A Copa do Mundo 2022, no Catar, está a pleno vapor. O maior campeonato esportivo de uma única modalidade do planeta ocorre em meio a uma série de campanhas do imperialismo e, quanto aos países envolvidos na competição, se expressa em ataques abertos contra o próprio Catar e ao Irã. Enquanto o Catar é alvo para desmoralizar a competição, que tem como favorito o Brasil, um país atrasado, o Irã enfrenta uma tentativa de revolução colorida em seu território. Essas campanhas se traduzem para dentro do campeonato, com os jornalistas esportivos do imperialismo pressionando jogadores das seleções dos países atrasados. Porém, desta vez, jornalistas iranianos passaram a fazer o mesmo com a equipe dos EUA.
Na coletiva de imprensa, na segunda-feira (28), que precedeu a partida entre Irã e Estados Unidos, na terça-feira (29), frente à colocação por parte do técnico e do capitão da seleção americana de que estariam em apoio aos protestos no Irã, os jornalistas fizeram suas próprias indagações sobre o antro do imperialismo. Um membro da Press TV, estatal iraniana, corrigiu a pronúncia do nome do país pelo capitão da seleção dos EUA, e depois perguntou a ele, que é negro, como é representar um país com tantos problemas de racismo dentro da própria fronteira, citando os movimentos que se notabilizaram nos últimos anos. O atleta disse que há discriminação em todo lugar, e o importante é que a situação vem melhorando no país.
Em outra pergunta, foi questionado que a conta oficial da seleção dos EUA, no Twitter, publicou imagem com a bandeira do Irã alterada, sem o símbolo da República Islâmica. A resposta do técnico colocou que é algo para além do controle do pessoal e dos jogadores da seleção, e se desculpou em nome de todos eles. A publicação foi apagada após o fato, e substituída por outra com a bandeira integral.
Sobre o teor da competição, os jornalistas ainda aproveitaram a coisa para questionar a agressão dos EUA. Um repórter perguntou: “O esporte é algo que deveria aproximar as nações, e você é um desportista. Por que não poderia pedir ao seu governo que retire sua frota militar do Golfo Pérsico?” Ao que o técnico disse concordar com a afirmação sobre o caráter do esporte. Ele ainda foi perguntado sobre as leis americanas rígidas que impedem a entrada de iranianos no país, ao que respondeu não saber muito sobre política internacional.
Uma das perguntas, talvez a de maior destaque, foi formulada da seguinte maneira: “Qual a porcentagem da população mundial que ficará feliz se o Irã vencer essa partida?”
A postura dos jornalistas do Irã vem na esteira da campanha do imperialismo contra o país. Não apenas atacando militar e economicamente, mas financiando protestos pela derrubada do governo iraniano. A pressão imperialista também apareceu nas coletivas de imprensa. O técnico da seleção iraniana chegou a responder a pergunta de uma jornalista da BBC, que perguntou sobre o que pensava dos protestos no Irã. Ele retrucou, questionando o porquê de ela não serem feitas tais perguntas de teor político a outros treinadores, e ainda deu um exemplo: “Por que você não pergunta ao Southgate [técnico da seleção da Inglaterra] ‘O que você pensa sobre a Inglaterra e os Estados Unidos que deixaram o Afeganistão e todas as mulheres lá?’”
A postura dos jornalistas do Irã coloca o que o mundo inteiro quer ver. Não é reflexo puro de uma campanha golpista, mas justamente a oposição a isso, é reflexo dos explorados que questionam seu algoz e é o papel, portanto, de jornalistas. Agindo não como marionetes, verdadeiros títeres da máquina de guerra imperialista, mas pelo contrário, os repórteres do Irã colocaram em evidência o que a campanha imperialista esconde: seus ataques violentos contra os povos do mundo e a ditadura das chamadas democracias no centro do imperialismo.
Os questionamentos enfáticos, em sucessão, sem largar o osso, são típicos quando realizados pelos monopólios da imprensa burguesa imperialista contra representantes de países atrasados, mas noticiados como fatos aberrantes se feitos por jornalistas de países atrasados contra o próprio imperialismo. São os países imperialistas os que têm a responder perante o mundo, não o contrário. Os jornalistas do Irã expressam, nesse sentido, a vontade de todos os explorados do mundo ao questionar essa máquina de moer os povos frontal e publicamente.