À medida que as eleições se aproximam, define-se mais claramente qual será o embate final deste ano. Os candidatos se resumem a três opções: a terceira via (Doria, Leite ou outro), Bolsonaro e Lula. Apesar de ainda nebuloso, o panorama atual permite-nos tirar algumas conclusões.
A terceira via não está morta
Diversos setores da esquerda brasileira, quando não maliciosos, simplesmente confusos, têm levado a frente a tese de que a terceira via não seria viável. Para sustentar tal teoria, utilizam as pesquisas da burguesia como base, afirmando que a situação se coloca definitivamente como um embate entre Lula e Bolsonaro.
Entretanto, é preciso ir um pouco mais a fundo para, de fato, tirarmos conclusões verossímeis acerca da situação política brasileira.
O fato é que a burguesia, por meio da imprensa burguesa, ainda não cessou seus ataques contra Bolsonaro. Diariamente, são publicadas dezenas de matérias que, quando não denunciando algum escândalo no governo, simplesmente alfinetam Bolsonaro por não ser neoliberal o suficiente.
Nesse sentido, se a terceira via fosse realmente inviável, a burguesia teria voltado toda a sua artilharia contra Lula para, então, eleger Bolsonaro. Por sua vez, essa constatação decorre diretamente de duas observações:
Primeiro, não existe vazio na política. Ou seja, não existe situação em que a burguesia representante da terceira via estivesse inerte, aquém da situação política concreta. Pelo contrário, como classe, ela age segundo interesses claros, sempre visando o seu favorecimento. Em segundo lugar, a burguesia não apoiaria Lula. Finalmente, ele sofreu um golpe da mesma para, justamente, colocar Bolsonaro no poder. Sua eleição representaria, nesse sentido, uma derrota importante do golpe.
Dito isso, fica claro que a burguesia brasileira procura emplacar alguém como Macron, que nas vésperas da eleição diz que aumentará a taxa sobre as aposentadorias do povo. Ou seja, um representante da política neoliberal no executivo, algo que não condiz com a situação de Bolsonaro, tampouco de Lula.
Levantamentos da burguesia: uma oficina de contos
Acima de qualquer coisa, é preciso ficar claro que as pesquisas eleitorais divulgadas pela imprensa capitalista não representam a realidade. Antes de tudo, mostram a realidade que a burguesia quer, ou seja, são utilizadas como armas políticas para justificar determinada ação da burguesia.
Por isso, quando olhamos o nível de rejeição atribuído a Lula e a Bolsonaro, ambos consideravelmente elevados, devemos interpretá-lo como um planejamento da burguesia. Nesse sentido, ao que tudo indica, esses números seriam mais uma prova de que os capitalistas querem passar a perna nos dois principais candidatos destas eleições. As pesquisas entrariam, portanto, como meras justificativas: seria plausível que tal candidato se apresentasse como uma alternativa já que ambos os principais são odiados pela maioria. Algo nesta linha.
Bolsonaro, o fantoche perfeito
O principal elemento de toda a situação política, para a burguesia, é Bolsonaro. Se ele é tão rejeitado, da forma que as pesquisas mostram, então é perfeito para ir até o segundo turno, justamente por não ganhar de nenhum outro candidato. Ou seja, é um token que seria utilizado para garantir a posse de um candidato da terceira via, seja por meio da manipulação – o mais provável – ou não.
Bolsonaro está (tecnicamente) empatado com Lula
Nesta segunda-feira (25), foi divulgada mais uma pesquisa eleitoral, desta vez por parte das empresas FSB/BTG. Na pesquisa espontânea, ou seja, aquela em que é perguntado ao eleitor a sua opção de voto sem a apresentação de uma lista de candidatos, Bolsonaro está em segundo lugar, com 30% dos votos. Enquanto isso, em primeiro, está Lula, com apenas 36% dos votos.
À luz destes dados, deve ficar claro que, na vida real, eles estão pau a pau. A situação não está tão favorável assim à Lula, a diferença de 6 pontos percentuais deixa isso muito claro. Afinal, 6 pontos é, praticamente, a margem de erro. Considerando esta que, para a pesquisa em questão, foi de 2 pontos percentuais, a diferença entre os dois candidatos pode ser de apenas 4%. Um verdadeiro desastre para a esquerda.
E mais: esses 30% de Bolsonaro representam, com muita acurácia, os verdadeiros índices do presidente golpista. Afinal, ele já está sendo muito atacado, é extremamente improvável que desça mais do que isso, mesmo com a manipulação da burguesia imperialista. Ou seja, de qualquer forma, com 30% dos votos, Bolsonaro vai para o segundo turno.
É exatamente o que aconteceu na França: uma corrida apertada entre 3 candidatos, o que facilita a inserção de um elemento da burguesia no segundo turno. Em outras palavras, fabricariam uma alternativa da terceira via, colocando tal candidato no mesmo patamar que Lula e Bolsonaro. Dessa forma, seria mais fácil inserir este elemento no segundo turno para, então, ganhar a eleição após derrotar Bolsonaro.
Bolsonaro já entendeu. E o PT?
Apesar de extremamente incauto, Bolsonaro não é ingênuo. Ele próprio já mostra entender qual a manobra da burguesia e, por isso, está se preparando para garantir a sua reeleição. Enquanto isso, o PT, profundamente confuso, continua acreditando que a saída para a crise se dará por meio do endireitamento da campanha de Lula, com a participação de Alckmin e Paulinho da Força, por exemplo.
A grande diferença é que Bolsonaro, ocupando o Palácio do Planalto, tem todo o aparato de que precisa. Além disso, tem dinheiro e os militares nas mãos. Ou seja, ele sim tem como fazer com que os votos de sua base sejam efetivamente convertidos em um impulso eleitoral. Por outro lado, o PT não possui esta facilidade. Pelo menos de maneira imediata, não consegue fazer com que seus votos rendam.
Justamente por isso que a candidatura de Lula precisa de um apoio concreto e massivo nas ruas. Finalmente, é a única forma de frear a manobra da burguesia e emplacar um candidato do povo. Bolsonaro já está fazendo a sua parte para inflamar sua base, enfrentando, por exemplo, o próprio STF. Lula deve fazer o mesmo e, o quanto antes, lançar uma imensa mobilização popular contra o golpe.