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Leia na íntegra discurso de Putin reconhecendo Donetsk e Lugansk

Presidente russo defendeu a autodeterminação dos povos do Donbass e denunciou o governo fantoche da Ucrânia e o imperialismo criminoso

─ Sputnik News ─ Em meio ao agravamento da situação relacionada à segurança na Europa, Vladimir Putin apelou aos cidadãos russos e disse que nesse momento é necessário reconhecer a independência das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. O anúncio foi feito depois da reunião do presidente com membros do Conselho de Segurança da Rússia. Mais tarde, os documentos sobre reconhecimento foram assinados pelo líder russo e agora aguardam sua aprovação e ratificação pelo Conselho de Federação da Rússia.

Na sua fala, o presidente justificou a medida explicando fatos da história de desenvolvimento da Ucrânia como Estado e descrevendo a situação relacionada à segurança na Europa, incluindo as relações Rússia-OTAN e avanço do bloco para o Leste do continente europeu.

Leia abaixo a fala do líder russo na íntegra:

Respeitáveis cidadãos da Rússia. Caros amigos. O tema de meu discurso são os acontecimentos na Ucrânia, e por que isto é tão importante para nós e para a Rússia. Obviamente que meu discurso tem como alvo os nossos compatriotas na Ucrânia. Terei que lhes falar de forma minuciosa e detalhada. Trata-se de uma questão muito séria. A situação em Donbass chegou a um ponto extremamente crítico. E hoje eu vos falo diretamente não só para vos dar uma nota sobre os acontecimentos, para lhes informar a minha decisão e os passos futuros por este caminho.

Quero mais uma vez ressaltar que a Ucrânia, para nós, não é só um país vizinho. É uma parte de nossa história e espaço espiritual que não se pode subtrair. São nossos companheiros próximos, entre os quais não há somente colegas, amigos e ex-companheiros do serviço militar, mas parentes. Pessoas com laços de sangue e de família conosco. Há muito tempo, os habitantes das antigas terras russas do sudoeste se chamavam de russos e ortodoxos. Foi assim até o século XVII, quando parte de tais territórios se uniram ao Estado russo, e também depois.

Parece que, a princípio, sabemos disso tudo. De que o assunto é sobre fatos de conhecimento geral. Com isso, para o entendimento sobre aquilo que ocorre hoje e para a explicação dos motivos das ações da Rússia e os objetivos que nós estabelecemos, é necessário falar algumas palavras sobre a história das questões.

Começarei pelo fato de que a Ucrânia contemporânea foi em sua totalidade formada pela Rússia. Mais precisamente, pela Rússia comunista. Esse processo se iniciou praticamente logo após a Revolução de 1917. Além do mais, Lenin e seus camaradas fizeram isso de uma forma muito rude em relação à própria Rússia, ou seja, arrancando parte de seus próprios territórios históricos. Obviamente que ninguém perguntou nada aos milhões de moradores que viviam lá.

Posteriormente, na véspera e depois da Grande Guerra pela Pátria, Stalin incorporou à URSS e repassou à Ucrânia alguns territórios antes pertencentes à Polônia, Romênia e Hungria. Já na qualidade de compensação, Stalin dividiu para a Polônia uma parte dos territórios autenticamente germânicos e em 1954, por algum motivo, Khruschev tirou da Rússia a Crimeia e também a deu para a Ucrânia. Foi desta forma que foi formado o território da Ucrânia soviética. Agora, eu gostaria de dedicar atenção ao período da formação da União Soviética. Acredito que isso é muito importante para nós. Teremos que ir longe. Relembro-vos que após o golpe da Revolução de Outubro de 1917, e a consequente guerra civil, os bolcheviques iniciaram a construção de um novo Estado. E entre eles surgiram desentendimentos assíduos. Stalin, que em 1922 conciliou os cargos de secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da URSS e comissário do povo para questões de nacionalidade, propôs a construção nos princípios da autonomização. Ou seja, deu às repúblicas da união administrativa territorial futura grande empoderamento ao entrarem para o Estado unido. Lenin criticou tal plano e propôs dar concessões aos nacionalistas, os quais ele chamava de independentistas. Exatamente tais ideias de Lenin de um Estado confederado e o slogan de dirigir as nações por governos próprios que ia até a sua separação foram postos como a base do Estado soviético.

nicialmente, em 1922, isto foi estabelecido na declaração da formação da URSS, e depois da morte de Lenin, e na constituição da URSS de 1924. Só aqui surgem diversas questões. A primeira delas é a principal: por que tiveram que satisfazer por arbitrariedade quaisquer e em ascensão sem limites as ambições nacionalistas nos arredores de um ex-império? Dar a unidades administrativas reformuladas, e frequentemente feitas de forma aleatória, uniões republicanas, territórios enormes que frequentemente não tinham com tais uniões nenhuma ligação. Repito, repassar junto com os habitantes da Rússia histórica. Além disso, de fato deram a tais unidades administrativas o status e a forma de formações de Estado-nação. Novamente eu pergunto: para que tiveram que dar tais presentes generosos, os quais nem os nacionalistas mais fervorosos antes nem almejavam, e além disso conceder repúblicas pelo direito de sair do Estado unido sem quaisquer condições.

À primeira vista isso é uma loucura. Mas só à primeira vista, porque há uma explicação. Depois da revolução, a principal tarefa dos bolcheviques era se manter no poder a qualquer custo. Por isso que eles seguiram tudo: as condições humilhantes da paz de Brest quando a Alemanha imperial e seus aliados estavam em uma situação militar e econômica difícil, e o resultado da Primeira Guerra Mundial foi inevitável, e na satisfação de qualquer exigência, de qualquer desejo por parte dos nacionalistas dentro do país.

