Joe Biden anunciou no último dia 5 a nomeação de Karine Jean-Pierre. Filha de pais haitianos, nascida na ilha francesa de Martinica e criada em Nova Iorque, Karine foi apresentada como um verdadeiro combo identitário: mulher, negra, imigrante e lésbica. Para que fique claro, essas características foram destacadas no anúncio.
Nas palavras de Jen Psaki, que entregou o cargo: “será a primeira mulher negra, a primeira pessoa abertamente LGBT+ a ocupar esse cargo, o que é ótimo, porque representatividade é importante, ela dará voz a tantas pessoas e mostrará o que é possível quando você trabalha duro e sonha alto”.
Essa é apenas uma parte da manobra. A dupla ilusão de que as mulheres e as pessoas LGBT em geral terão uma representante no governo do país e que a nomeação de Jean-Pierre prova que a ascensão social só depende do esforço das pessoas. O fator “representatividade” é até confuso nesse caso, porque a função desempenhada pela secretária de Imprensa da Casa Branca é ser porta-voz do governo dos Estados Unidos, não expressar qualquer opinião própria, nem dar voz a ninguém mais.
Até porque, Karine ocupará a função de para-choque do governo com a imprensa. Isso implica em ter que explicar os crimes em série organizados pelo governo do principal país imperialista mundo afora. Num primeiro momento, a blindagem identitária pode até suavizar as coisas, mas quando o bicho pegar o mais óbvio é jogarem Jean-Pierre aos leões. É a mulher negra, lésbica e imigrante que vai servir de alvo para para a artilharia da imprensa quando a opinião pública escapar do controle dos monopólios da comunicação.
Enquanto a mulher negra e jovem estiver sendo atacada por conta da política de rapina do imperialismo, o homem branco e velho estará mais tranquilo, cumprindo o seu papel nefasto para a burguesia norte-americana. Não se trata de nada novo e nem exclusivo do Partido Democrata nos Estados Unidos, a mesma fórmula já foi usada por Bush com Condoleezza Rice.
No começo dos anos 2000, assistimos quase que cotidianamente a Conselheira de Segurança Nacional e depois Secretária de Estado Condoleezza Rice servindo como testa de ferro do presidente George W. Bush. Qual benefício essa desmoralização pode trazer às demais mulheres negras? Ser usada para o serviço sujo do imperialismo não é um progresso para nenhuma das “identidades” que estariam supostamente representadas por Karine Jean-Pierre.