A candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma ameaça à continuidade do projeto neoliberal da burguesia brasileira e internacional que para implementá-lo embarcaram na aventura golpista de 2016 e jogaram o país na profunda crise que se encontra. Ante a popularidade eleitoral do ex-presidente Lula, que cresce, expressando o completo rechaço popular a política do golpe, isto é, o neoliberalismo, a burguesia cerra fileiras para atacar, de maneira um tanto desesperada, o ex-presidente.
Em um editorial, dos muitos dedicados ao possível presidenciável da esquerda, do jornal golpista O Estado de S. Paulo, de 17 de fevereiro, intitulado “Lula promete o atraso”, pode-se ler aí a completa incompatibilidade entre a burguesia, que necessita da política neoliberal, e a candidatura Lula, que expressa, ainda que de maneira parcial, os interesses das massas trabalhadoras e pobres do país.
Para o Estadão, o grande problema da candidatura Lula é justamente sua recusa em realizar “reformas”, que, segundo o jornal da burguesia, seriam base para o desenvolvimento nacional. O termo “reforma” utilizado pode gerar uma certa dubiedade e o jornal a explora.
Para o jornal, um principais porta-vozes da burguesia brasileira,
(…) o líder das pesquisas de intenção de votos para presidente diz, sem qualquer constrangimento, que o País, pasme o leitor, não precisa de reformas – justamente os instrumentos indispensáveis para modernizar o Brasil, criando as condições para o desenvolvimento pleno de sua imensa potencialidade.
O fato que gerou tal asseveração foi a resposta do ex-presidente Lula em uma entrevista em que foi questionado por que não realizou reformas (embora tenha realizado reformas neoliberais, mas muito tímidas para a burguesia) durante sua gestão ou nos governo do PT. Lula respondeu que o país não precisa de tais reformas: “ mas quem disse que o Brasil precisava de reformas?”
O jornal cínico joga com a evidente necessidade de reformas democráticas, muitas delas estruturais, no país, como a estatização de setores estratégicos, a estatização de tudo o que foi entregue ao capital privado, profunda reestruturação democrática dos poderes e do regime político, reforma agrária, dissolução do aparato repressivo tal como existe hoje, estatização do sistema financeiro e muitas outras reformas necessárias. Contudo, não são tais reformas que o jornal se refere quando critica Lula por não querer as fazer e sim as reformas de tipo neoliberal, isto é, promover a devastação econômica, o ataque violento às condições de vida da população para promover maior concentração de renda.
Podemos ler claramente quando o jornal em artigo acima mencionado, em uma análise afirma que o país nos últimos 20 anos esteve mergulhado em “irresponsabilidade demagógica”, de retrocesso e destruição, salvo um breve período de luz: o governo, golpista, diríamos nós, de Michel Temer, um governo no qual predominou a racionalidade “reformista”, isto é, neoliberal.
Mesmo Jair Bolsonaro, candidato que o próprio jornal ajudou a eleger, é criticado pela sua incompetência em promover tais reformas, tão queridas pelo jornal golpista. A racionalidade reformista referida pelo jornal, que encontrou maior espaço no governo do golpista Temer é a que leva o governo a transformar o país numa “sociedade aberta”, isto é, sem nenhuma barreira, seja legislação trabalhista ou de qualquer ordem, um campo de caça para a atividade predatória dos grandes capitalistas nacionais e principalmente internacionais.
Essas reformas visam deslocar uma parte da população para a miséria e o desemprego, necessários para fazerem cair o preço da mão de obra, torná-la mais competitiva, diria a burguesia, um duro ataque às condições de vida da população, o que gera inevitavelmente a diminuição do mercado interno e consequentemente a ruína da indústria nacional. De outro lado impedir que o Estado “gaste” seu orçamento com demandas da população, mas que reserve esse valor para afiançar os negócios dos capitalistas privados, garantindo seus lucros e tornando o ambiente econômico mais seguro ao investimento estrangeiro.
Essas são as reformas que o jornal golpista considera ser o progresso e que acusa o ex-presidente Lula de se negar a realizar. Esse é justamente o aspecto mais importante da candidatura Lula, que representa a interrupção da política neoliberal e somente por esse fato deveria ser apoiado por toda a esquerda, uma vez que sua eleição representa uma derrota da política principal de toda a burguesia brasileira e principalmente internacional.
A ruptura com a política neoliberal que a candidatura Lula expressa, reconhecida pela própria burguesia golpista, é em si mesmo um aspecto positivo para as massas trabalhadoras no quadro político, mas a candidatura Lula não expressa apenas o rechaço popular ao neoliberalismo, vocaliza também um grande número de aspirações democráticas do povo, que se materializam em reivindicações de verdadeiras reformas populares.
Ou seja, a candidatura Lula não apenas é a negação da política neoliberal, como possui uma inclinação para a realização de reformas populares e democráticas, tanto mais radicais quanto a radicalização das mobilizações populares o exigir, até um certo limite, evidentemente. Uma das questões que estão na ordem do dia, o que é uma grande reforma, é a anulação de tudo que foi feito contra os trabalhadores e o povo durante o período do golpe. É preciso reestatizar as empresas entregues, revogar as reformas trabalhista e da previdência, revogar a lei do teto de gastos, bem como reverter uma série de ataques promovidos pelos governos golpistas.
E é justamente esse um dos motes ─ “abaixo as reformas neoliberais!” ─ que o movimento popular deve sair às ruas em defesa da candidatura Lula; contra a política neoliberal da direita golpista, Lula presidente. Uma grande mobilização de massas deve ser posta nas ruas contra o neoliberalismo e em defesa dos direitos trabalhistas e democráticos roubados do povo pelos golpistas, além de levantar um programa de verdadeiras reformas democráticas e populares.
Diferentemente do que afirma editorial do Estadão, o ex-presidente Lula é hoje o candidato das reformas, como talvez nunca foi antes, mas das reformas em defesa do povo, e por isso é preciso apoiá-lo, com a mobilização dos trabalhadores para que se rompa com o imperialismo e a burguesia e se construa um governo da classe operária.