Ministério da Defesa

Lula e a “autonomia” dos militares

Indicação de Lula à Defesa é tentativa de apaziguar os ânimos das Forças Armadas, algo que só é realmente possível por meio de um amplo movimento de massas

No dia 9 deste mês, Lula anunciou a escolha de José Múcio Monteiro para o Ministério da Defesa. Decerto que não se trata da melhor política a ser tomada, afinal, Múcio é um direitista. Entretanto, é compreensível, ao escolher uma figura que agrada os militares, Lula quer lhes pacificar, pois são oposição ao governo.

Aqui, revela-se um problema mais profundo: no Brasil, as Forças Armadas, que deveriam servir ao Estado e, portanto, ao presidente, figuram uma parte do governo independente do próprio governo, uma espécie de Quarto Poder da República. Temos o Supremo Tribunal Federal (STF) – um poder que não deveria existir e que não foi eleito por ninguém -, o Congresso, o presidente e os militares que, assim como o STF, não foram eleitos por ninguém.

Esse grupo age ativamente na política nacional, tentando impor as suas exigências e condições ao governo, um perigo que deve ser discutido. Segundo a imprensa burguesa, os militares querem, de fato, uma autonomia grande em uma série de coisas, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e demais agências de informações. Nos Estados Unidos, por exemplo, o presidente efetivamente manda nas Forças Armadas por conta da estrutura que elas têm. Elas poderiam, sim, tornar-se independentes do governo, mas teriam que fazê-lo quase que por um golpe de Estado, enquanto que, no Brasil, já são independentes.

Dentro disso, é preciso criticar a posição da esquerda sobre esse problema. Ao longo deste ano, criou-se uma histeria ímpar em relação à possibilidade de um golpe de Estado por parte de Bolsonaro que, segundo a pequena-burguesia, esteve inúmeras vezes na iminência de tomar o poder. Fato é que uma operação como essa requer condições políticas que Bolsonaro, independente de sua sanha golpista, simplesmente não teve durante o seu governo – e não é agora que perdeu as eleições que terá.

Agora, a esquerda passou para o outro extremo afirmando que, já que Bolsonaro não deu um golpe e com a eleição de Lula, ela estaria controlando o País. A extrema-direita continua representando um perigo, pois ela possui uma posição preponderante em todos os órgãos repressivos do Estado brasileiro e das unidades estaduais e municipais: Forças Armadas, Força Nacional de Segurança, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, polícias municipais. Sua posição é muito forte em todos esses lugares, é isso que deve preocupar a esquerda.

Para enfrentar esse problema, matérias de jornais não são suficientes, pois todos esses setores estão armados até os dentes. Nesse sentido, é preciso ter realismo político e enfrentar a coisa de maneira concreta.

A política de Lula, de tentar evitar a briga com os militares, pode mostrar-se insuficiente no próximo período. A única forma de colocar esse setor na defensiva e impedir, consequentemente, que avance contra o governo de esquerda, é por meio de um amplo movimento de massas. Finalmente, se os militares perceberem que qualquer tentativa deles de uso da força será enfrentada com uma grande mobilização, eles recuarão.

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