Do ponto de vista dos destinos da Rússia e seus povos, os princípios de Lenin de construção estatal foram não só um erro, mas, como dizem, algo muito além de um erro. Após a dissolução da URSS em 1991 isso ficou muito visível. Obviamente que não se pode mudar o passado, mas devemos pelo menos falar sobre ele de forma direta e franca, sem justificativas e pinceladas políticas. Posso, de si, acrescentar que as ideias da conjuntura política atual, independente de sua eficiência e lucrativas que possam se apresentar, no dado momento, de forma alguma podem serem colocadas como a base dos princípios do Estado.

Não culpo ninguém agora, a situação no país durante e após a guerra civil, e na sua véspera, era muito complicada e crítica. Hoje quero dizer que tudo foi exatamente assim. Isto é um fato histórico. Como já disse, como resultado da política bolchevique surgiu a Ucrânia soviética, a qual nos nossos dias pode ser chamada com total embasamento de a Ucrânia em nome de Vladimir Ilich Lenin. Ele foi seu autor e arquiteto. Isso é confirmado por inteiro por documentos arquivados, incluindo as duras diretivas de Lenin sobre Donbass, as quais empurraram para dentro da Ucrânia. Agora, os gratos descendentes derrubaram na Ucrânia os monumentos de Lenin. Eles chamam isso de descomunização.

Vocês querem a descomunização? Bom, isso nos agrada. Mas não se pode percorrer só metade do caminho. Estamos prontos para mostrar para vocês o que significa para a Ucrânia a verdadeira descomunização. Voltando à história da questão, repito, em 1922 no espaço do ex-Império Russo foi criada a URSS. Mas a própria vida logo mostrou que é simplesmente impossível manter tal grande e complicado território, governá-lo sem preposições sólidas nos princípios confederativos. Eles foram arrancados da realidade e da tradição histórica.

Assim, tanto o terror vermelho como a rápida passagem para a ditadura de Stalin, o senhorio da ideologia comunista e o monopólio do partido comunista do poder, a nacionalização e o sistema planificado da agricultura popular, tudo isso na prática transformou em uma simples declaração e formalidade os princípios não funcionais da estrutura estatal. Nenhum direito soberano foi dado às repúblicas da união, eles simplesmente não existiram. Na prática foi criado um Estado rigidamente centralizado, absolutamente unitário em seu caráter.

Stalin, de fato, realizou de forma total, na prática suas ideias de Estado, e não as de Lenin. Mas mudanças correspondentes nos documentos de formação dos sistemas e na Constituição ele não introduziu. Os princípios de Lenin proclamados na construção da URSS ele formalmente não reviu. Sim, a julgar por tudo, não houve a necessidade nas condições de um regime totalitário e tudo funcionava, e por fora parecia tudo muito bonito, atraente e até mesmo além de democrático. Mas foi tudo uma pena, o fato de que as fantasias utópicas e impecáveis, mas totalmente destrutivas para qualquer país normal e inspiradas na revolução não foram removidas formalmente das bases jurídicas nas quais foi construído nosso Estado. Sobre o futuro, como era de costume ocorrer, antes ninguém pensou.

Os líderes do partido comunista, parecem que estavam seguros de que eles conseguiram criar um sistema de governo resistente e que à custa de sua política conseguiram finalmente resolver a questão nacional. Mas a falsificação, mudança de entendimento, manipulação da consciência comum e engano saem muito caro. O veneno das ambições nacionais não sumiu, mas desde o início, a bomba implantada, que implodia a imunidade estatal contra a praga do nacionalismo só esperava a sua hora. Tal bomba, repito, foi o direito de sair da URSS. Na metade dos anos 80, tendo como fundo os problemas socioeconômicos da óbvia crise da economia planificada, a questão nacional se acentuou ainda mais, cujo sentido não foram a espera e as aspirações não realizadas dos povos da URSS, mas antes de tudo os apetites crescentes das elites locais.

Porém, a liderança do partido comunista da URSS no lugar de uma análise profunda da situação, a tomada de medidas adequadas, em primeiro lugar na economia, mas também gradualmente e de forma pensativa uma transformação do sistema político e do Estado, se limitou por uma verbiagem sobre a restauração do princípio leninista da autodeterminação dos povos. Além disso, no contesto da luta pelo poder dentro do próprio partido comunista, cada um dos lados conflitantes, com o intuito de alargar a base de apoio começou a loucamente estimular os ânimos nacionalistas, brincar com eles, prometendo aos seus apoiadores potenciais tudo que eles queriam. No fundo da tagarelice superficial e populista sobre democracia e um futuro brilhante, construído seja na economia de mercado ou planificada, mas nas condições do real empobrecimento das pessoas e a total escassez de produtos, ninguém das autoridades não pensou sobre as consequências trágica s e inevitáveis para o país.

Depois, simplesmente seguiram o antigo caminho do início da criação da URSS de satisfação das ambições das elites nacionalistas, cultivadas nas próprias fileiras partidárias, esquecendo assim que nas mãos do partido comunista não há mais, graças a Deus, tais instrumentos de manutenção do poder e do próprio país, como o terror estatal e a ditadura do estilo stalinista. E até o infame papel de dirigente do partido, assim como uma neblina da manhã, some sem rastro bem visível aos seus olhos. Assim, em setembro de 1989, no plenário do Comitê Central do partido comunista da URSS, foi aprovado um documento fatal, a chamada política nacional do partido em condições modernas, a plataforma do partido comunista. Ela tinha tal conteúdo, vou citar: às repúblicas da união pertencem todos os direitos que respondem seu status de Estados socialistas soberanos. E mais um ponto: Os órgãos estatais acima citados das repúblicas da união podem protestar e cessar a ação do estabelecimento do Estado unido em seu território.

Para finalizar: cada república da união possui sua própria cidadania, a qual é aplicada em todos os seus habitantes.

Será que não era óbvio a que tais formulações e decisões levarão? Agora não é a hora ou o lugar de fazer perguntas sobre o direito estatal ou constitucional, contextualizar o entendimento de cidadania. Mas, de qualquer forma, surge a questão: para que naquelas condições complicadas precisou de tal forma agitar ainda mais o país? O fato permanece como fato.

