– Brasil de Fato
Moradores de comunidades da Chapada dos Veadeiros lançaram um abaixo-assinado na internet para denunciar a ação policial ocorrida na última quinta-feira (20), que resultou na morte de quatro pessoas em uma chácara na zona rural de Cavalcante (GO).
As vítimas identificadas como Salviano Conceição, Chico Kalunga, Ozanir Batista da Slva (conhecido como Jacaré) e Alan Pereira Soares foram baleadas por homens da Polícia Militar de Goiás (PMGO), que estariam averiguando a denúncia de uma plantação de maconha no local.
Na versão da PM, após chegarem na propriedade, os policiais teriam sido recebidos a tiros por sete pessoas que estavam no local e, por isso, reagiram. Quatro morreram e três conseguiram fugir. Ao todo, foram 58 disparos, sendo 40 de fuzil e 18 de pistola, segundo o boletim de ocorrência. Essa versão, no entanto, tem sido amplamente contestada pela população local.
“Os policiais alegam que receberam uma denúncia anônima da existência de ‘tráfico de drogas’ e ao chegarem no local, teriam sido recebidos à bala. Entretanto, nenhum policial ou viatura foram alvejados ou feridos. As vítimas foram mortas por 58 tiros, sendo que 40 disparos foram feitos por fuzis”, diz a nota de repúdio publicada pelos moradores no abaixo-assinado.
O texto informa também que não havia mandado de busca nem investigação prévia sobre a denúncia.
Nesta segunda-feira (24), a PMGO informou, por meio de nota, que afastou os policiais envolvidos na ação e que vai investigar as circunstâncias da ocorrência.
“Assim que a corporação tomou conhecimento do fato, determinou a instauração de um Inquérito Policial Militar e o imediato afastamento das atividades operacionais, de todos os policiais envolvidos no ocorrido. A Polícia Militar não coaduna com desvio de conduta, esclarece que todas as providências cabíveis estão sendo tomadas e que o caso será apurado com o rigor devido”, diz a corporação.
Fotos divulgadas pela polícia mostram alguns pés de maconha, uma porção de erva prensada, uma balança de precisão, uma espingarda e três revolveres que teriam sido apreendidos no local. Outra foto mostra um policial ateando fogo para incinerar a plantação. Na primeira versão, a PM informou que seriam cerca de 2 mil pés de cannabis, mas depois retificou o número para cerca de 500 a 600 pés da planta.
“Por que matar primeiro e perguntar depois? Por que não optar por uma investigação inteligente, que permita conhecer o perfil dos suspeitos envolvidos e seus antecedentes? Por que a polícia goiana em um sem número de vezes não cumpre sua missão de prender suspeitos e garantir o direito de defesa de todas as pessoas, observando o uso proporcional da força e o respeito à lei? Por que não respeitam o Estado de Direito, onde impera a lei e o devido processo legal? Por que os órgãos de controle mantidos com recursos públicos pouco agem?”, questionam os moradores na nota pública divulgada.
Ainda segundo a manifestação dos moradores, citando dados da mais recente edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2021), publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a polícia goiana é a segunda mais letal do país e responsável por 29% das mortes violentas intencionais totais.
“Outro indicador de proporcionalidade é a relação do total de mortos em intervenções policiais e o total de policiais assassinados. Em Goiás, para cada policial vítima, morrem 210 civis. É o maior índice dentre os 27 estados brasileiros. O FBI (EUA) trabalha com a proporção de 12 civis mortos para cada policial morto. Estudiosos sugerem que quando essa proporção é maior do que 15, então a polícia está abusando do uso da força letal”, acrescenta.
Postagens nas redes sociais mostram um protesto que reuniu dezenas de moradores pelas ruas da famosa Vila de São Jorge, que fica nas proximidades da entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Eles pedem Justiça para o caso e cobram uma investigação séria e independente.
No abaixo-assinado, os moradores também cobram a implantação “urgente” de câmeras de gravação audiovisual acopladas aos uniformes dos agentes de segurança pública, como forma de reduzir a letalidade policial em ações como esta.