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Felipe Maruf Quintas

Mestre e doutorando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Mudança histórica

O futuro da esquerda

Como se organizará a futura representação política popular?

Na sua filiação ao PSB, Alckmin afirmou que Lula é filho da democracia. Eu concordo com ele, porém, mais do que filho da democracia, Lula, assim como o PT, é filho do desenvolvimentismo. Foi o desenvolvimentismo dos anos 1920/1930-1980/1990 que permitiu criar uma classe operária especializada propriamente dita, sobretudo em SP, e outras categorias de assalariados capazes de se organizar num partido de base sindical ao estilo dos partidos social-democratas e trabalhistas europeus, como foi e ainda é o PT.

Lula é, hoje, a última reminiscência política de uma configuração “fordista-keynesiana-getulista” de sociedade, por assim dizer, e os valores que ele carrega – emprego formal e estável, encher o bucho de picanha e cerveja, comprar um carro novo, viajar de avião e ver os filhos se formando na universidade – são característicos daquele momento, que se torna cada vez mais longínquo e até mesmo estranho em relação ao novo país que se forma. Muito se pergunta sobre quem será o sucessor de Lula, mas haverá um? Um Lula camelô, entregador de aplicativo ou sem-teto seria, essencialmente, um não-Lula.

Cabe, assim, perguntar como está se desenhando e se desenhará a representação política popular numa sociedade cada vez mais definida pelo trabalho informal no setor de serviços de baixa qualificação e por outras modalidades de trabalho não passíveis de organização de classe. A banqueirada adoraria que a “guerra cultural” substituísse as demandas materiais, mas os termos da guerra cultural colocados pelas elites, como o identitarismo e o neoconservadorismo, são alheios aos sentimentos e às aspirações da grande maioria das pessoas. Não seria de se descartar o ressurgimento de movimentos messiânicos como no início da República, mas numa base urbana e favelizada.

O futuro está sempre em aberto e tudo pode acontecer, mas, de qualquer forma, não vejo esse processo pelo qual estamos passando como necessário e inevitável. É o resultado, em parte planejado e em parte imprevisto, de opções políticas tomadas hoje e nas últimas décadas, algumas delas inclusive no próprio governo Lula. Poderia e poderá ser diferente, se houver vontade política organizada capaz de dirigir a história para outros rumos.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

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