No dia 24 de dezembro, sábado, o governo do Talibã no Afeganistão proibiu que mulheres trabalhem nas organizações não governamentais (ONGs). A medida se soma a outra, do Ministério do Ensino Superior, no dia 20, que proibiu as mulheres de acessarem as universidades. A imprensa imperialista deu amplo destaque para a questão, e destacou a condenação dos EUA, do Reino Unido e da ONU ao fato.
A ofensiva imperialista e como combatê-la
As proibições foram justificadas pelo governo dizendo que as organizações não estavam respeitando as vestimentas tradicionais que, naquele país, são de uso obrigatório para as mulheres. Ambos os casos se seguem ao que vem ocorrendo no Irã, onde o imperialismo impulsiona um movimento de mulheres, de composição majoritariamente estudantil, sob a justificativa dos direitos das mulheres, para desestabilizar o governo, inimigo político do próprio imperialismo.
Pela movimentação internacional, se torna óbvia a questão. As medidas não se caracterizam como uma ofensiva do Talibã aos direitos das mulheres, como apresentado pela imprensa pró-imperialista, mas medidas defensivas frente à pressão do imperialismo, que busca retomar o controle do país, o qual permaneceu sob ocupação militar por 20 anos, até o ano passado, 2021. Ainda assim, se trata de um erro. A repressão estatal termina por impulsionar um movimento contra o regime político, e pode dar fôlego ao movimento. Seria necessária uma intervenção política do governo junto aos setores insatisfeitos.
No Irã, o presidente Ebrahim Raisi, durante a comemoração do Dia do Estudante, discursou na Universidade de Teerã. O presidente afirmou: “Estamos determinados a ouvir as demandas de manifestantes e de estudantes.” A coisa não parou por aí. Raisi disse que os EUA buscam destruir um Irã forte e substituí-lo por um Irã fraco, “mas estão errados. O povo iraniano não permitirá que o façam.”
Ebrahim Raisi destacou ainda que: “O Dia do Estudante é um símbolo de conhecer o seu inimigo e combatê-lo, é um símbolo de entendimento e de um senso de responsabilidade. A universidade é uma instituição intelectual e um centro para a consulta.” O presidente iraniano ainda afirmou acreditar na “relação entre a universidade e o governo, e que os estudantes devem ajudar o governo a resolver os problemas.”
O país sufocado e a demagogia caritativa
A partir da proibição, as ONGs encerraram atividades, e planejam uma reunião para discutir como ficará a atuação. Ao mesmo tempo, a imprensa imperialista destacou o papel das ONGs e seu sentido de assistência à população, tendo em vista que, após a derrota dos EUA no Afeganistão, e a expulsão de suas forças armadas, o país encara sanções internacionais pesadas, inclusive com o confisco das reservas internacionais do Banco Central do Afeganistão pelos EUA.
O Secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, declarou em seu Twitter estar preocupado com a suspensão de assistência vital para milhões fruto do banimento, ressaltando o papel das mulheres em operações humanitárias, e terminou com “Essa decisão pode ser devastadora para o povo afegão.” Frente às sanções impostas pelos EUA, a declaração de Blinken, assim como o teor das matérias na imprensa imperialista sobre o caso não passam da mais pura demagogia.
O Banco Central do Afeganistão não apenas está com suas reservas “apreendidas”, o mesmo que roubadas, num ato de pirataria do imperialismo norte-americano, como não pode realizar qualquer operação no mercado financeiro internacional, ele está totalmente barrado do sistema bancário internacional. A justificativa dos EUA é a de não reconhecer os representantes do banco, e que o governo dos EUA precisaria de um representante do banco reconhecido pelos próprios EUA para liberar o dinheiro, um total de 7,2 bilhões de dólares. Além disso, transações de bancos afegãos em geral estão sendo bloqueadas em função de sanções.
Identitarismo, ponta de lança do imperialismo
A situação no Afeganistão se soma ao uso do identitarismo feito internacionalmente pelo imperialismo para esmagar ainda mais os explorados, com supostas lutas por libertação que visam escravizar os povos pelo mundo. No Irã a coisa ficou explícita; na Rússia, um suposto movimento LGBT é impulsionado no mesmo sentido; no Brasil, “indígenas” da esquerda pequeno-burguesa defendem a entrega da Amazônia aos EUA, e movimentos negros vindos não se sabe de onde defendem a polícia e apontam que o problema é o racismo, não a força de repressão armada contra o povo. O identitarismo é uma arma de guerra, é a frente ideológica do imperialismo para pôr de joelhos os países atrasados. A infiltração de tal política na esquerda nacional deve ser combatida frontalmente, com um programa político independente, operário.