Na última segunda-feira (21), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou o reconhecimento da independência de duas regiões separatistas da Ucrânia, a República Popular de Donetsk (RPD) e a República Popular de Lugansk (RPL). Alguns dias depois, nesta quinta-feira (24), Putin fez um pronunciamento no qual declarou que a Rússia iniciaria uma operação militar especial na Ucrânia.
Desde então, a imprensa burguesa, ao lado da esmagadora maioria dos partidos e grupos ditos de esquerda no Brasil, iniciaram uma dura campanha contra a Rússia, procurando transmitir que seria Putin o verdadeiro tirano que quer colonizar a Ucrânia.
O começo do conflito
Antes de qualquer coisa, é preciso entender o que de fato está ocorrendo na Ucrânia.
Em 2010, Viktor Yanukóvytch foi eleito presidente da Ucrânia. Durante seu governo, ao contrário do que vinha sendo feito anteriormente, Viktor priorizou uma aproximação do país com a Rússia, voltando suas costas à União Europeia e à OTAN.
Essa postura foi completamente contrária aos planos do imperialismo que, para atingir a Rússia e atacar sua soberania, procurava expandir a OTAN para a Ucrânia, principalmente na região de Donbass que faz fronteira com a Rússia.
Com isso, em 2014, iniciou-se um processo golpista que, orquestrado pelo imperialismo, resultou na morte de centenas de pessoas e no fortalecimento da extrema-direita nazista na Ucrânia. Viktor, então, foi deposto, dando lugar a um governo fantoche dos Estados Unidos que permanece no país até hoje.
Ou seja, foram os Estados Unidos os primeiros a iniciarem uma ofensiva violenta contra a Ucrânia. Finalmente, o imperialismo ocupa a região há quase uma década, financiando diretamente movimentos fascistas no país. O governo Putin, numa exibição majestosa de tática militar, invadiu a Ucrânia simplesmente para se defender do imperialismo. Tanto o é que os objetivos declarados da Rússia são desmilitarizar e desnazificar o país, ao contrário do que a imprensa burguesa declara.
O imperialismo em crise
Nos últimos anos, diversos acontecimentos ao redor de todo o mundo demonstraram como o imperialismo estadunidense caminha em pernas tortas.
Primeiro, temos a Venezuela que, principalmente depois da reeleição de Nicolas Maduro, em 2018, sofre ataques brutais e constantes contra a sua soberania por parte dos Estados Unidos. Entretanto, com o apoio do povo venezuelano, Maduro resiste e segue firme em sua luta anti-imperialista, apesar de todas as sanções impostas pelos EUA sobre o país.
Em segundo lugar, temos a Nicarágua. O país sofre com uma dura campanha americana contra o governo Ortega desde o começo do século. Mesmo assim, conseguiu, até o momento, impedir um golpe de estado por parte dos Estados Unidos e manter sua soberania.
Por último, mais recentemente, temos o exemplo do Talibã, no Afeganistão. Os Estados Unidos dominaram a região por décadas em uma ditadura verdadeiramente sanguinolenta, saqueando o país até a última gota possível. O Talibã, também apoiado pelo povo, fez uma batalha incansável contra as tropas americanas e, finalmente, no ano passado, reconquistou o território nacional e expulsou o imperialismo dali.
Ou seja, fica claro que o imperialismo está extremamente enfraquecido. Suas derrotas mais recentes escancaram uma crise imensa em seu seio e, com os acontecimentos na Ucrânia, temos ainda mais uma prova clara disso.
Países oprimidos, uni-vos!
O que temos aqui não é uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas sim entre uma nação que tem sua soberania ameaçada contra a máquina de guerra imperialista. A Ucrânia, infelizmente, é apenas um instrumento do imperialismo para levar ao território russo a sua dominação.
No fim, a Rússia, ao lado do Talibã, da Venezuela, da Nicarágua, de Cuba, da China e mais, estão mostrando na prática que é possível enfrentar o imperialismo. E mais, deve ficar claro que o imperialismo é, acima de qualquer outra coisa, a principal força de opressão no mundo capitalista moderno. Ou seja, a luta travada contra o mesmo é, inevitavelmente, uma luta pela libertação dos povos de todo o mundo.
Nesse sentido, chegou a hora de todos os países oprimidos se unirem mutuamente para defender os seus interesses. É o momento decisivo para livrar os povos oprimidos de uma vez por todas das garras do imperialismo e, efetivamente, causar-lhe um golpe que bem pode desmontar sua hegemonia no mundo.
Bolsonaro, como presidente de um país atrasado, oprimido pelo imperialismo, deve reconhecer imediatamente as repúblicas do Donbass e se colocar decididamente ao lado da Rússia contra o imperialismo. Caso contrário, seremos alvos de ações grotescas como a operação Lava Jato que, organizada e financiada pelo imperialismo, foi responsável por jogar o Brasil em uma miséria sem precedentes.
Esquerda lesa pátria
No meio de toda essa confusão, mais uma vez, a esquerda brasileira mostrou que está completamente esvaziada de princípios políticos e, à reboque da imprensa capitalista, iniciou uma pesada campanha contra a Rússia. E os exemplos não são poucos: PSOL, PCB, PSTU, MRT, UP e muitos outros grupos de esquerda lançaram a infame política do “nem, nem”.
Infelizmente, não é de se espantar que estes setores tomassem o partido do imperialismo. Afinal, apoiaram o golpe nazista na Ucrânia, em 2014 e, mais recentemente, as tentativas golpistas na Bielorrússia e no Cazaquistão. Sem contar nos duros ataques contra a luta anti-imperialista do Talibã, no Afeganistão.
E é interessante notar que essas posições não são tomadas, em sua maioria, por uma questão de ingenuidade política das direções, mas sim por uma questão financeira. Afinal, como este Diário revelou por meio de uma série de reportagens exclusivas, boa parte da esquerda brasileira é diretamente financiada pelos Estados Unidos por meio de organizações de fachada, como é o caso do IREE de Walfrido Warde.
É, nesse sentido, a mesma demagogia que estes setores fazem com a candidatura de Lula. Ao invés de apoiá-la incondicionalmente contra o golpe de estado e, finalmente, contra o imperialismo, fabricam uma alternativa “socialista” completamente abstrata e, com isso, defendem posições completamente reacionárias. É o que o PSTU fez com seu “Fora Dilma, fora Temer, fora todos!” que, agora, se repete em demais partidos como “Fora Putin, fora OTAN, fora EUA, fora todos!”
No fim, se em uma luta entre opressores e oprimidos a esquerda lava as próprias mãos, então está, indiscutivelmente, tomando o partido do imperialismo. Decerto uma política que faz Marx tremer em seu caixão.