Em alguns pontos, Lula foi muito bem no debate da Bandeirantes. Como, por exemplo, quando falou que não é o candidato dos “presidiários”, mas sim do povo pobre e trabalhador, que não é bandido, e que bandidos são os ricos. Ou quanto se opôs claramente às privatizações.
Entretanto, o ex-presidente caiu nas pequenas “tretas” do candidato do PL, em uma areia movediça típica da extrema-direita: as “briguinhas”.
Lula, em vários momentos, acabou sendo conduzido por Bolsonaro, quando este insistiu no tema da corrupção, por exemplo. Lula voltou a fazer concessões com relação à corrupção e disse que em seu governo houve muita investigação. Disse que os golpistas (embora não tenha citado o golpe de 2016, um grande erro) não precisavam ter quebrado as empresas, o que é correto, mas fez concessões e deixou Bolsonaro conduzir a discussão a respeito da corrupção.
Deveria ter dito que isso foi uma grande campanha da direita e da imprensa burguesa controladas pelo imperialismo, que manipulam e sempre manipularam a questão da corrupção, que é apenas para enganar os incautos da classe média, que acreditam que a corrupção é o pior mal do País e que a esquerda é corrupta e a direita não.
Também o candidato petista acabou por cair em discussões morais sobre comportamentos e condutas e não conseguiu abordar da maneira correta os temas materiais, realmente relevantes para o povo trabalhador. Chegou a questionar Bolsonaro porque não houve um aumento real no salário mínimo em seu governo, ou quando lembrou que o governo Lula bateu recorde na produção de automóveis.
Mas a maior parte do tempo Lula teve de discutir as posturas morais de Bolsonaro. Isso não interessa ao povo trabalhador. O povo, como Lula mesmo sabe, está interessado em saber o que vai comer, onde vai morar e se seus filhos vão estudar. Lula destaca isso em seus discursos, mas no debate ele acabou por não mencionar.
O debate sobre questões morais, sobre comportamentos e condutas interessa apenas à direita. Porque é um debate rebaixado e que apela aos mais abomináveis preconceitos das pessoas, bem como não trata as situações em termos racionais, mas sim emocionais. Para convencer o eleitor, o mais importante é argumentar a partir de questões concretas e que interessam para a vida material do trabalhador.