Dois anos antes do fim da URSS, seu destino já havia sido estabelecido. Hoje é que os radicais e nacionalistas, mais do que tudo na Ucrânia, se dão o mérito da conquista da independência. Como nós vemos, isso não foi bem assim. A dissolução de nosso país unido foi causada pelos erros históricos e estratégicos dos líderes bolcheviques, da liderança do partido comunista, erros permitidos em tempos diferentes na construção estatal e na política nacional e econômica. A dissolução da histórica Rússia sob o nome de URSS está na consciência deles. Apesar de todas estas injustiças, engano e verdadeiro roubo da Rússia, exatamente o nosso povo reconheceu a nova realidade geopolítica que se formou após o fim da URSS, e reconheceu os novos Estados independentes. E não somente reconheceu, a própria Rússia, em um estado difícil, ajudou os parceiros da Comunidade dos Estados Independentes, inclusive os colegas ucranianos, os quais desde o momento da proclamação de sua independência começaram a fazer pedidos de ajuda material. E nosso país lhes prestou tamanha ajuda com respeito à dignidade e soberania da Ucrânia. De acordo com nossas análises sobre os preços de nossos produtores de energia, o volume total de empréstimos, preferências econômicas e comerciais que a Rússia concedeu à Ucrânia, deu um lucro geral à economia ucraniana entre 1991 e 2013 de US$ 250 bilhões.

E isso não é tudo. No final de 1991, a dívida da URSS com países estrangeiros e fundos internacionais era de 100 bilhões de dólares. E de início presumia-se que tal dívida seria repartida por todas as ex-repúblicas da URSS de forma solidária e proporcional ao potencial econômico delas. Contudo, a Rússia assumiu todo o pagamento da dívida soviética e o quitou por inteiro, terminando tal processo em 2017.

Em troca, os Estados independentes deveriam negar suas partes nos ativos soviéticos no exterior e os acordos correspondentes foram firmados com a Ucrânia em dezembro de 1994. Todavia, Kiev não ratificou tais acordos e mais tarde se recusou a cumpri-los, apresentando reivindicações sobre o fundo de diamantes, reserva de ouro, propriedades e outros ativos da ex-URSS no exterior. Apesar dos problemas conhecidos, a Rússia sempre cooperou com a Ucrânia de forma aberta, sincera, e repito, com respeito aos seus interesses, e nossas ligações se desenvolveram nas mais diferentes áreas. Assim, em 2011 o comércio bilateral passou dos US$ 50 bilhões. Quero ressaltar que o volume do comércio da Ucrânia com todos os países da UE em 2019, ou seja, antes da pandemia, era menor que tal montante.

Assim, ficou visível que as autoridades ucranianas preferiram agir de tal forma para ter todas as vantagens e direitos nas relações com a Rússia, mas não ter nenhuma obrigação. No lugar de parceria, começaram a se pendurar no nosso pescoço, o que, por parte dos políticos de Kiev, se tornou uma prática de caráter sem nenhuma cerimônia. Basta lembrar a constante chantagem na esfera do trânsito energético e o roubo banal de gás. Acrescento que Kiev tentou utilizar o diálogo com a Rússia como pretexto para negociações com o Ocidente. A Ucrânia chantageou o Ocidente ameaçando se aproximar de Moscou trazendo preferências para si, pois, caso contrário aumentará a influência russa na Ucrânia. Fora isso, as autoridades ucranianas desde o início, quero ressaltar, desde os primeiros passos começaram a construir seu Estado na negação de tudo aquilo que nos une, visando apagar a consciência, a memória histórica de milhões de pessoas, de gerações inteiras que vivem na Ucrânia. Não é de se surpreender que a sociedade ucraniana se deparou com um aumento do nacionalismo extremado que ganhou a forma da russofobia e neonazismo. A partir daí que veio a participação de nacionalistas ucranianos e neonazistas nos grupos terroristas no Norte do Cáucaso que cada vez mais faziam reivindicações territoriais à Rússia.

Também tiveram seu papel forças externas, as quais com a ajuda de uma rede de ONGs e serviços de inteligência cultivaram na Ucrânia sua clientela e a levaram seus representantes ao poder. É importante entender que a Ucrânia nunca teve uma tradição firme de seu estado genuíno. Começando em 1991 iniciou-se o caminho da cópia mecânica de modelos alheios, separados da história e da realidade ucraniana. Os institutos estatais políticos se voltavam para o desejo dos clãs rapidamente formados e com seus interesses intrínsecos, não tendo nada em comum com os interesses do povo da Ucrânia. Todo o sentido da chamada escolha pró-ocidental e civilizada do poder oligárquico da Ucrânia não se resume na criação de condições para o bem-estar da população, mas sim é servil e atende aos adversários geopolíticos da Rússia, assim como manter bilhões de dólares roubados dos ucranianos e escondidos pelos oligarcas em contas em bancos ocidentais. Alguns grupos financeiros industriais, tomados por eles para a manutenção do partido e da política, inicialmente se apoiavam nos nacionalistas e radicais. Outros, na lábia, eram a favor de boas relações com a Rússia, da multiplicidade cultural e linguística e alcançaram o poder com a ajuda dos votos dos cidadãos que de forma sincera apoiaram tais aspirações, inclusive milhões de moradores do sudeste. Mas ao receber os cargos eles traíram seus eleitores rejeitando suas promessas pré-eleitorais e conduziram sua real política sob a diretiva dos radicais perseguindo seus aliados de ontem, ou seja, aquelas organizações sociais que apoiaram o bilinguismo e a cooperação com a Rússia. Se aproveitaram do fato de as pessoas que os apoiaram serem, por regra geral, seguidoras das leis, de visão moderada, acostumadas a confiar nas autoridades. Eles, distintamente dos radicais, não seriam agressivos e recorrer a ações ilegais.

