Os grupos de esquerda que se intitulam stalinistas se apegam às loucuras sectárias e contrarrevolucionárias dos pseudo-trotskistas. Baseado nessa política, que nada tem a ver com trotskismo, esses grupos acusam o trotskismo de estar aliado ao imperialismo. É uma desonestidade intelectual que segue à tradição dos tempos da burocracia soviética stalinista. No Brasil, um partido novo chamado Unidade Popular (UP) faz propaganda do stalinismo, inclusive promovendo canais no YouTube que ficam requentando as velhas calúnias stalinistas contra Leon Trotski e o trotskismo.
É interessante que olhando mais detidamente os grupos que se dizem stalinistas, vamos reconhecer neles traços comuns com aquilo que eles criticam nos pseudo-trotskistas. Isso mostra que a esquerda pequeno-burguesa, independente dos rótulos que ela mesma se dá, tem características bastante comuns dadas justamente pela classe social a qual ela pertence.
Em seu jornal, A verdade, a UP defende a campanha do imperialismo contra o governo iraniano no caso da morte da jovem curda de 22 anos, Mahsa Amini, no último dia 16 de setembro. As acusações, amplamente divulgadas pelos jornais imperialistas, é a de que a polícia moral iraniana teria assassinado a jovem, que foi detida supostamente pelo uso incorreto do véu. O governo iraniano negou que a morte tenha ocorrido por conta da abordagem policial, alegando que a jovem teria tido um problema cardíaco.
Independentemente dos motivos reais da morte de Mahsa Amini, o fato desencadeou uma campanha internacional contra o governo do Irã. Nada novo se comparado às campanhas imperialistas contra os governos nacionalistas dos países atrasados. A demagogia em torno do problema da mulher não poderia causar dúvidas em ninguém. Mas o identitarismo é a isca perfeita do imperialismo para pegar esquerdistas de classe média. A matéria da UP afirma que: “A morte de Mahsa representou um ataque direto às mulheres, desencadeando grandes mobilizações ininterruptas por todo o país há cerca de um mês, com as mulheres sendo linha de frente (…) As manifestações que têm ocorrido no Irã são um grande exemplo de rebeldia popular de como o povo está cansado desse tipo de política”.
Passado mais de um mês do ocorrido, não nos parece ininterruptas as mobilizações. A esquerda pequeno-burguesa acredita na propaganda imperialista.
A UP tem a mesma posição dos grupos trotskistas que ela tanto critica, no fim das contas, é a mesma posição do imperialismo. O governo iraniano é uma ditadura, que deve ser derrubado, o povo está revoltado, as mulheres são oprimidas. São acusações sem conteúdo, que não levam em conta os problemas reais. Não levam em conta a luta de classes internacional. É apenas uma repetição das afirmações feitas pelos agentes do imperialismo contra um governo inimigo, que nesse momento, inclusive, fornece instrumentos para a Rússia na guerra na Ucrânia.
A UP explica sua posição pró-imperialista
A posição expressa na matéria do jornal A verdade não é algo isolado. A política da UP contra o governo iraniano e de alinhamento ao imperialismo é antiga.
O sítio do jornal A verdade reproduziu uma nota do Partido do Trabalho do Irã, em 2020. Esse partido, ligado à UP, explica sua posição golpista no país, fazendo o típico malabarismo teórico da esquerda oportunista.
Com o título “A Derrubada da República Islâmica é Dever do Povo Iraniano!”, os aliados da UP no Irã tentam explicar que, embora sejam favoráveis a derrubar o governo, assim como o imperialismo, eles não estão juntos com o imperialismo. É de fazer inveja ao PSTU.
A nota reconhece que o imperialismo está infiltrado em várias organizações oposicionistas iranianas e que há uma política para derrubar o governo ao estilo das chamadas “revoluções coloridas”. Diz a nota:
“não representam hoje uma verdadeira oposição, mas sim a representação dos interesses estrangeiros no país, que utiliza o descontentamento geral das massas com o governo como meio de legalizar moralmente um golpe de estado entre o povo. Assim, através de seus movimentos, utilizam a palavra de ordem reacionária ‘todos juntos pela derrubada da república islâmica!'”
Mas o Partido do Trabalho, a UP iraniana, não “se intimida”. Quer para si o comando da derrubada do governo e acusa outros grupos da esquerda, que não diz quais são, de “colaboracionismo ao Estado e governo burguês” por se “abster da luta política”. A nota não explica exatamente qual é esse “abstencionismo da luta política”, mas pela acusação podemos supor que ela se refere a grupos que se recusam a fazer uma aliança prática com o imperialismo para derrubar o governo.
“Para o Partido do Trabalho, é impensável não ser a favor da derrubada de um regime como a república capitalista islâmica, pois ‘para salvar a sociedade iraniana e a humanidade não podemos aceitar mais o capitalismo, mas sim devemos abraçar o socialismo.’ Diz-se isso, pois ‘a palavra de ordem deixa claro que a oposição progressista no Irã é contra a República Islâmica e quer derrubá-la’, deixando claro ao mesmo tempo, obviamente, que ‘não está disposta a aceitar a agressão imperialista contra o Irã.'”
Ao melhor estilo “fora todos” do “trotskista PSTU, a UP quer derrubar o governo iraniano, mas não estar junto com o imperialismo. Um contorcionismo teórico que dá ao grupo o trófeu pró-imperialista do momento. Para fazer justiça, quando o PSTU defende as posições imperialistas, normalmente o faz com uma falsificação dos fatos.Transformam um golpe numa revolução ou revolta popular. Já a UP elabora uma teoria reacionária para justificar a suas posições reacionárias.
No Brasil, por exemplo, para defender a queda de Dilma Rousseff, o PSTU afirmava serem populares as manifestações coxinhas promovidas pela burguesia e assim formulavam defendia o “Fora todos”, ou melhor, “Fora Dilma, Aécio, Temer”. Para quem está no Brasil não é difícil perceber o absurdo dessa política. Caiu Dilma e o PT e os golpistas estão aí até hoje.
A UP iraniana reconhece que o imperialismo quer derrubar o governo. Mas a UP iraniana também quer derrubar o governo, mas não quer estar junto com o imperialismo. É possível isso? Claro que não! Se há um golpe de Estado em marcha, a classe operária precisa lutar contra esse golpe do imperialismo, o que consequentemente leva a uma frente única com o governo que está sendo derrubado. Se a UP quer derrubar o governo, está junto com o imperialismo nesse momento, que é quem quer derrubar o governo, segundo ela mesmo admite.
Esse é o caso das supostas revoltas das mulheres iranianas hoje. São promovidas pelo imperialismo, mais ainda, são pura propaganda imperialista. Esse é o ponto que precisa ser denunciado. Mas a UP, seguindo sua aliada no Irã, quer derrubar o governo do País e se junta, na prática, com o imperialismo. Ao invés de fazer uma frente única contra o imperialismo, acaba fazendo uma frente única com ele.




