Estamos no momento antes da posse, e os ataques a Lula por parte da imprensa burguesa aumentam. Todos os jornais golpistas fazem marcação cerrada em torno das falas do presidente eleito, das possíveis indicações para ministros e tendências que se mostram para o novo governo. A aprovação da PEC da Transição, para garantir um orçamento que permita levar adiante as promessas de campanha, consagrou o apoio do PT a Arthur Lira (Progressistas) para a presidência da Câmara. Nesse cenário, Ciro Nogueira, atual ministro-chefe da Casa Civil e presidente nacional do Progressistas, afirmou que Lira será independente, mas que Lula não precisa temer “processos de impeachment“.
Apesar da aliança, Nogueira disse que Arthur Lira não terá postura de “cordeirinho” para emplacar os projetos do governo, e que o partido fará oposição. A postura de Ciro Nogueira é a demonstração prática do que já era óbvio: os acordos com o Centrão não têm grande coisa a oferecer para Lula. O presidente do Progressistas ainda falou que a PEC da Transição foi apresentada de maneira “absurda” e “ampla demais” e disse ainda que ela depende de “muita boa vontade da oposição para aprovar”.
Uma barreira ao avanço popular
O Congresso se coloca cada vez mais claramente contra o projeto que Lula busca aplicar. O pequeno espaço no orçamento buscado pela PEC vem sendo embarreirado não só pela tradicional imprensa golpista, mas também no legislativo. Caso passe, será totalmente prostituída até lá, após votações nas duas casas. O Congresso, portanto, bloqueia o que já é menos que o mínimo que se esperava do governo Lula, que foram as promessas de campanha, com o aumento do Bolsa Família e de alguns outros programas sociais, com investimento na geração de emprego. Mais uma instituição burguesa que se mostra totalmente hostil a Lula, como toda a burguesia
Pior que isso, a afirmação de Ciro Nogueira sobre a impossibilidade de um impeachment, quando ninguém estava falando nisso, é em si um sinal em prol da medida, que deve ser encarada por Lula como uma possibilidade real e até uma probabilidade. As sabotagens, mas também o próprio golpe descarado, são cartas nas mãos do Centrão, e elas estão todas colocadas na mesa como colocou o próprio Ciro Nogueira.
Quebrar a barreira
Para garantir as medidas populares, seja o mínimo com a verba de transição, seja as demais promessas de campanha, Lula só tem uma opção: se apoiar em quem lhe rendeu a vitória da eleição. O segundo turno eleitoral foi marcado por um giro total na campanha do PT, e foi graças a Lula, que percebeu só ser possível a vitória indo aos explorados, aos trabalhadores que lhe dão base real, sólida, contra os golpes e a política de destruição da burguesia.
O mesmo quadro se apresenta. As alianças com a terceira via se esgotaram, a imprensa burguesa atacou com tudo os R$200 bilhões para gastos sociais da transição. Enquanto isso, o Centrão se mostra um piso arenoso, impossível sustentar um governo que o tenha como base.
A possibilidade da vitória, então, novamente depende da mobilização. Para o mínimo que Lula esperava fazer com a transição, a oposição já se mostra cerrada, quem dirá quando o governo estiver empossado. Somente com as bases sindicais organizadas, com grandes manifestações que exijam as medidas sociais e forcem as demandas dos trabalhadores pelas instituições burguesas é que elas serão permitidas avançar. Só a força do conjunto da classe operária, com panfletagens, cartazes, passeatas e greves poderá levar a frente a política de Lula e muito além disso.
A reconstrução do País não pode ficar refém de um ou outro mafioso, ou um punhado deles, no Congresso Nacional. A reindustrialização do Brasil é imprescindível para o seu desenvolvimento. A Petrobrás está sendo retalhada no fim do governo Bolsonaro. Antes de o atual governo sair, está realizando um verdadeiro saldão, que será preciso reverter integralmente.
O sacrifício de empregos pela política de terra arrasada, com o uso da criminosa Lava Jato, para ser revertido, exigirá amplo investimento estatal na indústria, em todos os setores. Os trabalhadores já o exigem. A miséria assola o povo que, mesmo com toda a campanha golpista, com anos dela, levou Lula de volta à presidência. Não será uma canetada ou um papel que irá tirar dos trabalhadores o que levaram anos a reaver: um governo que possa ser seu.