Os radicais perderam totalmente a vergonha e suas pretensões cresciam a cada ano. Para eles não era difícil cada vez impor sua vontade ao fraco poder público, o qual foi tomado pelo vírus do nacionalismo e corrupção. Tal poder habilmente trocou os reais interesses econômicos e sociais do povo, a real soberania da Ucrânia por diferentes tipos de especulações no campo nacional e a parafernália etnográfica externa. Um Estado firme não se formou na Ucrânia, mas os procedimentos eleitorais e políticos só servem para cobrir a reformulação do poder e propriedade entre os clãs oligárquicos.

A corrupção, que sem dúvidas é um desafio e problema para muitos países, inclusive na Rússia, na Ucrânia ganhou um caráter especial. Ela literalmente absorveu o Estado ucraniano, todo o sistema e todos os ramos do poder. Os radicais se aproveitaram da insatisfação justa da população, realizaram um protesto e em 2014 tornaram o Maidan em um golpe de Estado tendo cooperação direta com os serviços de inteligência estrangeiros. Segundo dados obtidos, a ajuda material do chamado acampamento de protesto na praça da Independência em Kiev por parte da embaixada dos EUA foi de US$ 1 milhão por dia. Enormes quantias de dinheiro adicionais eram abertamente depositadas nas contas bancárias dos líderes da oposição. E estou falando de dezenas de milhões de dólares. E quanto receberam as pessoas que realmente sofreram, as famílias daqueles que morreram nos embates provocados nas ruas e praças de Kiev e em outras cidades? É melhor nem perguntar.

Os radicais, que tomaram o poder, organizaram uma perseguição, um verdadeiro terror contra aqueles que se manifestaram contra as medidas inconstitucionais. Zombaram de políticos, jornalistas, líderes sociais, e os humilharam publicamente. As cidades ucranianas foram tomadas por pogrons e violência, uma série de assassinatos escandalosos e sem punição. É impossível não se lembrar sem comoção a terrível tragédia em Odessa, quando participantes de uma manifestação pacífica foram selvagemente mortos, queimados ainda com vida na central sindical. Os criminosos que cometeram tal feito não foram punidos e ninguém os procura. Mas nós sabemos até seus nomes e faremos de tudo para os castigar, encontrar e os entregar à Justiça.

Maidan não aproximou a Ucrânia com a democracia e progresso. Realizando um golpe de Estado, os nacionalistas e forças políticas, as quais os apoiavam, levaram a situação a um beco sem saída e a Ucrânia ao abismo da guerra civil. 8 anos após tais eventos, o país está dividido. A Ucrânia vive uma crise socioeconômica muito forte.

De acordo com organizações internacionais, em 2019, quase seis milhões de ucranianos, enfatizo que isso é cerca de 15%, não dos aptos ao trabalho, mas de toda a população do país, foram forçados a emigrar em busca de trabalho. E muitas vezes, como regra, para ganhos diários não qualificados. O seguinte fato também é expressivo: desde 2020, mais de 60.000 médicos e outros profissionais de saúde deixaram o país durante a pandemia. Desde 2014, as tarifas de abastecimento de água aumentaram quase um terço, de eletricidade – várias vezes, de gás para residências – dezenas de vezes. Muitas pessoas não têm dinheiro para pagar pela água e luz e eles literalmente têm que sobreviver.

E o que aconteceu? Por que tudo isso está acontecendo? A resposta é óbvia: porque o dote, recebido não apenas da era soviética, mas também do Império Russo, foi desperdiçado e levado para os bolsos. Dezenas e centenas de milhares de empregos foram perdidas, o que, graças, entre outras coisas, à estreita cooperação com a Rússia, deu às pessoas uma renda estável e trouxe impostos ao tesouro. Indústrias como engenharia mecânica, instrumentação, eletrônica, construção naval e construção de aeronaves estão jogadas ou completamente destruídas e, de fato, que uma vez se orgulhavam não apenas a Ucrânia, mas toda a União Soviética.

Em 2021, foi dissolvida fábrica de construção de navios Chernomorsky em Nikolaev, cujos primeiros estaleiros foram construídos ainda durante a czarina Ekaterina II. O concern Antonov, desde 2016 não lançou nenhum avião de série, e a fábrica Yuzhmash, especializada na produção de tecnologia de foguetes espaciais, ficou à beira da falência, assim como a metalurgia Kremenchugsky. E por aí vai a lista. Quanto ao sistema de transporte de gás, que foi criado por toda a União Soviética, está tão degradado que sua operação está associada a grandes riscos e custos ambientais. E a esse respeito, surge a pergunta: é a pobreza, a desesperança, a perda do potencial industrial e tecnológico – esta é a escolha civilizacional pró-ocidental que vem enganando e enganando milhões de pessoas por muitos anos, prometendo-lhes o paraíso?

Na verdade, tudo se resumiu ao fato de que o colapso da economia ucraniana é acompanhado pelo roubo total dos cidadãos do país, e a própria Ucrânia foi simplesmente conduzida sob controle externo. Isso é feito não apenas a pedido das capitais ocidentais, mas também, como dizem, diretamente no local – por meio de toda uma rede de consultores estrangeiros, ONGs e outras instituições implantadas na Ucrânia. Eles têm um impacto direto em todas as decisões pessoais mais importantes, em todos os ramos e níveis de governo: desde o central e até o municipal, nas principais empresas e corporações estatais, incluindo Naftogaz, Ukrenergo, a malha ferrovia ucraniana, Ukroboronprom, Ukrposhta e a Administração de Portos Marítimos da Ucrânia.

Também não existe um tribunal independente na Ucrânia. A pedido do Ocidente, as autoridades de Kiev deram a representantes de organizações internacionais o direito de preferência para selecionar membros dos mais altos órgãos judiciais – o Conselho de Justiça e a Comissão de Qualificação de Juízes.

