De acordo com a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV), foram publicadas, entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2022, mais de 394 mil mensagens no Facebook sobre uma eventual fraude nas eleições presidenciais. As publicações teriam gerado mais 111 milhões de interações — isto é, uma média de 247 mil curtidas, comentários e compartilhamentos por dia.
Um total de onze perfis na internet seria responsável, segundo o estudo, pela maioria das publicações. Todos eles são diretamente ligados à extrema-direita, como a página da deputada federal Carla Zambelli (PSL) e o grupo Aliança pelo Brasil.
A notícia logo despertou a reação do jornal golpista Folha de S.Paulo, um dos órgãos obcecados com a ideia de controlar — leia-se, censurar — o conteúdo produzido pelas redes sociais. Em matéria publicada no dia 11 de fevereiro, a Folha destacou a fala de um diretor da FGV, criticando o que chamou de “desinformação contra o processo eleitoral”. O funcionário chegou a levantar a suspeita de que muitas das publicações teriam sido custeadas com “dinheiro público”.
No final da matéria, a Folha de S.Paulo ainda destaca que, nos Estados Unidos, publicações que contestassem o sistema eleitoral são passíveis de várias sanções, como a proibição da compra de anúncios. O artigo sublinha que, no Brasil, ainda não há uma política semelhante. Não há dúvidas de que é exatamente aquilo que os donos da Folha gostariam.
Acontece que, sejam bolsonaristas ou não, todos que quiserem contestar o sistema eleitoral deveriam ter esse direito. Afinal, se a liberdade de expressão não for irrestrita, não se trata de uma liberdade real. E se não há liberdade de expressão, tem-se, inevitavelmente, uma ditadura. Se, por um acaso, o Estado cometer arbitrariedades contra a população, e essa população não tem plena liberdade para contestá-las, estamos falando, obviamente, de uma ditadura. Ainda mais quando a censura se dá exatamente em uma crítica das pessoas que não se dá em meio a uma discussão abstrata — sobre o “belo”, a “arte”, ou coisas do tipo —, mas sim sobre a forma como o Estado deveria funcionar.
O que a Folha de S.Paulo quer — assim como toda a burguesia, que entra de cabeça neste tipo de campanha — é que a Justiça Eleitoral brasileira seja incontestável! Ora, mas nenhum quadro poderia expressar melhor o que é uma ditadura: a voz de meia dúzia de juízes, desconhecidos do povo, que não foram eleitos por absolutamente ninguém, têm o “direito” de escrever leis em suas tábuas sagradas que não podem ser contestadas! Do ponto de vista dos direitos democráticos, não difere, em nada, da ditadura militar.
Mesmo que fossem tão absurdas as teses de fraude nas eleições, por que não deixar que publiquem livremente no Facebook? Que “ameaça” poderia de haver de o povo, que não é munido de nenhuma instituição, acusar o TSE de fraudar as eleições, caso fossem organizadas de maneira a contemplar os interesses do povo? O que o Judiciário e a imprensa demonstram, com esse tipo de comportamento, é que “há caroço nesse angu”. Isto é, se a necessidade de calar quem fala em fraude é tão grande, é porque há um medo de que o processo eleitoral seja investigado e questionado.
E não é para menos. Afinal, não só são meia dúzia de malucos da extrema-direita que está denunciando a possibilidade de fraude. A esquerda, que é tradicionalmente sabotada pelo regime, tem, entre suas bandeiras, a denúncia de todas as arbitrariedades do sistema eleitoral. Em 2018, por exemplo, toda a esquerda foi vítima de uma fraude colossal, que foi a cassação da candidatura de Lula. Em 2022, o que se sabe é que a empresa que fabricará as urnas é ligada ao carrasco do ex-presidente, o ex-juiz Sergio Moro.
Motivos para a fraude não faltam. Lula é o primeiro colocado nas pesquisas e apoiado por um amplo movimento. É um candidato com grande força, ao mesmo tempo que o único candidato da direita que tem apresentando chances reais de confrontá-lo é o próprio Jair Bolsonaro, que não é um representante tradicional da burguesia. Seja para impedir a eleição de Lula, seja para garantir que o candidato da direita mais bem colocado seja alguém como Sergio Moro ou João Doria, a fraude é uma necessidade para os golpistas.