Francisco de Assis Marcatti, nascido em 1962, fez, em 2017, 40 anos de carreira nas histórias em quadrinhos; motivado pela data, o Douglas Utescher, sócio editor da Ugra Press, teve a feliz iniciativa de organizar “Marcatti 40”, uma coleção de 40 histórias do Frauzio, a célebre personagem do Marcatti, desenhadas por artistas diferentes.
Segundo alguns historiadores da HQ, em 25 de fevereiro de 1968, ao vender os exemplares da Zap Comix nº 1 pelas ruas de São Francisco, Robert Crumb teria iniciado o movimento underground dos quadrinhos norte-americanos. Não se tratara apenas de procedimentos comerciais alternativos, quer dizer, editar e vender suas próprias HQs sem a intermediação de editoras, mas ideológico, principalmente em função do papel do autor, quem deixaria de ser mera peça na esteira de produção do mercado editorial, envolvendo mudanças significativas nos temas disseminados pelas HQs ao incluir, entre eles, as misérias humanas e sociais, geradas pelo capitalismo e a luta de classes.
Os quadrinhos brasileiros, com raríssimas exceções, parecem derivar antes desse modo de produção alternativo, independentemente dos estilos e dos temas desenvolvidos; sejam quadrinhos de vanguarda com narrativas fragmentadas, quadrinhos com narrativas mais lineares e cuja ênfase reside nos problemas cotidianos, quadrinhos cáusticos em que o humor é forma de luta social etc., todos eles surgem no mercado editados pelos próprios autores. Na HQ brasileira contemporânea, longe dos quadrinhos ditos “fofinhos” – estes sim, bastante comerciais –, vale a pena lembrar de autores tais quais Luiz Berger, Lobo Ramirez e Pablo Carranza, produtores independentes com as respectivas editoras Gordo Seboso, Escória Comix e Beleléu. A escolha desses nomes não é aleatória, os três foram convidados especiais da revista Lasca de Quirica, editada pelo Francisco Marcatti.
Marcatti é, desde suas primeiras publicações na década de 80 do século passado, um dos pioneiros do quadrinho alternativo, tornando-se não apenas fonte de inspiração temática, mas de conduta diante da miséria humana mencionada antes. Antes em uma impressora Rex Rotary 1501 e atualmente em uma Multilith 1250, Marcatti edita suas criações e as de outros artistas, entre eles, os primeiros trabalhos de Lourenço Mutarelli; em países explorados pelo imperialismo, tal atitude está longe de ser empreendimento com vistas a vantagens pessoais, por isso mesmo, muitos investiram na justa celebração do trabalho de Marcatti, organizada pelo casal Douglas e Daniela Utescher, da Ugra, na comemoração dos 40 anos de carreira do mestre do quadrinho brasileiro independente.
Toda personagem confunde-se com seu autor, a personagem principal do Marcatti é o Frauzio; desenhado por outros autores, o espelhamento é renovado quando tantos Frauzios, espelhos de tantos artistas, encontram-se com Marcatti. Eis os artistas: Al Stefano, André Diniz, Batista, Bira Dantas, Camilo Solano, Chico Felix, Dan Heyer, Daniel Esteves, Doutor lnsekto, Elcerdo, Escape HQ, Fabio Zimbres, Felipe Bezerra, Flávio Luiz, Floreal, Franco de Rosa, Galvão Bertazzi, Germana Viana, Gilmar, Guabiras, Guilherme Petreca, Juscelino Neco, Kellen Carvalho, Kiko Garcia, Laudo Ferreira, Lica de Souza, Lobo Ramirez, Luciano Salles, Miolo Frito, Orlandeli, Pablo Carranza, Paulo Batista, Paulo Crumbim, Pedro Cobiaco, Pedro D’Apremont, Pietro Luigi, Raphael Fernandes, Ruis, Thiago Ossostortos, Victor Bello, Victor Freundt, Vitor Valence, Will.
“Marcatti 40” pode ser encontrado na loja da Ugra neste endereço: https://www.ugrapress.com.br/
* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário