A Copa do Mundo se aproxima e, com ela, a campanha do imperialismo contra os países atrasados, que tem atuação de destaque no campeonato, se intensifica. Com o Brasil cotado como favorito para vencer o torneio, o imperialismo chega a dirigir sua campanha contra a própria realização do campeonato, buscando reduzir o impacto de uma vitória da Seleção não só para o povo brasileiro, como para todos os povos atrasados do mundo, em meio a uma crise generalizada do imperialismo.
Em meio a acusações sobre a questão da liberdade sexual, com a homossexualidade sendo proibida no país, e a condição da mulher, se juntou outra campanha. O imperialismo acusa o Catar de ter levado à morte mais de 6.500 operários para a construção de infraestrutura ou mesmo de estádios. A fonte foi o jornal The Guardian, ligado ao imperialismo inglês. O jornal publicou uma matéria em fevereiro de 2021 com o título sensacionalista de “Revelado: 6.500 trabalhadores migrantes morreram no Catar enquanto o país se prepara para a Copa”, título depois modificado para “Revelado: 6.500 trabalhadores migrantes morreram no Catar desde que o país recebeu o direito de sediar a Copa.” Ou seja, o sentido da notícia foi completamente modificado. Enquanto a primeira versão indica uma relação das mortes com a preparação da Copa, na segunda essa relação é colocada de maneira claramente forçada. O Catar recebeu o direito de sediar a Copa em dezembro 2010.
No corpo da própria matéria, o The Guardian coloca que, durante esse período, apenas 37 mortes de trabalhadores ligados à Copa ocorreram, das quais 34 não são relacionadas com o trabalho de acordo com o comitê de organização do evento. O próprio texto desmente a manchete incriminadora do jornal. Longe de um erro ou acidente, fica óbvio que o título foi uma escolha da linha editorial. Mais que isso, o número de mortes de estrangeiros, que seria o argumento, não é comparado a taxas de mortalidade no país de trabalhadores em geral, então acaba por ser apresentado na reportagem como um número em si, isolado, como se isso dissesse alguma coisa. Ele é esvaziado de contexto para que a reportagem do The Guardian possa dar o desenho desejado à situação em torno do dado e, vindo de um órgão do imperialismo com ampla cobertura e fama internacional, a campanha criminosa se espalhou em diversas línguas pelo mundo todo.
Talvez você já tenha visto, ouvido, lido ou reproduzido por aí a ideia de que "6.500 pessoas perderam a vida na construção de infraestrutura para a Copa no Catar" ou, pior, de que morreram "na construção dos estádios". Saiba então que essa 'informação' é totalmente enganosa
— José Antonio Lima (@zeantoniolima) November 12, 2022
Uma série de calúnias
Como uma campanha do imperialismo, ela não tem apenas uma frente isolada, mas uma série de campanhas de informação manipulada para insuflar os trabalhadores contra os inimigos do imperialismo. Outro número então apareceu, desta vez com origem na ONG imperialista Anistia Internacional, num relatório de agosto de 2021. Segundo o dado oficial do governo do Catar, citado num relatório da Anistia, 15 mil imigrantes morreram no país, independente de idade, ocupações, etc., entre 2010 e 2019. Nesse mês, esse número ressurgiu como associado à Copa, e se seguiram protestos de torcidas na Alemanha chamando o boicote à Copa citando a cifra dos 15 mil. Os protestos foram divulgados acriticamente pela imprensa esportiva, como a ESPN. O número, novamente, é uma manipulação, sem contexto algum. As relações de trabalho no país não podem ser descritas por um número isolado, tanto que das matérias da imprensa imperialista, nada de concreto se retira.
Geopolítica
As campanhas contra o Catar não aparecem simplesmente em qualquer momento. Nos últimos anos, o país vem se voltando cada vez mais para a órbita da Rússia, China, Irã, ele não está mais no guarda-chuva dos Estados Unidos, vem desenvolvendo uma soberania relativa. Lá é sediada a Al Jazeera, rede de televisão árabe, concorrente da BBC, com uma corrente muito menos enviesada, dos acontecimentos. A Al Jazeera é uma das referências em cobertura de acontecimentos no Oriente Médio e no mundo, apresentando uma visão no geral totalmente destoante da imprensa imperialista. Logo, o ataque ao Catar não se dá meramente pela questão da Copa, mas é uma campanha mais ampla contra o próprio país.