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Inimigo do Brasil

Mecenas de Boulos, Warde espionou Vale para empresário israelense

Empresário contratou agente da Black Cube para extrair depoimentos de altos executivos da mineradora

─ Victor Assis, DCO ─ A mineradora brasileira Vale S.A., uma das maiores empresas do ramo no mundo, desistiu do processo que abrira contra a empresa BSG Resources Limited (BSGR), do bilionário israelense Benjamin Steinmetz. A ação, que tramitava na Justiça de Londres, exigia uma indenização pelo fracasso em um projeto na República da Guiné. A parceria entre a Vale e Benjamin Steinmetz foi firmada em 2010, com o objetivo de explorar parte da gigantesca reserva de minério de ferro de Simandou, mas foi interrompida definitivamente em 2014, quando o então presidente da Guiné, Alpha Condé, revogou os direitos minerários de ambos.

A justificativa para a revogação foi a acusação de que Benjamin Steinmetz havia subornado uma das esposas do ex-presidente guineano, Lansana Conté, para conseguir, em 2008, a concessão da mina de Simandou. Steinmetz obteve a licença por apenas 165 milhões de dólares e revenderia 51% da concessão para a Vale, dois anos depois, por incríveis 2,5 bilhões de dólares. O israelense, que ficou conhecido como o “bilionário do barulho”, acabou condenado a cinco anos de prisão pelo Tribunal de Genebra e a 1.246.580.846,00 de dólares de indenização à Vale pelo Tribunal Internacional de Arbitragem, em Londres, concedidos em audiência em que a BSGR propositalmente não compareceu. Somados outros custos e despesas, esse valor poderia chegar a 2 bilhões de dólares.

A BSGR, no entanto, declarou falência. A Vale entrou com nova ação, para garantir a execução da decisão da Justiça de Londres. A BSGR passou a alegar que a Vale sabia de todo o esquema corrupto e contratou, para a sua defesa, ninguém menos que o ex-juiz Sergio Moro, hoje pré-candidato à presidência da República pelo Podemos. Até aí, nenhuma novidade: Moro é um inimigo declarado das empresas brasileiras, tendo levado muitas à ruína com a Operação Lava Jato, e um notório agente do imperialismo norte-americano, de quem Benjamin Steinmetz é sócio. Antes de sua condenação, Steinmetz era o israelense mais rico do mundo, com um patrimônio estimado em 8 bilhões de dólares, segundo a agência Bloomberg. Filho de uma família de comerciantes de diamantes, o capitalista judeu é hoje um dos homens mais poderosos na extração de minérios, tendo feito sua fortuna assaltando países africanos miseráveis, como a Guiné e Serra Leoa, possuindo ligações com a maior empresa de comércio de diamantes do mundo, a De Beers, e sendo um forte concorrente de George Soros em algumas áreas.

O que chama ainda mais a atenção na contratação de Moro é que ela se deu por meio do escritório de advocacia Warde Advogados, liderado pelo empresário Walfrido Jorge Warde Júnior. O acordo entre Steinmetz e Warde rendeu a Moro um pagamento de R$750 mil para defender os interesses do bilionário israelense contra a empresa brasileira.

No parecer feito por Moro em favor do bilionário israelense, vê-se uma conspiração escandalosa para destruir a empresa brasileira. Moro é claro: a “fonte” que utilizou para comprovar a suposta cumplicidade da Vale com a corrupção da BSGR foram “as entrevistas” que “foram efetuadas em investigação privada contratada pelo Consulente com a empresa israelense Black Cube”.

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Acontece que o que Moro chama de “entrevistas” nada tem a ver com a conversa em um talk show. Trata-se, inconfundivelmente, de um caso de espionagem escancarada.

A Black Clube é uma é uma agência de inteligência privada criada em Israel. Como se sabe, “inteligência” é um nome oficial para a espionagem, seja dentro de um mesmo país, como fora dele. A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que curiosamente não teve “inteligência” para desvendar o golpe de Estado de 2016, se ocupou, por exemplo, de organizar, junto à Polícia Federal, a ridícula Operação Hashtag, que prendeu, no mesmo ano da derrubada de Dilma Rousseff, alguns pobres coitados sob a acusação de “terrorismo” por trocar algumas mensagens no Telegram. Em 2018, Welington Moreira de Carvalho, réu na Operação Átila, confessou em cartas e depoimentos às autoridades, que era colaborador da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Seu papel era de redigir relatórios em que descrevia atividades, reuniões e opiniões políticas de muçulmanos que frequentavam uma sala de oração no centro do Rio de Janeiro. Curiosamente, após a confissão, Welington Moreira de Carvalho foi inteiramente inocentado, sob a alegação de sua confissão era infundada.

Nenhum feito da Abin, contudo, se compara aos da Central Intelligence Agency (CIA). Fundada em 1947, a agência norte-americana esteve e continua envolvida em milhares de conspirações dentro dos Estados Unidos e em todos os países da face da Terra. É publicamente conhecida a atuação da CIA no desmantelamento dos Partido dos Panteras Negras, radical organização do movimento negro norte-americano, bem como em todas as sanguinárias ditaduras da América Latina durante as décadas de 1960, 1970 e 1980.

