, o PCO não o está atacando como inimigo dos trabalhadores, ainda mais em uma eleição em que o adversário é alguém da direita ─ que vem sendo denunciado pelo Partido como o candidato preferido da burguesia neste segundo turno em São Paulo, inclusive com o apoio do PSDB.
O PCO vai ainda mais longe: caso Haddad fosse eleito governador e mais para a frente a burguesia tentasse derrubá-lo, o Partido seria certamente o primeiro a se colocar contra esse golpe, como comprova o seu histórico: o PCO foi o primeiro a denunciar o golpe contra o PT já em 2012, quando ninguém do PT imaginava que, quatro anos depois, Dilma Rousseff seria deposta. O PCO foi quem mais mobilizou seus esforços para evitar esse golpe, assim como para evitar a prisão de Lula. Quando a direita estava em sua campanha golpista contra Dilma, ela fez o mesmo contra o governo petista de Fernando Pimentel em Minas Gerais, tentando um processo de impeachment contra ele. O PCO denunciou isso como um golpe ilegal em sua imprensa e lutou contra isso, mesmo não tendo votado em Pimentel e mesmo não apoiando as suas políticas, pois também ele era um político pequeno-burguês que não expressava os interesses dos trabalhadores. Mas o PCO sabia que, assim como foi feito contra Dilma, um golpe contra um governador do PT pela direita seria exatamente para atacar os trabalhadores com uma política ainda mais agressiva e a luta contra esse golpe poderia ─ ao contrário da eleição desses políticos ─ colocar os trabalhadores em movimento contra a direita e a burguesia.
Ao contrário dos outros partidos de esquerda, o PCO tem princípios e é coerente com eles. O PCO não apoia candidaturas da boca para fora apenas para abocanhar cargos. Tanto é assim que o PCO nunca exigiu absolutamente nada de Lula para o apoiar. Nem mesmo faz parte da coligação do PT. E mesmo assim é o partido que mais distribuiu materiais chamando voto no candidato petista.
É preciso reforçar novamente que os ataques ao PCO a respeito da eleição em São Paulo têm uma clara intenção fraccionista e ultra sectária que, em última instância, servem para dividir o movimento de luta dos trabalhadores por Lula Presidente, precisamente em um momento em que o PCO está imprimindo milhões de materiais que podem ser distribuídos não apenas pelos seus militantes, mas por toda a esquerda que quer fazer campanha por Lula, como estão fazendo muitos companheiros do PT.
A luta mais importante neste momento de toda a esquerda nacional e dos trabalhadores é para eleger Lula presidente. É preciso focar nessa luta e não cair em provocações que desviam a luta, porque, isso sim, serve aos interesses da direita e do bolsonarismo.