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Quando acabarão as ilusões?

O Judiciário não vai combater o “assédio eleitoral” dos patrões

Somente a ação independente dos trabalhadores poderá frear essa ofensiva e a CUT precisa chamar greves em todas as empresas onde há "assédio eleitoral"

O companheiro Sergio Nobre, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), deu uma entrevista à agência de notícias portuguesa Lusa esta semana em que abordou o chamado “assédio eleitoral”, a coação feita pelos capitalistas para que os trabalhadores votem em seu candidato, a saber, em Bolsonaro, e não em Lula.

“Numa eleição polarizada como essa, o uso da coerção econômica, porque é disso que se trata, de chantagem por parte dos empresários para assediar os trabalhadores e exigir que votem em Bolsonaro, é crime eleitoral e tem de ser barrado”, disse o líder sindical. “É necessário mais agilidade na apuração e punição do assédio eleitoral contra a classe trabalhadora, prática que atende aos interesses da campanha de Bolsonaro”, afirmou ainda.

Assim, seriam as instituições burguesas, em particular o poder judiciário, quem combateriam Bolsonaro. Tal como a esquerda cansou de pedir ao longo destes quatro anos. Só que aqui o problema é ainda maior, uma vez que trata-se de uma organização operária pedindo que a burguesia combate Bolsonaro a favor da classe operária. Por que ela faria isso?

Nobre está certo ao dizer que essa coerção, denunciada mais de mil vezes para o Ministério Público do Trabalho, consiste em crime eleitoral. Mas o mesmo judiciário que salvaria os trabalhadores de Bolsonaro simplesmente lavou as mãos para tudo o que Bolsonaro tem feito nesta campanha eleitoral, como a compra de votos com a utilização da máquina pública e a disseminação em massa de mentiras contra Lula. Mais do que isso: o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu às prefeituras a decisão de liberar ou não o transporte gratuito no dia da votação e, sendo a maioria dos municípios controlados pela direita golpista e bolsonarista, isso já está sendo usado para liberar o transporte onde a possibilidade de Bolsonaro vencer é maior e impedir o passe livre onde a possibilidade de Lula vencer é maior.

Essa é uma crença disseminada há muito tempo pela esquerda, a de que as instituições farão alguma coisa contra Bolsonaro ou contra a extrema-direita fascista. Esquece-se que foram elas mesmas as que possibilitaram a ascensão do bolsonarismo quando todo o aparato estatal nacional se mancomunou para derrubar a então presidenta Dilma Rousseff no impeachment fraudulento de 2016, na prisão de Lula e, de forma incontestável, eleger Bolsonaro ao impedir a participação de Lula, que era o favorito para vencer em 2018.

Ninguém logicamente tem a mínima esperança de que o Judiciário apure e puna “agilmente” os crimes de coação patronal contra os empregados. Faltam quatro dias para o segundo turno. Nada será feito. Se depender do Judiciário, os patrões obrigarão todos os empregados a votar em Bolsonaro e sairão ilesos. É muito possível ─ até mesmo provável ─ que nem depois das eleições alguma coisa seja feita.

Também é imprecisa a afirmação de que a coação patronal “atende aos interesses da campanha de Bolsonaro”. Não se trata de uma ação somente de Bolsonaro ou dos bolsonaristas mais fanáticos. É uma ação de classe, do conjunto de uma classe social, dos capitalistas. Uma ação para evitar a vitória do candidato dos trabalhadores, que é Lula, e para viabilizar a vitória do candidato da burguesia e do imperialismo, que é Bolsonaro.

A esquerda acredita que é possível, nesta altura do campeonato, separar Bolsonaro da burguesia. Apesar de todas as provas cabais de que Bolsonaro é o candidato da burguesia e que a burguesia está promovendo um verdadeiro golpe eleitoral para elegê-lo, a esquerda não enxerga que trata-se de uma representação fiel da luta de classe o que estamos vendo neste segundo turno.

Acredita-se que a burguesia, ou ao menos uma parte dela, seria democrática, civilizada. Por isso pensa-se que esses casos de “assédio eleitoral” são praticados exclusivamente por Bolsonaro e pelos bolsonaristas radicais. É também por isso que Nobre pede às instituições burguesas para que barrem esse golpe eleitoral.

Não. Estão todos alinhados. A ação de Bolsonaro e dos patrões bolsonaristas é a ação coordenada da burguesia e do imperialismo. Ao contrário do que diz Nobre (“Os patrões estão coagindo e pressionando os trabalhadores porque Bolsonaro sinalizou que eles fizessem isso”), os patrões não estão fazendo isso pressionados por Bolsonaro, mas sempre fazem isso.

O que era o voto de cabresto senão a coação para que o povo trabalhador votasse nos candidatos da oligarquia e da burguesia? Por acaso ao longo de toda a história eleitoral do País, os patrões deixaram de utilizar seu poder econômico absoluto em suas fábricas e empresas para vencer as eleições?

“Desse jeito e nesse volume, reunindo funcionários e dizendo a eles que têm de votar no Bolsonaro, se não vão perder o emprego e a empresa vai fechar, é inédito e gravíssimo”, acredita Nobre. É gravíssimo, absolutamente. Mas não tem nada de inédito. Isso sempre ocorreu. Mesmo quando as eleições eram disputadas entre dois candidatos burgueses isso ocorria. Ainda mais quando, desde 1989, a nível presidencial, têm-se na disputa um candidato oriundo da classe operária, como Lula, ou de um partido vinculado aos trabalhadores, o PT, como Dilma e Haddad.

O companheiro dirigente da CUT diz que “é a parte do empresariado mais retrógrado que faz isso, o empresário que tem tradição de negociação, que tem diálogo com o movimento sindical não entra nisso, mas esses são minoria”. É um equívoco. Todos os patrões fazem isso, de uma maneira ou de outra. Seja de forma direta ou de forma indireta. De forma “objetiva” ou “subjetiva”, como ele mesmo diz. Porque, como dissemos, essa é a mobilização de uma classe social de conjunto, não de empresários isolados. Se são mais de 1.100 denúncias que chegaram ao MPT, isso significa que o número de casos é pelo menos dez vezes maior, porque a maioria dos trabalhadores não denuncia a coação ou essa denúncia não chega às autoridades.

Não adianta ir em “todos os órgãos e fóruns, inclusive internacionais, para denunciar o assédio eleitoral e exigir reação”. Se as justiças eleitoral e do trabalho, que seriam os responsáveis imediatos e principais para a apuração e punição desses casos, não estão fazendo e não farão nada, então órgãos que não estão diretamente relacionados com essa situação não farão absolutamente nada. E muito menos os organismos internacionais, porque eles estão nas mãos do imperialismo, que é quem está por trás de toda essa mobilização patronal em torno da eleição de Bolsonaro.

Os trabalhadores devem agir de forma independente. A CUT, ao invés de apelar para a Justiça burguesa, que já comprovou estar integralmente a serviço de Bolsonaro neste segundo turno, deve mobilizar imediatamente a sua base de milhões de trabalhadores e paralisar todas as empresas onde houver qualquer caso de coação patronal. Somente a mobilização da classe operária poderá conter o golpe eleitoral promovido pela classe capitalista.

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