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Hippies ou guerreiros?

O bom selvagem e o mau colono

Ou como se utilizar do revisionismo histórico como depositário moral para aplicar uma política contra os trabalhadores, e contra os próprios indígenas

O curso da Universidade Marxista Brasil 500 anos de História esta prestes a começar e o 1o modulo, acerca dos 300 anos inicias de nossa história, já esta recheado de polêmicas. O imperialismo, principalmente por meio do identitarismo, tem pontos de ataque muito bem definidos, o primeiro deles é a própria nação portuguesa, que é desvalorizada para atacar a formação do Brasil, outro é a escravidão, que passa por um revisionismo imenso para se adequar às necessidades do movimento negro identitário. Mas talvez o maior revisionismo já realizado sobre o Brasil colonial seja acerca da população indígena, que é transformada de um dos principais agentes da história em vítimas do “holocausto” colonizador com um objetivo político muito claro.

Um patrimônio de sofrimento para justificar qualquer coisa

A recente polêmica com o cancelamento do apresentador de podcast Monark deixou claro um dos principais usos da história pelo imperialismo. A utilização de um grande sofrimento no passado serve da base para criar um depositário moral de certo setor que, por meio deste, justifica qualquer política que esteja aplicando no presente. O lobby judaico, que esta por trás da censura a Monark, é um dos maiores especialistas nesse golpe, há décadas eles utilizam o holocausto da Alemanha nazista, para justificar a sua política fascista no Oriente Médio e até mesmo o uso de métodos nazistas na Palestina.


Essa tática política está sendo transposta por meio do identitarismo para os indígenas da América Latina de uma forma ainda mais estapafúrdia, neste caso não há beneficio nenhum para os índios, apenas para o imperialismo. A tese seria de que, como os judeus na segunda guerra mundial, as populações nativas do Brasil foram vítimas de uma potência moderna poderosíssima que os massacrou sistematicamente. O genocídio seria de mais de 4 milhões de pessoas, o que representaria mais de 80% da população indígena, os portugueses, nesse sentido, seriam os nazistas do século XVI.

Um revisionismo que rebaixa o indígena e demonifica o português

Esse revisionismo histórico não só é absurdo como remove a importância dos indígenas para a história e a formação do Brasil. No século XVI os portugueses não possuíam capacidade nenhuma para assassinar sistematicamente os índios, nem em tecnologia de armas, nem em número de imigrantes, não havia nem como pensar nessa possibilidade. A ocupação do Brasil se deu por diferentes alianças entre europeus e tribos indígenas das quais a de Portugal com os Tupiniquins, foi a vitoriosa. No primeiro século, aliás, o indígena era o principal elemento atuante, havia muito poucos colonos, mestiços e negros.
Na realidade a relação de Portugal com os indígenas foi geralmente pacífica e de realização de muitos acordos. Os portugueses se estabeleceram em alguns assentamentos no litoral e firmaram alianças principalmente com os tupiniquins contra os seus tradicionais inimigos, os tupinambás, e também contra outras etnias como, por exemplo os aimorés. A ocupação inicial dos portugueses só foi possível devido à ajuda dos índios, que não só realizavam o escambo, trocando madeira por produtos europeus, mas que também os alimentos e o conhecimento de como cultivar mandioca e as demais culturas alimentícias.
A história da fundação do Rio de Janeiro é emblemática para se compreender a relação dos portugueses com os indígenas. Na região da baia de Guanabara na década de 1550 uma frota francesa, liderada por Villegagnon, iniciou uma ocupação, se aliando aos tupinambás. Os portugueses por sua vez, para expulsar os franceses do território se aliaram aos tupiniquins da região, os Temiminós. Dois grandes líderes e guerreiros se destacam nesse história, Cunhambebe, que é retratado por todos os relatos na época como uma liderança a se temer, já o outro, Araribóia, seria o principal aliado dos portugueses e o primeiro indígena a ganhar títulos de terra da Coroa, que viria a ser a cidade de Niterói.
Sendo assim os europeus se inseriram em um conflito que já existia entre os indígenas, pintá-los como coitados que foram usados para interesse de terceiros isso sim é depreciar sua história. A guerra dos Tamoios, como ficou conhecida, teve como seus principais agentes os indígenas, que faziam alianças com os europeus como forma de fortalecer a sua posição militar. Suas lideranças estão entre os personagens mais importantes da história do Brasil e mobilizaram muitos mais homens para a guerra do que franceses e portugueses. O cacique Cunhambebe durante a guerra chegou a unificar centenas de aldeias formando a Confederação dos Tamois, contudo ela não conseguiu derrotar a aliança dos Temiminós com os portugueses.