A palavra “privado” também chama muito a atenção no caso do Black Clube. Israel, nas últimas décadas, tem cumprido justamente o papel de fornecer, no âmbito privado, um verdadeiro arsenal de guerra para os aliados e sócios do imperialismo. Armas, treinamento militar, agências de espionagem, entre tantos outros, são oferecidos por empresas israelenses para constituir polícias cada vez mais brutais em todo o mundo.

Em entrevista à Rede Globo no ano de 2008, Marcos do Val, que se dizia um colaborador da SWAT no Brasil e hoje é senador pelo Podemos, disse:

Hoje, no mundo inteiro, as pessoas têm que entender que as academias de polícia não estão formando mais os policiais. As academias de polícia não estão dando as especializações suficientes. Então, as empresas estão conseguindo fazer isso, porque são pegos os melhores policiais, os melhores do mundo

O objetivo é claro: Israel, que é uma espécie de 51º estado dos Estados Unidos, especializado em fazer todos os tipos de barbaridade com os palestinos, exporta para todo o mundo a excelência na tecnologia e na técnica da repressão. Suas agências são uma escola do imperialismo para formar uma polícia que, como bem disse Marcos do Val, não seja treinada pelos governos nacionais, por piores que esses sejam, mas sim que tenham seus comandantes mais destacados financeiramente e doutrinariamente ligados ao Estado policialesco de Israel.

A Black Cube coleciona uma quantidade extraordinária de crimes em sua ficha. Entre eles, está a acusação, feita pela revista New Yorker, de ter espionado assessores de Barack Obama a mando de Donald Trump, e de ter, segundo a revista Politico, usado identidades falsas para extrair confissões de delitos supostamente causados por pessoas ligadas a George Soros, interferindo nas eleições presidenciais húngaras em favor do direitista Viktor Orbán. A integração do Black Cube ao próprio Estado de Israel é tão grande que Vivian Bercovici, o ex-embaixador de Israel no Canadá, trabalhou na agência de espionagem.

No caso da Vale, o método foi muito semelhante ao que foi feito na Hungria. A revista Piauí descreve, com uma riqueza de detalhes, como foi feita a operação. Segundo a revista, a Black Cube criou uma empresa falsa — a Mersus — para assediar altos executivos da Vale, em reuniões gravadas, tentando obter uma confissão. Os encontros teriam sido regados a muito luxo e viagens internacionais. 

Fica evidente que a espionagem se deu, no mínimo, por um acordo junto ao escritório de Walfrido Warde. Se ele não tiver contratado diretamente a Black Cube, no mínimo sabia do que se tratava e orientou Sergio Moro, que prestou o serviço para o escritório em favor de Steinmetz, a fazer uso dos relatórios clandestinos. Afinal, a principal “prova” no parecer do ex-juiz seriam as tais “entrevistas”.

Empresário de Boulos foi o 5° maior doador da campanha de Kim Kataguiri

O método sujo é muito semelhante ao que foi feito na Operação Lava Jato: “delações premiadas” que eram, na verdade, uma forma de legalização da tortura, na medida em que as pessoas eram presas previamente e só saíam quando diziam exatamente o que o juiz queria, conduções coercitivas como forma de aterrorizar as figuras que estavam sendo perseguidas pelo regime e até mesmo grampos e gravações ilegais. Vale destaque a divulgação completamente ilegal de conversas envolvendo a então presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, como também a infiltração de Sérgio Machado para tentar extrair uma confissão de Romero Jucá (MDB).

Curiosamente, a imprensa brasileira procurou omitir a participação de Warde na espionagem. Em matéria do Valor Econômico, chegou-se a dizer que o escritório Warde Advogados contratou diretamente o Black Cube. No entanto, poucas horas depois, a matéria foi editada e essa informação sumiu. Note-se, inclusive, que não se tratava de um “erro” — neste caso, o jornal poderia e deveria, por questões éticas, fazer uma errata, como fez tantas vezes. Trata-se de uma verdadeira manipulação, uma omissão deliberada de informações.

O caso só mostra como Walfrido Warde tem “as costas quentes”. Isto é, que é praticamente um “intocável”. Um empresário de grande importância para o regime político. E não é para menos: ele organizou a defesa de um dos homens mais poderosos de todo o Estado de Israel e está associado à principal figura da Lava Jato no Brasil, o próprio Sergio Moro.

As relações de Warde com o imperialismo já foram assunto de várias outras investigações deste Diário. Em seu instituto, o Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), Warde abriga o general Sérgio Etchegoyen, ex-ministro do sinistro Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Leandro Daiello, ex-chefe da Polícia Federal e Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa de Michel Temer. Ou seja, é um velho amigo da Lava Jato e da espionagem brasileira. Suas ligações com o imperialismo também são notórias, como a parceria que tem com a think thank Global Americans, que é financiada diretamente pelo fundo de financiamentos da CIA, o NED.

Chama a atenção que tal figura seja, ao mesmo tempo, admirada, elogiada e intimamente ligada a figuras que se dizem de esquerda. Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL ao governo de São Paulo, é funcionário de Warde no IREE e defende o empresário como uma pessoa “progressista”. Não é para menos: Boulos é contratado para fazer, infiltrado na esquerda, exatamente o mesmo que fazem os parceiros de Warde.

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