O gênio da bola é brasileiro

O provincianismo e o colonialismo da imprensa no caso Pelé

Burguesia e classe média brasileiras não valorizam os feitos do maior personagem do País e perdem mais tempo procurando e inventando defeitos

Pelé está internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Como é comum quando se trata de personalidades famosas, as notícias são muito desencontradas, para dizer o mínimo.

Alguns órgãos de imprensa divulgaram que ele estaria em tratamento paliativo, pois a quimioterapia não está mais fazendo efeito para o câncer no cólon descoberto em 2021. As filhas do jogador apareceram desmentindo a informação de que Pelé estaria em estado terminal, afirmando em entrevista ao fantástico da Rede Globo que a internação é resultado de um problema respiratória em decorrência de uma infecção por Covid na semana anterior.

Impossível saber exatamente qual a realidade do caso, mas uma coisa é fato: a maneira como a imprensa nacional trata o caso de uma das mais importantes personalidades brasileiras de todos os tempos revela muito sobre como a burguesia brasileira trata seu próprio povo e seu próprio País.

Muitas pessoas podem confundir-se com isso. A importância de Pelé é impossível de ser escondida. A burguesia usou e usa, de várias maneiras, a figura do ex-jogador para determinados interesses específicos. Mas isso não quer dizer que há um tratamento à altura da importância de Pelé.

Pelé é reconhecido por todos como um gênio do futebol. Se levarmos em consideração que o futebol é o esporte mais popular do mundo e que no Século XX o esporte tem uma importância universal que não tinha no passado, Pelé é o esportista mais importante da história da humanidade. Ele é o cume de um  esporte que foi trazido pelos europeus e reformulado pelos brasileiros de tal maneira que acabaram por criar algo novo, uma arte, exportada para o mundo todo. Pelé é a personificação disso tudo.

Esse personagem importantíssimo para a história do mundo é brasileiro, negro e vindo da pobreza.

A mentalidade provinciana da burguesia brasileira não permite que se dê o devido valor a essa figura.

Desde que Pelé ainda jogava, muitas coisas se falam contra o Rei do futebol. Todas elas têm origem na própria burguesia brasileira, que por ser de um país atrasado, tem como modelo e segue os gostos e a orientação da burguesia imperialista.

Essa mentalidade ao mesmo tempo colonial e provinciana faz com que a burguesia menospreze as coisas do País. Ainda mais se for um negro retinto e pobre. Vem daí muitas das coisas que falam contra Pelé.

A pequena burguesia de esquerda que repete tais coisas está apenas sendo uma correia de transmissão dessas ideias. Nesse sábado, por exemplo, dia em que o estado de saúde de Pelé foi noticiado como mais grave, o DCM publicou uma matéria para atacar o Rei do futebol trazendo à tona o caso da filha que Pelé supostamente não assumiu. O artigo não tem nenhum compromisso jornalístico, serve apenas para avacalhar com Pelé e pior, num momento em que ele enfrenta uma doença grave.

Logicamente que esse problema da filha supostamente rejeitada por Pelé é uma acusação antiga. Segundo a própria matéria do DCM, Sandra Regina (a filha) apareceu em 1991 no programa sensacionalista “Aqui Agora” no SBT, reivindicando ser filha do ex-jogador. Para quem não se lembra ou não era nascido na época, esse programa foi uma espécie de precursor na televisão de programas atuais como o de Datena, ou seja, um programa em geral com características bem reacionárias. O que chama a atenção é que a matéria do DCM não leva isso em consideração em nenhum momento.

Esse tipo de acusação contra Pelé é muito comum contra os jogadores brasileiros. Neymar é alvo da mesma campanha. O objetivo é trazer algum caso fora de campo, verdadeiro ou não, para afetar a importância que aquela pessoa tem naquilo que faz, no caso, jogar futebol.

Se Pelé tem uma filha, duas, três ou quatro que não reconheceu e rejeitou isso não tira a importância dele naquilo que fez. Ele é o gênio do futebol mundial, como dissemos acima, ele é o atleta mais importante da história.

O fato de ser brasileiro deveria ser motivo de orgulho, mas o provincianismo de nossa imprensa impede que as coisas tenham o valor que merecem.

Outra acusação contra Pelé é a de que ele era “amigo da ditadura”. Uma série produzida pela Amazon Prime, chamada “Jogo da corrupção”. Uma produção suspeitamente norte-americana, em parceria com Chile e Argentina, a pretexto de falar da trajetória do ex-presidente da FIFA, João Havelange, mostra Pelé como um indiferente às atrocidades da ditadura militar e ainda o pinta como “mimado, inocente e irresponsável” (qualquer semelhança com o que falam de Neymar hoje não é coincidência).

Sobre as últimas acusações nem temos o que falar a não ser que foi esse suposto “mimado, inocente e irresponsável” que ganhou três Copas do Mundo. Sobre a ditadura, é fato que Pelé tenha sido indiferente, mas primeiro que a acusação não muda nada em relação ao jogador que ele foi e, segundo, o que revela a mentalidade perniciosa dos acusadores, 99% dos jogadores do mundo foram indiferentes com atrocidades cometidas em seus países ou nos países dos outros. Mas parece que só Pelé seria obrigado a enfrentar o regime. Só essa ideia de enfrentar o regime é absurda por si só.

Mas notem que a acusação feita na séria produzida por norte-americanos é a mesma que muitos esquerdistas de classe média fazem a Pelé.

Ao invés de valorizar o feito desse brasileiro, a burguesia e a classe média perdem tempo procurando o motivo para torna-lo inferior ao que é. É daí que vem a comparação de Pelé com outros jogadores como Maradona. Para quem vê e gosta de futebol e não está com a capacidade mental totalmente debilitada pela propaganda capitalista, a comparação de Pelé com Maradona é um ultraje. Maradona é um craque argentino, Pelé é um gênio do futebol mundial.

Tal comparação é outra demonstração do provincianismo da burguesia e da classe média brasileira. Quem sofre com isso é o povo que é obrigado a assistir impassível a essas demonstrações deploráveis.

Pelé é o Rei do futebol e esse rei é negro e brasileiro, homem vindo do povo. É isso que temos que valorizar, as coisas que ele realizou e as que se propôs a realizar são um patrimônio da cultura brasileira e mundial.

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