Além disso, a Embaixada dos EUA controla diretamente a Agência Nacional de Prevenção da Corrupção, o Escritório Nacional Anticorrupção, o Gabinete do Procurador Especializado Anticorrupção e o Supremo Tribunal Anticorrupção. Tudo isso é feito sob o pretexto plausível de aumentar a eficácia do combate à corrupção. Tudo bem, mas cadê os resultados? A corrupção floresceu tão luxuriantemente, e floresce, mais do que nunca. Os próprios ucranianos estão cientes de todos esses métodos gerenciais? Eles entendem que seu país não está nem sob um protetorado político e econômico, mas reduzido ao nível de uma colônia com um regime fantoche? A privatização do Estado fez com que o governo, que se autodenomina o poder dos patriotas, tenha perdido seu caráter nacional e esteja sempre conduzindo a questão para a completa dessoberania do país.

O caminho para a desrrussificação e assimilação forçada continua. O parlamento ucraniano está constantemente emitindo novos atos discriminatórios, a lei sobre os chamados povos indígenas já está em vigor. Para as pessoas que se consideram russas e gostariam de preservar sua identidade, língua, cultura, deixaram claro que elas são estranhas na Ucrânia. De acordo com as leis sobre educação e sobre o funcionamento da língua ucraniana como língua estatal, o idioma russo é removido das escolas, de todas as esferas públicas, até das lojas comuns. A lei sobre a chamada lustração, a limpeza do poder, tornou possível lidar com funcionários públicos indesejáveis. Proliferam os atos que dão aos órgãos de aplicação da lei ucranianos motivos para a dura repressão da liberdade de expressão, a dissidência e a perseguição da oposição. O mundo conhece a triste prática de sanções unilaterais ilegítimas contra outros Estados, pessoas físicas e jurídicas estrangeiras. Na Ucrânia, eles superaram seus curadores ocidentais e inventaram uma ferramenta como sanções contra seus próprios cidadãos, empresas, canais de TV, outras mídias e até deputados do parlamento. Em Kiev, eles continuam preparando represálias contra a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou. E isso não é uma avaliação emocional, isso é evidenciado por decisões e documentos específicos. As autoridades ucranianas transformaram cinicamente a tragédia da cisma da Igreja em um instrumento de política estatal. A atual liderança do país não responde aos pedidos dos cidadãos da Ucrânia para revogar as leis que infringem os direitos dos crentes. Além disso, a Rada registrou novos projetos de lei dirigidos contra o clero e milhões de paroquianos da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou.

Separadamente, falarei sobre a Crimeia. Os habitantes da península fizeram sua livre escolha – estar junto com a Rússia. As autoridades de Kiev não têm nada a opor a esta vontade clara do povo, por isso apostam em ações agressivas, na ativação de células extremistas, incluindo organizações islâmicas radicais, na infiltração de grupos de sabotagem para cometer ataques terroristas a infraestruturas críticas, sequestrar cidadãos russos. Temos evidências diretas de que essas ações agressivas são realizadas com o apoio de serviços de inteligência estrangeiros.Em março de 2021, a Ucrânia adotou uma nova Estratégia Militar. Este documento é quase inteiramente dedicado ao confronto com a Rússia, visa atrair Estados estrangeiros para o conflito com o nosso país. A estratégia propõe a organização na Crimeia russa e no território de Donbass, na verdade, um submundo terrorista. Também define os contornos da guerra proposta, e deve terminar, como parece aos estrategistas de Kiev de hoje, citarei mais adiante – com a assistência da comunidade internacional em termos favoráveis ​​para a Ucrânia. E também, como dizem hoje em Kiev, também cito aqui, ouçam com atenção, por favor, com apoio militar da comunidade mundial no confronto geopolítico com a Federação da Rússia. Na verdade, isso nada mais é do que preparação para hostilidades contra nosso país – contra a Rússia. Também sabemos que já houve declarações de que a Ucrânia vai criar suas próprias armas nucleares, e isso não é papo furado. A Ucrânia, de fato, ainda possui tecnologias nucleares soviéticas e meios de entrega de tais armas, incluindo aviação, bem como mísseis táticos operacionais Tochka-U, também de design soviético, com um alcance de mais de 100 quilômetros.

Mas eles vão fazer mais, é apenas uma questão de tempo. Há atrasos da era soviética. Assim, será muito mais fácil para a Ucrânia adquirir armas nucleares táticas do que para alguns outros Estados, não os citarei agora, que realmente conduzem tais desenvolvimentos, especialmente no caso de apoio tecnológico do exterior. E também não devemos excluir isso. Com o aparecimento de armas de destruição em massa na Ucrânia, a situação no mundo, na Europa, especialmente para nós, para a Rússia, mudará da maneira mais radical. Não podemos deixar de reagir a este perigo real, especialmente, repito, que os patronos ocidentais podem ajudar no aparecimento de tais armas na Ucrânia para criar outra ameaça ao nosso país. Vemos com que persistência o fortalecimento militar do regime de Kiev é realizado. Somente os Estados Unidos, desde 2014, destinaram bilhões de dólares para esses fins, incluindo o fornecimento de armas, equipamentos e treinamento de especialistas. Nos últimos meses, as armas ocidentais estão chegando à Ucrânia apenas em um fluxo contínuo, desafiadoramente, na frente de todo o mundo. As atividades das Forças Armadas e dos serviços especiais da Ucrânia são lideradas por conselheiros estrangeiros, sabemos disso muito bem.

Nos últimos anos, sob o pretexto de exercícios, contingentes militares de países da OTAN têm estado quase constantemente presentes no território da Ucrânia. O sistema de comando e controle das tropas ucranianas já está integrado aos da OTAN. Isso significa que o comando das Forças Armadas ucranianas, mesmo unidades e subunidades individuais, pode ser exercido diretamente a partir do quartel-general da OTAN. Os Estados Unidos e a OTAN iniciaram o desenvolvimento desavergonhado do território da Ucrânia como teatro de potenciais operações militares. Exercícios comuns regulares têm, obviamente, um foco antirrusso. Só no ano passado, mais de 23.000 militares e mais de mil equipamentos participaram. Já foi adotada uma lei sobre a admissão em 2022 das forças armadas de outros Estados ao território da Ucrânia para participar de exercícios multinacionais. É claro que estamos falando principalmente de tropas da OTAN. Pelo menos dez dessas manobras conjuntas estão planejadas para o próximo ano. É óbvio que tais eventos servem de cobertura para a rápida construção do agrupamento militar da OTAN no território da Ucrânia. Além disso, a rede de aeródromos modernizados com a ajuda dos americanos – Borispol, Ivano-Frankovsk, Chuguev, Odessa etc. – é capaz de garantir a transferência de unidades militares no menor tempo possível. O espaço aéreo da Ucrânia está aberto para voos de aeronaves estratégicas e de reconhecimento dos EUA, veículos aéreos não tripulados que são usados ​​para monitorar o território da Rússia.

