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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Campanha da 3ª via

O jacaré do Bolsonaro e a candidata do latifúndio

Bolsonaro diz o que não deve; a burguesia faz seus trambiques em silêncio.

A Rede Globo, cujas artimanhas já deveriam ser bem conhecidas do eleitorado desde, pelo menos, a famosa edição do debate entre Lula e Collor, parece ter ganhado o valioso apoio de boa parte da esquerda pequeno-burguesa. As redes sociais registraram calorosos vivas a William Bonner e Renata Vasconcelos, a dupla de representantes da burguesia que edita e apresenta o principal jornal da emissora.

Tamanho entusiasmo, semelhante ao visto quando o Alexandre de Moraes entra em ação, foi a reação à entrevista de Bolsonaro, a quem os dois tentaram cercear o tempo todo, como se fossem promotores num tribunal de acusação. Bonner e Renata, no bom estilo da burguesia, apareceram impecavelmente bem-vestidos e capricharam num tom de voz que afetava indignação controlada, repulsa sem emoção. Eles tomaram para si o papel de representantes da revolta alheia, cobrando do presidente, chamado de “candidato”, que desse satisfações muito mais por suas falas que por sua política, de resto, como se sabe, apoiada pela burguesia que o pôs no cargo.

O problema de Bolsonaro seria ter xingado certo ministro do STF de “canalha”, ter imitado uma pessoa com dificuldade de respiração, ter chamado a Covid-19 de “gripezinha” e, pasmem, ter dito que não tomaria a vacina, pois poderia virar um jacaré (!). Renata Vasconcelos quase se indignou de verdade com a história do jacaré, pois, do alto de sua superioridade, pensa que o povo levaria mesmo ao pé da letra a possibilidade de metamorfose, como, aliás, deve pensar que o povo que assiste à novela Pantanal acredite que uma moça vire onça e um velho vire cobra sucuri.

A emissora adotou a campanha “Fique em Casa” como forma de enfrentar a Covid, mesmo sabendo que, para que a classe média e a burguesia se protegessem do vírus sem perder o conforto, era preciso que outras pessoas estivessem trabalhando normalmente. Na cidade de São Paulo, as empresas de transporte urbano diminuíram a frota para que seus lucros não diminuíssem, lucros esses que dependem de que os ônibus circulem superlotados. A emissora criticou esses empresários ultrassensíveis? É claro que não.

Talvez, para quem tivesse de enfrentar as latas de sardinha para chegar ao trabalho mesmo durante o pico da pandemia, fosse mais confortável acreditar que corressem o risco de pegar uma “gripezinha”. Bolsonaro diz o que não deve; a burguesia faz seus trambiques às ocultas, em silêncio.

Fato é que a dupla Bonner-Vasconcelos criticar o Bolsonaro é mais ou menos como o roto criticar o rasgado. A diferença entre um lado e outro reside antes na aparência que na essência. De um lado, o cuidado com a apresentação pessoal e os trejeitos estudados, típicos da burguesia, que se vê como uma aristocracia, cheia de bons modos e delicadezas, sempre hábil no manejo dos talheres; de outro, como apontado em programa de internet da esquerda pom-pom, a pele ruim de Bolsonaro, sua “boca suja”, a língua presa, enfim, sua aparência e seus maus modos (nesse ponto, convém lembrar o que a burguesia apontava no Lula: o jeito de falar, a língua presa, os erros de português, a barba e o cabelo, o dedo perdido na máquina…).

É a dita falta de educação de Bolsonaro, não o seu governo, que o transforma no espantalho. Ninguém ouviu Bonner ou Renata criticarem nem a privatização da Eletrobras, nem a reforma da previdência, nem mesmo a redução das verbas da educação. Curiosamente não tocaram na pauta identitária, que deve estar reservada para cutucar o Lula e para levantar a dupla Tebet-Gabrilli. Por outro lado, é provável que, nesse quesito, o Bolsonaro ganhasse pontos, pois ninguém aguenta mais a chatice dos identitários, com suas causas simbólicas, sua briga com as palavras e sua mania de ensinar todo o mundo a se comportar.

A Globo pretendia montar um show para a audiência, mas o seu resultado, é bom que se diga, além de ridículo, passou longe do desejado: em vários momentos, os apresentadores desistiram de sua linha de raciocínio e passaram para outra questão; Renata teve de pegar a “cola” porque se atrapalhou e, ao término, foi o próprio Bolsonaro quem lamentou – “Já acabou? Me chamem mais vezes”, não sem antes dizer ao Bonner que era ele quem estava fazendo “fake news” e, além disso, acusá-lo de ter-lhe sugerido que governasse como um ditador, sem o Congresso.

Na entrevista do Ciro Gomes, que transcorreu com tranquilidade, coube à doce Renata cobrar do candidato moderação na linguagem, fazendo uma pseudocrítica ao linguajar agressivo dele quando se refere a seus opositores, Lula e Bolsonaro. Acabou levantando a bola para Ciro criticar o PT, sua função no pleito, e se comprometer a suavizar a linguagem. Chega a ser comovente.

Não nos enganemos. Da Rede Globo só podemos esperar o pior. São inimigos do povo, que, a esta altura, estão empenhados em impulsionar a candidatura de Simone Tebet, a dama do latifúndio de Mato Grosso do Sul, que hoje aparece nas pesquisas como representante de 2% do eleitorado.

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