A Netflix lançou, recentemente, a sua nova adaptação, que foi um verdadeiro sucesso entre os jovens: a série Wandinha. A produção de Tim Burton conta a história de Wandinha Addams, que foi expulsa da escola após jogar piranhas na piscina contra os alunos que faziam bullying com seu irmão, Feioso; após isso, ela é obrigada a ir para a escola Nunca Mais, que é uma escola de “excluídos” – ou seja, de monstros e pessoas com dons sobrenaturais.
Ao longo da estadia em Nunca Mais, Wandinha descobre ter dons psíquicos e que consegue ter visões sobre o futuro, tal qual sua mãe, Mortícia Addams. Nas visões, ela descobre que uma tragédia está para acontecer – e ela seria o centro dos acontecimentos, tendo o dever de evitá-los. As visões envolvem o principal dos peregrinos da cidade, que tentou dizimar os “excluídos”, mas que foi derrotado por Goody Addams, ancestral direta de Wandinha. No momento do presente, tanto o peregrino Joseph Crackstone, quanto Goody Addams voltam para travar uma luta de vida ou morte para os excluídos.
E é nesse ponto que começa a demagogia identitária. A questão do chamado “genocídio indígena” dos Estados Unidos é evocada para afagar o coração da classe média liberal, que tem a preocupação de condenar moralmente toda a História. Se a História não seguiu o roteiro que o pequeno-burguês moralista exige que ela tenha seguido para que possa ser considerada “boa”, ela deveria ser descartada. Não há movimentos progressistas ou reacionários em todas as formas sociais; ao contrário, há apenas o “mal”.
Na série, há forte apelo para essa questão, visto que ela gira em torno desse tema. Além disso, há referências esparsas ao longo da série às políticas do Partido Democrata. Por exemplo, em determinados momentos, a personagem vivida por Jenna Ortega critica o “patriarcado”, que é uma crítica comum do movimento feminista pequeno-burguês ligado ao imperialismo nos Estados Unidos.
Além disso, a série retrata com especial fidelidade o jeito de agir e de pensar do jovem pequeno-burguês. Os próprios termos utilizados ao longo da série fazem parte do jargão do jovem de classe média – tanto norte-americano, quanto brasileiro. Por exemplo, em certo momento, a Wandinha critica as redes sociais por serem “uma forma vazia de validação” – que é um termo utilizado pela juventude liberal.
No que tange às redes sociais, há, inclusive, várias referências a blogs utilizados majoritariamente por jovens. Por exemplo, em determinado momento, a personagem Enid – que é o oposto da Wandinha no jeito de falar e de agir, visto que a Enid é uma e-girl, ao passo que Wandinha é gótica – critica as colagens que a personagem de Jenna Ortega fez no quarto conjunto das duas, que era uma colagem de provas dos assassinatos que a Addams estava investigando: “não esperava que, ao decorar o nosso quarto, você fosse fazer um Pinterest de um assassino em série”. Pinterest é uma rede social predominantemente utilizada por jovens.
Enfim, a série demonstra o estilo de vida da juventude pequeno-burguesa. É uma típica série da Netflix: possui um apelo a esse setor social e traz, impregnada, ideologias liberais; no caso, como é uma série voltada aos jovens, ela carrega fortemente o identitarismo. As pessoas que assistirem desavisadas, provavelmente não entenderão diversas referências; já o jovem, provavelmente, compreenderá o fluxo geral da série – e ela é bastante popular. No entanto, um olhar mais atento basta para perceber as diversas referências às visões identitárias de mundo.