Acrescento que o Centro de Operações Navais de Ochakovo, construído pelos americanos, permite assegurar a atuação dos navios da NATO, incluindo o uso de armas de alta precisão por eles contra a Frota do Mar Negro da Rússia e a nossa infraestrutura ao longo de toda a costa do mar Negro. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos pretendiam criar instalações semelhantes na Crimeia, mas a Crimeia e Sevastopol frustraram esses planos. Sempre nos lembraremos disso. Repito, hoje tal centro foi implantado, já foi implantado em Ochakovo. Deixe-me trazer uma lembrança que no século XVIII os soldados de Aleksandr Suvorov lutaram por esta cidade. Graças à coragem deles, ela se tornou parte da Rússia. Então, no século XVIII, as terras da região do mar Negro, anexadas à Rússia como resultado das guerras com o Império Otomano, foram chamadas de Novorossiya. Agora eles estão tentando esquecer esses marcos da história, bem como os nomes de figuras militares estatais do Império Russo, sem cujo trabalho a Ucrânia moderna não teria muitas grandes cidades e até mesmo a saída para o mar Negro. Recentemente, um monumento a Aleksandr Suvorov foi demolido em Poltava. O que você pode dizer? Renunciar ao seu próprio passado? Da chamada herança colonial do Império Russo? Bem, então seja consistente aqui. Observo que o Artigo 17 da Constituição da Ucrânia não permite a implantação de bases militares estrangeiras em seu território. Mas descobriu-se que esta é apenas uma convenção que pode ser facilmente contornada.

Missões de treinamento dos países da OTAN estão implantadas na Ucrânia. Estas, de fato, já são bases militares estrangeiras. Eles apenas chamaram a base de missão e pronto. Kiev há muito proclamou um curso estratégico para a adesão à OTAN. Sim, claro, cada país tem o direito de escolher seu próprio sistema de segurança e concluir alianças militares. E tudo parece ser assim, se não por um ‘porém’. Documentos internacionais registram expressamente o princípio da segurança igual e indivisível, que, como se sabe, inclui a obrigação de não fortalecer a própria segurança em detrimento da segurança de outros Estados. Também posso me referir aqui à Carta da OSCE para a Segurança Europeia de 1999, adotada em Istambul, e à Declaração de Astana da OSCE de 2010. Em outras palavras, a escolha de maneiras de garantir a segurança não deve representar uma ameaça para outros Estados, e a entrada da Ucrânia na OTAN é uma ameaça direta à segurança da Rússia.

Vale lembrar que em abril de 2008, na cúpula de Bucareste da Aliança do Atlântico Norte, os Estados Unidos forçaram a decisão de que a Ucrânia e, a propósito, a Geórgia se tornariam membros da OTAN. Muitos aliados europeus dos Estados Unidos já estavam bem cientes de todos os riscos de tal perspectiva, mas foram forçados a aceitar a vontade de seu parceiro sênior. Os norte-americanos simplesmente os usaram para realizar uma política antirrussa declarada. Vários Estados-membros da Aliança ainda estão muito céticos quanto ao aparecimento da Ucrânia na OTAN. Ao mesmo tempo, algumas capitais europeias nos dizem: ‘Por que vocês se preocupam? Isso não vai acontecer literalmente amanhã.’ Na verdade, nossos parceiros americanos também estão falando sobre isso. ‘Bom’, respondemos, ‘não amanhã, então depois de amanhã. O que isso muda na perspectiva histórica? Basicamente, nada.’ Além disso, conhecemos a posição e as palavras da liderança dos Estados Unidos de que as hostilidades ativas no leste da Ucrânia não excluem a possibilidade de este país ingressar na OTAN se puder atender aos critérios da Aliança do Atlântico Norte e derrotar a corrupção.

Ao mesmo tempo, eles tentam nos convencer repetidamente de que a OTAN é uma aliança amante da paz e puramente defensiva. Ou seja, não há ameaças para a Rússia. Mais uma vez, eles se oferecem para dar uma palavra. Mas sabemos o valor real de tais palavras. Em 1990, quando a questão da unificação alemã estava sendo discutida, a liderança soviética foi prometida pelos EUA que não haveria extensão da jurisdição da OTAN ou presença militar uma polegada para o Leste. E que a unificação da Alemanha não levará à expansão da organização militar da OTAN para o Leste. Isto é uma citação. Eles falaram e falaram, deram garantias verbais, e tudo acabou sendo da boca para fora. Mais tarde, foi-nos assegurado que a adesão à OTAN dos países da Europa Central e Oriental apenas melhoraria as relações com Moscou, aliviaria estes países dos receios de um pesado legado histórico e, ainda, criaria um cinturão de Estados amigos da Rússia. Tudo acabou exatamente ao contrário. As autoridades de alguns países do Leste Europeu, utilizando a russofobia, trouxeram seus complexos e estereótipos sobre a ameaça russa à Aliança, insistiram em construir potenciais de defesa coletiva, que deveriam ser mobilizados principalmente contra a Rússia. Além disso, isso aconteceu nos anos 1990 e início dos anos 2000, quando, graças à abertura e à nossa boa vontade, as relações entre a Rússia e o Ocidente estavam em alto nível.

