Após a queda do primeiro-ministro inglês Boris Johnson, a crise na Europa parece se voltar para frança com vazamentos revelando a política neoliberal do atual presidente Emmanuel Macron. Os documentos vazados para a imprensa inglesa The Guardian revelam que Macron, quando era ministro da economia antes de ser eleito, no governo François Hollande, realizou uma operação semi clandestina com a multinacional Uber para passar por cima dos taxistas franceses e legalizar a empresa no país.
O caso é um verdadeiro escândalo, digno de um país atrasado totalmente subserviente aos interesses dos monopólios imperialistas. O ex banqueiro Macron na época era ministro do governo socialista do Hollande, em um dos documentos vazados ele afirma que ele “montou um ‘acordo’ secreto com um gabinete socialista muito divido, que na época estava no poder”, nas palavras do jornal Guardian. Esse escândalo ficou conhecido como “uber files”, documentos de uber em português.
O repudio a Macron, que já iniciou seu segundo mandato com baixíssima popularidade, é enorme. Mathilde Panot, líder do partido de esquerda França Insubmissa no parlamento, denunciou o acontecimento como um “pilhagem da França” e atacou Macron como um “lobista em defesa das multinacionais norte-americanas que tem como objetivo acabar permanentemente com as leis trabalhistas”. O líder do Partido Comunista Fabien Roussel se também se posicionou: “contra todas as nossa regras, todas as nossas leis sociais e todas os direitos dos trabalhadores.”
Por fim o líder da central sindical CGT, Philippe Martinez afirmou: “O mínimo seria Macron explicar o que ele fez e como ele contribuiu não só para o estabelecimento do Uber na França mas, graças a lei chamada ‘lei Macron’, também contribuiu para atacar parte do codigo trabalhista em favor nesse tipo de atividade econômica com consequências sociais para os trabalhadores”. A oposição pede que haja algum tipo de inquérito para que Macron seja responsabilizado pelo escândalo.
Uma informação relevante dos documentos vazados foi a de que Macron tentou convecer o primeiro ministro na época a “calar” os taxistas que estava realizando grandes mobilizações contra a entrada do Uber na França. E que Macron, enquanto ministro, realizou reuniões com lobistas da empresa, com o fundador da Uber e com o próprio vice-presidente do grupo, David Plouffe, que também era um ex-conselheiro do presidente dos EUA Barack Obama. Há muitas outras denúncias nos milhares de documentos de 2013 até 2017 vazados.
Ante a gigantesca crise política que assola a Europa um escândalo deste tamanho é muito perigoso para o governo Macron. Na última semana a crise inflacionária derrubou o PM do Reino Unido, Boris Johnson, e o presidente francês não conta com uma enorme popularidade para se sustentar. Ele foi eleito pela segunda vez em uma manobra eleitoral em que a esmagadora maioria dos que votaram em Macron não concordam de fato com a política do ex banqueiro mas apenas estavam tentando evitar a vitória da extrema direita. E após 4 anos de governo, mesmo com o repeteco da manobra, Macron está muito desmoralizado.
Não só a esquerda como a extrema direita também estão criticando o ultra neoliberalismo do presidente. Jordan Bardella, do Reagrupamento Nacional, partido de Marine Le Pen, comentou que a carreira de Macron tem uma linha comum “servir aos interesses privados, frequentemente estrangeiros, antes de servir aos interesses nacionais.” O último governo de Macron conseguiu ser tão antipopular que a extrema direita por pouco não venceu as últimas eleições que aconteceram em abril de 2022.
Os regimes políticos europeus estão todos em decomposição, e o próprio governo Macron já é uma manifestação disso, um ex banqueiro supostamente esquerdista com um partido improvisado governo um dos países imperialistas mais importantes do mundo. Enquanto isso a polarização política cresce cada vez mais tamanha é a crise econômica o que dá origem ao fortalecimento da esquerda e principalmente da extrema-direita, que nos últimos anos se colocou como força mais dinâmica e independente do que a esquerda europeia.
A crise na Inglaterra deve acender o sinal vermelho para todos os países da Europa, a derrota da OTAN na Ucrânia somada as sanções econômicas que tem um peso negativo nas economias europeias podem não só derrubar o governo Inglês mas também muitos outros, e casos como o do escândalo francês pode ser a faísca que inciam a queda dos regimes políticos apodrecidos que tentam manter o capitalismo decadente de pé.





