Ideólogo de um conservadorismo “tradicional” da extrema direita brasileira, a influência do guru de Bolsonaro sobre uma parcela da juventude se deu no vazio intelectual e político deixado pela esquerda pequeno-burguesa “multiculturalista”, inimiga do marxismo revolucionário.
Conquistou esses méritos ao declarar guerra ao pensamento acadêmico “de esquerda” e criticar à sua maneira caricata os professores de humanidades acusados por ele de fomentar um “marxismo cultural” onipresente em todas as instituições da sociedade.
Anticomunista convicto, tripudiou em cima do “multiculturalismo” (a que podemos chamar também “ecletismo”) tão característico dos intelectuais pequenos burgueses de esquerda. Mirou no que viu e acertou no que não viu.
Do “marxismo cultural” de que falou ele, cabe aqui tirar a lama e a sujeira depositada não só por ele na primeira parte da expressão – o marxismo.
Teoria Crítica
O termo “marxismo cultural” é um bicho papão criado por ideólogos de direita no estrangeiro, com a ajuda dos professores, politicólogos e politiqueiros carreiristas de esquerda. É um nome desabonador para a chamada Teoria Crítica, esse sim o título escolhido pelos próprios pais da matéria, cuja origem remonta à chamada Escola de Frankfurt.
Não é marxismo, tampouco revolucionário. Trata-se do conjunto vasto e muito variado de ideias derivadas das obras de Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse e muitos outros pretensos “críticos”, “renovadores” ou “superadores” do marxismo a partir da década de 1930.
O fio da meada que se estende dos primeiros “teóricos críticos” do marxismo, passa por outros dois nomes de uma geração seguinte, bastante influentes no pensamento acadêmico dos dias de hoje, Jürgen Habermas e Walter Benjamin. Paro por aqui para não nos alongarmos numa lista sem fim, que reuniria muitos outros, mais que um por dia no ano, que nos revelaria as raízes do pensamento dominante no meio da esquerda pequeno-burguesa da atualidade – seja lá qual for.
Temos falado bastante das ideologias de tipo “identitário” ou “de gênero”, colocadas em evidência pelos “teóricos críticos” atuais do marxismo no meio da esquerda. Elas são um aspecto parcial, um componente, do que a direita e Olavo de Carvalho chamam “marxismo cultural”, e a que poderíamos chamar de “ideologia da esquerda pequeno-burguesa”, por falta de uma expressão mais breve.
Precisando resumir o que pensa essa fauna diversa da esquerda pequeno-burguesa sobre o marxismo, diríamos que… bem, em última análise, é o mesmo que a direita pensa.
Citemos um exemplo: para um espécime desta fauna, a propaganda do marxismo feita pelo Partido da Causa Operária, por exemplo, é uma tentativa de “iludir jovens idealistas com seus sonhos aloprados de revolução”. Notem bem que não foi Olavo de Carvalho quem disse isso, mas uma Cynara Menezes, a “socialista morena”.
Marxismo
A “Teoria Crítica”, o “marxismo cultural” e quejandos não são a filosofia dos revolucionários da classe operária a quem, desde meados do século 19, cabe abrir caminho para uma etapa superior do desenvolvimento da humanidade.
Qual deve ser a “filosofia” dos revolucionários, se é que podemos chamar assim o pensamento de Karl Marx, quem escreveu que “os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo”? Qual? O marxismo, oras.
Que a juventude, interessada em entender o que se passa na sociedade, não se engane: o marxismo é toda uma concepção de mundo. Não são nomes e conceitos que se escolhem como convém de um cardápio intelectual, como costumam dar a entender os professores de humanidades e seus discípulos tagarelas malformados.
Há muito mais que se conhecer do que as poucas páginas do Manifesto Comunista. Muito mais! É a assimilação e superação do iluminismo, da filosofia materialista mecanicista, da economia política clássica, do socialismo utópico. O marxismo é o ápice do desenvolvimento da compreensão do mundo elevada às alturas gigantes como Marx, Engels, Lênin e Trótski.
O marxismo é, mais além de um conjunto de ideias, um guia para a ação revolucionária. É o que os que o desenvolveram chamaram “socialismo científico”. É aquilo de que a burguesia, aterrorizada com os resultados da revolução proletária do início do século 20, tem verdadeiro horror.
Teoria revolucionária
Como guia para a ação, há muito o que ler, muito o que conhecer, muitos exemplos a estudar na história do movimento operário, das lutas de classes, na história, que nada mais é que a política em tempos passados, para entender e atuar no presente.
Essa é uma das chaves para compreender porque a “ideologia” professada por Olavo de Carvalho e seus discípulos foi (e é) influente a ponto de erguer tanto uma camada de intelectuais de meia tigela, quanto de imbecis completos. Pescou na água turva e parada que intelectuais pequenos burgueses que não empolgam ninguém criaram à sua volta na busca por cargos e fama.
Com sua morte, esses últimos esperam agora terem rido por último do “filósofo” dos imbecis, como Ruy Castro riu quando disse: “morreu Olavo de Carvalho. Considerado um imbecil pra todos os filósofos e um filósofo pra todos os imbecis.”
Não basta, no entanto, o chiste, por mais espirituoso que seja. Que têm a oferecer os “filósofos” que não se consideram imbecis para resolver as questões que realmente importam, para solucionar os grandes problemas da humanidade, superar a sociedade fundada na exploração do homem sobre o homem? Talvez pouco mais que isso: chistes.
De piadas, ri-se. Outros virão. Há muito de ridículo nas teorias denominadas “marxismo cultural”, tanto quanto há de inócuo. Olavo de Carvalho morreu, mas a última risada não foi dada.
É da teoria viva da revolução, da ditadura do proletariado e do comunismo que os donos do mundo e seus penas de aluguel têm medo – não das ideias adaptadas ao capitalismo e das frases inócuas críticas a ele do “marxismo cultural”.