A Rússia cumpriu todas as suas obrigações, inclusive retirou suas tropas da Alemanha, dos países da Europa Central e do Leste Europeu e também deu grande contribuição na superação da herança da Guerra Fria. Nós oferecemos diferentes tipos de cooperação, inclusive no formato do Conselho Rússia-OTAN e OSCE. Direi ainda o que nunca falei publicamente. Em 2000, durante visita a Moscou o presidente dos EUA Bill Clinton, que estava saindo do cargo, eu perguntei a ele: o que os EUA acham de aceitar a Rússia na OTAN? Não direi todos os detalhes desta conversa, mas a reação à minha pergunta por fora parecia muito contida, mas como os norte-americanos realmente achavam desta possibilidade é visível nos passos práticos em relação ao nosso país. Isto é, o apoio aberto aos terroristas no Norte do Cáucaso, uma relação desdenhosa às nossas exigências e preocupações na esfera da segurança e expansão da OTAN, a saída do tratado de mísseis antibalísticos e assim por diante. Gostaria de perguntar: para quê? Para que tudo isso e com que finalidade? Tudo bem que não querem nos ver como aliado ou amigo, mas para que nos fazer um inimigo? A resposta é só uma: a questão não é nossa gestão política, ou em outra questão, mas sim o fato de lhes incomodar um país tão grande e independente como a Rússia. Esta é a resposta a todas as perguntas. Esta é a fonte da tradicional política dos EUA em relação à Rússia. É daí que vem toda a relação às nossas preposições no campo da segurança. Hoje basta olhar para o mapa para ver como os países ocidentais mantiveram sua palavra de não expandir a OTAN para o Leste. Simplesmente nos enganaram. Recebemos uma atrás da outra, ou seja, cinco ondas de expansão da OTAN. Em 1999, a aliança recebeu a Polônia, República Tcheca e Hungria. Em 2004 a Bulgária, Estônia, Lituânia, Letônia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia. Em 2009 a Albânia e a Croácia. Em 2017 Montenegro e em 2020 a Macedônia do Norte. Como resultado, a aliança e sua infraestrutura militar foram para as fronteiras da Rússia. Isto se tornou uma das principais razões da crise da segurança no espaço europeu. A forma mais negativa refletiu em todo o sistema das relações internacionais e levou ao desgaste do entendimento mútuo.

A situação continua a degradar-se, inclusive na esfera estratégica. Na Romênia e na Polônia, no âmbito do projeto dos EUA de criação de um sistema antimíssil global são estabelecidos distritos para o sistema antimíssil. Sabe-se que tais aparelhos podem ser usados para o lançamento de mísseis Tomahawk. Além disso, nos EUA está em progresso o desenvolvimento do míssil universal Standard-6, o qual lidando com a defesa antiaérea e antimíssil pode destruir alvos na terra como no mar. Ou seja, o sistema de defesa antimíssil dos EUA se alarga e surgem novas possibilidades de ataque. A informação que nós possuímos nos dá razão para acreditar que a entrada da Ucrânia na OTAN e a instalação nela de equipamentos da aliança é uma questão previamente decidida, uma questão de tempo. Nós entendemos muito bem que em tal cenário o nível de ameaças militares contra a Rússia crescerá por diversas vezes. Presto especial atenção ao fato de que cresce o perigo de um ataque repentino contra nosso país. Nos documentos de planejamento estratégico norte-americanos está inserida a possibilidade do chamado ataque preventivo contra os sistemas de mísseis do inimigo. E nós sabemos quem é o principal inimigo dos EUA e da OTAN. É a Rússia. Nos documentos da OTAN nosso país é chamado oficialmente de a principal ameaça à segurança euro-atlântica. E na qualidade de uma cabeça de ponte para tal ataque servirá a Ucrânia. Se nossos antepassados tivessem ouvido isso eles não acreditariam. E nem nós queremos acreditar nisso hoje, mas é assim.

Gostaria que entendessem isso na Rússia e na Ucrânia. Muitos aeródromos ucranianos estão localizados próximo de nossas fronteiras. Uma vez lá, a aviação tática da OTAN, incluindo aeronaves com armas de grande precisão, pode destruir nosso território em sua profundeza até os limites em Volgogrado, Kazan, Samara e Astrakhan. A implantação no território da Ucrânia de sistemas de inteligência eletrônica permitirá à OTAN firmemente controlar o espaço aéreo da Rússia até os Urais. Finalmente, depois que os Estados Unidos romperam o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, o Pentágono já está desenvolvendo abertamente toda uma gama de armas de ataque terrestre, incluindo mísseis balísticos capazes de atingir alvos a uma distância de até 5.500 quilômetros. Se esses sistemas forem implantados na Ucrânia, eles poderão atingir objetos em todo o território europeu da Rússia, bem como além dos Urais. O tempo de voo para Moscou para mísseis de cruzeiro Tomahawk será inferior a 35 minutos, para mísseis balísticos da área de Kharkov – de 7 a 8 minutos, e para armas de ataque hipersônicas – de 4 a 5 minutos. Isso é chamado, diretamente, “faca na garganta”. E eles, sem dúvida, esperam implementar esses planos da mesma maneira que fizeram repetidamente nos últimos anos, expandindo a OTAN para o Leste, empurrando infraestrutura e equipamentos militares para as fronteiras russas, ignorando completamente nossas preocupações, protestos e advertências. Desculpe, eles apenas cuspiram neles e fizeram o que quiseram, o que acharam melhor. E, claro, eles também pretendem continuar a se comportar de acordo com o conhecido ditado: “O cachorro late, mas a caravana segue em frente.” Direi imediatamente que não concordamos com isso e nunca concordaremos. Ao mesmo tempo, a Rússia sempre defendeu e defende que os problemas mais difíceis sejam resolvidos por métodos políticos e diplomáticos, à mesa das negociações.