Outro episódio onde os indígenas possuem um enorme destaque é a guerra pela libertação de Pernambuco do domínio holandês. Boa parte da resistência foi travada pelos indígenas potiguares que tinha como seu líder Potiguaçu, mais conhecido como Felipe Camarão, que ganharia o título de Capitão Mor de Todos os Índios do Brasil, tamanho foram seus feitos. Ele foi um dos principais responsáveis pela vitória dos brasileiros na batalha dos Guararapes, que libertou pernambuco. Os eventos históricos como estes dois, em que os indígenas possuem um enorme protagonismo são muitos, principalmente nos primeiros séculos da colonização.

MEM DE SÁ. Governador geral do Brasil, tio de Estácio de Sá,
aliado de Araribóia contra os franceses e os tupinambás


A polêmica dos indígenas coitados e indefesos cai por terra ao se analisar um pouco a história, mas a partir daí surge uma nova polêmica: os índios teriam então sido enganados pelos portugueses, ou até pior, são traidores da luta indígena por terem se aliado a europeus. Aqui se cria um anacronismo de que existia uma união entre todas as tribos do Brasil, algo que nem mesmo hoje existe, durante os séculos de colonização. As tribos que se aliaram aos portugueses o fizeram por benefício próprio, consideravam que ganhariam com isso e que imporiam derrotas a seus inimigos. O mesmo vale para o escambo de Pau Brasil, receber um machado de metal, o equivalente a uma retroescavadeira para os dias de hoje, pelo corte e transporte de algumas árvores não é nenhuma troca desigual para eles.


É claro que ao longo do processo histórico os indígenas perderam suas terras e se tornaram uma das populações mais oprimidas do país, contudo a sua atuação ao longo dos séculos foi de firmar alianças e também sair ganhando momentaneamente com os acordos. Não podemos cair no erro também de falar que não houve violência nem injustiças dos europeus contra os indígenas, mas isso está muito longe da versão sangrenta contada pelos indenitários. Não só isso como, durante o período colonial, a grande maioria dos momentos de violência acontecia com a participação dos próprios indígenas, não porque eram servos dos portugueses, mas porque possuíam um interesse próprio.


É preciso abandonar a visão moralista da história e analisá-la por meio do marxismo. É ridículo tentar se utilizar de um sofrimento do passado para definir a política no presente, os indígenas no Brasil de hoje precisam ter seus direitos defendidos, independente de quanto sofreram ou de se eram heróis ou vilões. São uma população massacrada diariamente pelo latifúndio que precisa ter o direito não só a suas terras como a sua auto-defesa para se defender dos capangas assassinos dos latifundiários. Isso é definido pela sua situação de hoje e não pela relação que Cunhambebe teve com Mem de Sá em 1560.
Mas, ao mesmo tempo, a compreensão da história nacional e da formação do Brasil por meio da análise materialista é muito importante para se travar uma luta real contra aqueles que querem manter o país sobre o seu domínio, o imperialismo. Compreender a questão indígena na história, assim como a dos negros e todas os demais importantes acontecimentos é crucial para travar a luta que libertará todos os brasileiros. É devido a essa relevância do conhecimento teórico que organizamos a Universidade Marxista.

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