Neste final de semana foi realizada a Conferência de Negros do PCO, no Jacarezinho (RJ), onde foram discutidas as questões fundamentais da luta do negro, bem como aprovadas resoluções em torno da luta por Lula presidente e o fim da repressão, o fim das polícias.
Desde o momento da chegada dos ativistas na atividade até o final da mesma, entre os participantes e a população do Jacaré, não havia uma discussão sobre o fim da polícia e a eleição de Lula. Essas são questões unânimes, ou seja, não existe um debate, mas a necessidade de se fazer algo a respeito.
Ao longo desse tempo militando pelo PCO, eu tive a oportunidade de debater a questão do fim da polícia, seja dentro dos nossos órgãos de imprensa, seja em outras oportunidades, e se colocaram uma série de outras questões: acabar com a PM? E depois, quem vai fazer a segurança? Desmilitarizar não é melhor? Polícia cidadã, com formação em direitos humanos não é a saída?
Chegamos praticamente escoltados pela PM. Seja na entrada da favela do Jacarezinho, seja durante o evento, que teve, só no sábado, a “vistoria” de pelo menos oito agrupamentos do BOPE. Até drone foi destacado para a atividade e um sentinela ficou a alguns metros da atividade. Sempre com fuzis, sempre apontando para todos os moradores.
De mamando a caducando, como se diz, ninguém da favela se colocava contra as reivindicações apontadas pelo programa do Coletivo João Cândido, especialmente a questão do fim da polícia e o fim da repressão. É natural, ali o povo está debaixo da bota dos policiais 24 horas por dia.
Esse “debate” foi colocado pela esquerda pequeno-burguesa, que não consegue imaginar a sociedade sem a polícia da burguesia e, por consequência, sem as prisões, sem o sistema penal, responsável por quase um milhão de almas encarceradas no atual momento. Em grande medida, essa esquerda classe média concorda e defende que determinado setor da sociedade viva sob repressão, essa é a verdade.
Mas dentro do povo favelado, esse debate não existe. O que existe é uma vontade de fazer alguma coisa sobre o problema.
Estivemos no Jacaré por dois dias e a presença da PM foi regular e constrangedora. Mesmo no segundo dia, realizado na sede da escola de samba do Jacarezinho, a PM passou várias vezes, sem falar que um QG da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) estava instalado justamente à frente da escola.
Essa presença serve, dentre outros, para impedir que o negro favelado não se organize em torno dos seus direitos mais fundamentais. Para os que lá estiveram foi fácil perceber que a situação do negro é um barril de pólvora, que pode explodir a qualquer momento e colocar abaixo todas as imposições do regime.
A tarefa do momento é organizar esse povo, da maneira que for possível, para expulsar a PM das comunidades, das periferias, das favelas. Organizar comitês de defesa, para que ninguém mais seja morto por ações arbitrárias da polícia. Acabar com o “debate”, que, conforme foi visto, é um papo furado.
Outra discussão que não existe na periferia é a questão do Lula presidente.
É unânime o apoio ao ex-presidente na favela do Jacaré, e, naturalmente, em qualquer favela brasileira. Se a esquerda enrola na questão do apoio ou mesmo é contra, a população favelada é totalmente a favor ao retorno à presidência do líder máximo do PT, e totalmente contra Jair Bolsonaro, e exatamente por isso a campanha precisa sair às ruas imediatamente.