Estamos bem cientes de nossa colossal responsabilidade pela estabilidade regional e global. Em 2008, a Rússia apresentou uma iniciativa para concluir um Tratado de Segurança Europeia. Seu significado era que nem um único Estado e nem uma única organização internacional no euro-atlântico poderia fortalecer sua segurança à custa da segurança de outros. No entanto, nossa proposta foi rejeitada do nada: é impossível, dizem eles, permitir que a Rússia limite as atividades da OTAN.

Além disso, foi-nos dito explicitamente que apenas os membros da Aliança do Atlântico Norte podem ter garantias de segurança juridicamente vinculativas. Em dezembro passado, entregamos aos nossos parceiros ocidentais um projeto de tratado entre a Federação da Rússia e os Estados Unidos da América sobre garantias de segurança, bem como um projeto de acordo sobre medidas para garantir a segurança da Federação Rússia e dos Estados membros da OTAN. Houve muitas palavras comuns em resposta dos EUA e da OTAN. Havia também elementos racionais, mas tudo isso dizia respeito a pontos menores e parecia uma tentativa de encerrar a questão, desviar a discussão para o lado. Respondemos a isso de forma adequada, ressaltando que estamos prontos para seguir o caminho das negociações, porém, com a condição de que todas as questões sejam consideradas em um pacote complexo, sem separação das principais propostas básicas russas. E eles contêm três pontos-chave. A primeira é impedir uma maior expansão da OTAN. A segunda é a recusa da Aliança em implantar sistemas de armas de ataque nas fronteiras russas. E, finalmente, o retorno do potencial militar e da infraestrutura do bloco na Europa ao estado de 1997, quando foi assinado o Ato Fundador Rússia-OTAN. São precisamente estas nossas propostas fundamentais que foram ignoradas. Os parceiros ocidentais, repito, mais uma vez expressaram as fórmulas aprendidas de que cada Estado tem o direito de escolher livremente as formas de garantir sua segurança e entrar em quaisquer alianças e alianças militares. Ou seja, nada mudou na sua posição, ouvem-se as mesmas referências à notória política de “portas abertas” da OTAN.

Além disso, eles estão novamente tentando nos chantagear, estão novamente ameaçando com sanções, que, aliás, eles ainda vão introduzir à medida que a soberania da Rússia se fortalece e o poder de nossas Forças Armadas cresce. E um pretexto para outro ataque de sanções sempre será encontrado ou simplesmente inventado, independentemente da situação na Ucrânia. Há apenas um objetivo – restringir o desenvolvimento da Rússia. E vão fazê-lo, como faziam antes, mesmo sem qualquer pretexto formal, só porque existimos e nunca comprometeremos a nossa soberania, os nossos interesses nacionais e os nossos valores. Gostaria de dizer claramente, com franqueza, na situação atual, quando nossas propostas para um diálogo igualitário sobre questões fundamentais na verdade ficaram sem resposta pelos Estados Unidos e pela OTAN, quando o nível de ameaças ao nosso país está aumentando significativamente, a Rússia tem todo o direito de tomar medidas de retaliação para garantir a sua própria segurança. É exatamente isso que faremos.

Quanto à situação em Donbass, vemos que a elite dominante em Kiev declara constante e publicamente sua relutância em implementar o pacote de medidas de Minsk para resolver o conflito e não está interessada em uma solução pacífica. Pelo contrário, está tentando organizar novamente uma blitzkrieg em Donbass, como já aconteceu em 2014 e 2015. Como essas aventuras terminaram nós lembramos. Agora praticamente não passa um único dia sem bombardeios de assentamentos em Donbass. O grande grupo militar formado usa constantemente drones de ataque, equipamentos pesados, foguetes, artilharia e vários lançadores de foguetes. A matança de civis, o bloqueio, a zombaria das pessoas, incluindo crianças, mulheres, idosos, não param. Como dizemos, não há fim à vista para isso. E o chamado mundo civilizado, do qual nossos colegas ocidentais autoproclamados se declararam os únicos representantes, prefere não perceber isso, como se todo esse horror, o genocídio, ao qual estão submetidas quase quatro milhões de pessoas, não existem, e só porque essas pessoas não concordaram com o golpe de Estado apoiado pelo Ocidente na Ucrânia em 2014, se opuseram à elevação ao posto de movimento estatal em direção ao rude nacionalismo agressivo e ao neonazismo. E eles estão lutando por seus direitos elementares – viver em sua própria terra, falar sua própria língua, preservar sua cultura e tradições.

Até quando essa tragédia vai continuar? Quanto tempo mais pode-se suportar isso? A Rússia fez de tudo para preservar a integridade territorial da Ucrânia, todos esses anos lutou persistente e pacientemente pela implementação da Resolução 2202 do Conselho de Segurança da ONU de 17 de fevereiro de 2015, que consolidou o pacote de medidas Minsk de 12 de fevereiro de 2015 para resolver a situação em Donbass. Tudo é em vão. Os presidentes e deputados da Rada mudam, mas a essência, o caráter agressivo e nacionalista do próprio regime, que tomou o poder em Kiev, não muda. É total e completamente um produto do golpe de Estado de 2014, e aqueles que então embarcaram no caminho da violência, derramamento de sangue, ilegalidade não reconheceram e não reconhecem nenhuma outra solução para a questão de Donbass, exceto a militar.

A este respeito, considero necessário tomar uma decisão há muito esperada de reconhecer imediatamente a independência e a soberania da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk. Peço à Assembleia Federal da Federação da Rússia que apoie esta decisão e depois ratifique o Tratado de Amizade e Assistência Mútua com ambas as repúblicas. Esses dois documentos serão preparados e assinados em um futuro muito próximo. Já daqueles que conquistaram e seguram o poder em Kiev, nós exigimos que cessem as atividades militares imediatamente. Caso contrário, toda a responsabilidade pela possível continuação do derramamento de sangue ficará por inteiro na consciência de vosso regime governante no território da Ucrânia. Anunciando as decisões tomadas hoje, estou certo do apoio dos cidadãos da Rússia e de todas as forças patrióticas do país. Agradeço a vossa atenção.

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