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Bruno Amaral de Carvalho

Jornalista fala direto de Donetsk após bombardeio ucraniano

Repórter português está em Donetsk cobrindo os ataques do exército ucraniano contra os civis

─ Bruno Amaral de Carvalho, Telegram ─ Esta manhã ouvi várias explosões no centro da cidade. Logo que soube que o Donbass Palace tinha sido atingido, pus-me a caminho.

Muitos dos jornalistas que trabalham na região estão alojados no mais conhecido dos hotéis de Donetsk. Mesmo os que nunca pernoitámos ali, todos nós já alguma vez trabalhámos a partir do bar do Donbass Palace aproveitando a boa qualidade da internet para enviar material audiovisual mais pesado. O edifício de 1938 é emblemático e chegou a ser ocupado pela Gestapo quando a cidade esteve sob o controlo das tropas nazis.

Pelo caminho, percebi que o Teatro Drama também tinha sido atingido enquanto ali se realizavam as cerimónias fúnebres de uma comandante pró-russa que morreu no dia anterior. Este facto torna ainda menos verosímil a versão ucraniana de que foram os próprios russos a bombardear um hotel cheio de jornalistas, entre os quais russos, e a bombardear um teatro com militares separatistas e também do próprio exército russo. Os serviços de inteligência dos dois países sabem bem quem é que está alojado no Donbass Palace e quem o atingiu deve explicar que propósito tinha ao apontar a artilharia pesada contra um lugar onde todos os jornalistas trabalhamos.

Quando cheguei ao hotel encontrei vários jornalistas, muitos deles ali alojados, e o corpo de uma mulher que por ali passava no momento do ataque.

O bar está parcialmente destruído, a maioria dos vidros das janelas dos quartos estão partidos e várias viaturas estavam danificadas. Enquanto fazíamos o nosso trabalho de recolher imagens e vídeos, fomos alvo de um novo ataque que nos obrigou a procurar um abrigo dentro do próprio hotel. Nesse momento, ali bem perto, no Boulevar Pushkin, um passeio pedonal com muita restauração, cinco civis morreram, incluindo uma mulher e a sua filha pequena.

Nenhum dos lugares atingidos constituia uma posição militar, nenhuma das vítimas mortais era parte do exército e o ataque a um hotel onde estão alojados tantos jornalistas só pode dar lugar a uma pergunta. Quem quer calar os jornalistas que trabalham em Donetsk cometendo crimes de guerra?

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