Pré-jogo
A grande polêmica anterior ao jogo entre Croácia e Marrocos foi em relação à escolha da narradora Renata Silveira. Parte da propaganda identitária da Rede Globo, a narradora vendo sendo bastante criticada desde antes da Copa e se defende apontando que as críticas se reduzem a machismo por parte do público majoritariamente masculino que acompanha o futebol.
Não que isso mereça muito debate, mas o fato é que suas narrações são fracas e frias, como a maioria dos seus colegas homens a serviço da emissora. Por padrão, o jornalismo da Globo é uma coisa fria e calculada, seus narradores falam sobre tudo, menos sobre o futebol que está acontendo na sua frente. E, mesmo entre eles, Renata não se destaca positivamente, o que poderia justificar alguma defesa contra as críticas.
No ínicio da transmissão, pouco antes da bola rolar no estádio Khalifa Internacional para a disputa do terceiro lugar, a Globo mostrou um ranking de gols mais bonitos da Copa do Catar. Chamou a atenção que o gol de Neymar contra a Cróacia não foi nem citado, ficando assim atrás de gols normais como o de Salem al-Dawsari ou Mbappé.
Além do golaço de voleio de Richarlison na estreia da Seleção, apenas merece menção o esculacho do camaronês Vicent Aboubakar contra os sérvios. Fosse uma emissora argentina ou francesa, não seria nada estranho, provavelmente colocariam gols das suas seleções em destaque. Quem não concorda, assista o replay do gol que levaria o Brasil para as semifinais da Copa e avalie novamente. Mas isso é assunto para outro momento.
O jogo
A equipe de Marrocos demonstrou muito nervosismo desde o início do jogo, algo normal para uma equipe jovem e inexperiente. O bom goleiro Bounou quase faz um gol contra bizarro, cedendo um escanteio e já deixando a torcida marroquina de cabelo em pé. A zaga afastava mal lances de perigo, prolongando a angústia de quem torcia pela grande revelação da Copa, a seleção que levantou diversas vezes a bandeira da Palestina no país que mais ajuda concretamente a causa desse povo que vive sob uma ocupação brutal de Israel.
Jogando no erro do adversário, a Croácia abriu o placar com o Gvardiol. Numa bola parada, os croatas executaram uma jogada ensaiada, uma linha de passes de cabeça, até o zagueiro mascarado empurrar para o fundo das redes. Parecia que o enredo estava decretado, Marrocos atacaria mais e uma hora ia ceder um contra’ataque mortal.
Mas o futebol nao obedece a fórmulas lógicas e aconteceu um empate relâmpago. Menos de dois minutos após sofrer o gol, Marrocos chegou ao empate com o zagueiro Dari. Parecia uma repeticao invertida do gol sofrido, porém o desvio após a cobranca de falta foi feito por um croata até sobrar para o zagueiro marroquino. Uma espécie de linha de passes de cabeça não intencional.
A partir daí o jogo pegou fogo no primeiro tempo, um duelo entre experiência e criatividade. A seleção de Marrocos jogou bem, lembrando o jeito africano de jogar futebol, mas perdendo muito a bola, com muitos erros de passe. O camisa 10 croata, Luka Modric, compenspu perdendo muitas bolas também e oferecendo boas oportunidades para os marroquinos. Após boas chances de gol para os dois lados, a Croácia fez o segundo gol e decretou o placar que seria o final. Em mais uma bola perdida de bobeira, dessa vez na entrada da área, Orsic ficou livre para bater bonito no canto alto do goleiro marroquino. Um gol muito parecido com alguns dos “gols mais bonitos da Copa”.
No meio da transmição uma revelação estranha, a narradora empoderada assumiu que não assistiu ao jogo do Brasil contra a Croácia. Se esse fato bizonho foi explicado em algum outro momento da programação da Globo, pelo menos durante o jogo não foi. É no mínimo muito esquisito alguém que está trabalhando na cobertura da Copa do Mundo, que se apresenta como alguém que gosta de futebol, nao ter assistido ao jogo do Brasil ao vivo e ter conferido lances do jogo apenas para se preparar para o jogo entre Croácia e Marrocos. Seja homem, seja mulher, seja que diabo for.
Assim como outros narradores da Globo a profissional falou de tudo menos do jogo, daquilo que há de apaixonante nele. Os comentaristas, os ex-jogadores Paulo Nunes e Ricardinho nao deixaram por menos e seguiram o padrao sem acucar nem sal da emissora carioca. O que aconteceu de mais interessante do jogo, as fintas de corpo dos morroquinos, que fizeram a torcida presente no estádio vibrar, foram devidamente ignorados. O ballet da bola nao tem valor para a Globo, talvez por isso o golaco de Neymar tenha sido tao desprezado.
Sobre o futebol marroquino e africano, a única coisa que ganhava destaque era o interesse dos clubes europeus em alguns dos seus jogadores. Em determinado ponto, alguém ainda comentou: “imagino os clubes vendo isso (as lesões dos jogadores na Copa)¨. Quem liga a mínima para os capitalistas do futebol durante uma Copa do Mundo, o momento máximo do futebol mundial?
No segundo tempo, o jogo ficou morno. Os dois times ainda tiveram chances, mas nada mudou no placar. Os croatas passaram a cozinhar o jogo e os marroquinos nao conseguiram furar a retranca. No final do jogo, o juiz ainda atrapalhou o sonho dos árabes ao deixar de marcar algumas faltas importantes para o esforco final de Marrocos, o que se refletiu na revolta dos jogadores após o apito final. Prevaleceu a experiencia sobre o talento individual e o futebol de habilidade.
