No Brasil e no Mundo

Inflação revela prefácio de uma possível hecatombe financeira

Com a escalada dos conflitos na Ucrânia, no Brasil, a inflação revela o que pode se tornar uma das piores crises econômicas de toda a história do país.

A aceleração da crise brasileira e mundial revela o prefácio do que poderá vir a ser uma hecatombe financeira generalizada. Apenas no Brasil já se registra um aumento de 18% nos combustíveis, mesmo com o governo subsidiando parte do preço dos mesmos.

Internacionalmente existe uma tendência muito forte ao aumento da inflação, inclusive nos países mais ricos do mundo, os países imperialistas, o que significa que para o Brasil, sendo uma parte fraca dessa cadeia capitalista mundial, a inflação deve atingir o país com muita força, dada a tendência inflacionária prévia.

Esse dado é muito importante para a situação política brasileira, visto que o governo da burguesia brasileira ao não conseguir controlar a tendência inflacionária isso pode significar uma mudança política profunda na situação política nacional.

A moeda brasileira já apresentava uma séria tendência à desvalorização diante do dólar o que pode levar a um derretimento do poder de compra do real num repique inflacionário que pode vir a ser considerada uma hiperinflação.

Mas qual a importância do problema da inflação? Para responder a essa pergunta é preciso voltar um pouco no tempo e entender que a crise brasileira, da Ditadura Militar (1964-1985) em diante, sempre esteve muito associada à inflação.

A situação política no Brasil só se estabilizou depois de 1974 vinte anos mais tarde em 1994 com o Plano Real. Durante esse período predominou uma crise muito grande onde se destacava a presença da classe operária brasileira.

Num primeiro momento, impulsionados pela inflação, os trabalhadores dos setores mais concentrados da economia nacional, a indústria automobilística do ABC, entraram em greve pela reposição salarial. Isso a partir de 1978 numa greve espontânea, conhecida por greve da Scania.

Em 1979 essa greve se generaliza, transformando-se numa greve que vai acabar mobilizando outros setores além do ABC, como os metalúrgicos de São Paulo que entram massivamente em greve no mesmo ano. Em 1980 tem inicio a maior greve do ABC, que durou 40 dias e teve as lideranças sindicais presas, ficando claro que as medidas politicas da Ditadura Militar para conter o movimento grevista tinham se esgotado completamente.

Os operários nesse período impuseram na prática a liberdade de organização e o direito de greve, tornando inútil a intervenção de 1979 por meio da mobilização. Desde então se sucedem três anos de uma política recessiva, quando em 1993 a tendência grevista é retomada e se amplia acabando completamente com o governo José Sarnei (1985-1990). Ela acaba também com o MDB, que configura um fato muito importante para a história politica nacional.

Hoje em dia o MDB é tratado como um partido secundário, mas no período da queda da ditadura esse partido era o que detinha as condições políticas para tomar as rédeas do Estado e governar o país. Era um partido direitista, pró-imperialista, mas com um verniz nacionalista. Havia também muitos esquerdistas ali, característica própria do partido que de fato era um grande partido de massas do ponto de vista eleitoral que se opunha à ditadura, uma vez que o PT e o PDT eram ainda muito incipientes.

Essa espécie de coluna vertebral do novo regime é completamente quebrada pelas greves, tanto é que depois da candidatura de Tancredo Neves no colégio eleitoral, o MDB nunca teve um candidato que tivesse projeção nacional para ser presidente da república. No máximo o partido continuou dominando alguns estados onde prevaleceu a oligarquia estadual em vários lugares.

É possível perceber a importância do movimento grevista que levou a uma desestabilização geral, levando a burguesia ter que apelar depois do governo Sarney, esmagado pelas greves, para Fernando Collor que era do próprio MDB, mas acabou sendo apresentado como um candidato avulso, criando um partido de ultima hora para poder governar. Como se sabe este governo também caiu mostrando a instabilidade da época.

Depois veio o PSDB que conseguiu uma certa estabilidade com os Planos Econômicos que levaram o país a pior situação que ele já teve até hoje, mas que conseguiu quebrar as pernas do movimento operário. A grande conquista do ponto de visa burguesia foi o controle da inflação que permitiu controlar a classe operaria brasileira que entrou numa situação de refluxo a partir de 1995, o que se acentua depois da reeleição de FHC em 1998.

Agora com o atual repique da inflação que ainda é uma coisa relativamente modesta já é possível perceber que vários setores de professores e funcionários públicos começam a entrar em greve, uma tendência grevista que dá a impressão que é mais ampla e mais profunda do que as micro explosões que nos tivemos em alguns setores de categorias que entraram em greve.

A situação tende a uma radicalização ainda maior uma vez que os estados e municípios brasileiros estão falidos, e não possuem dinheiro para pagar aumento salarial de conjunto, tendo que agradar determinados setores em separado. Porém, a opção pelo congelamento de salários na atual situação é muito difícil de manter.

A inflação nominal estaria projetada pelos economistas ultra otimistas da burguesia em 8% ao ano, o que é uma projeção absurdamente baixa. Sabe-se que a metodologia de apuração dos indicies da inflação foi modificado para que os itens que fazem parte da chamada cesta básica das famílias operárias, vários desses itens foram expurgados. Nesse momento nos temos dois itens que são fundamentais para a maioria das famílias, que é a alimentação, com forte tendência de subida de preços, e os combustíveis que irão afetar o aumento dos preços dos transportes implicando de um ponto de vista realista numa inflação que poderá afetar a maioria da população brasileira facilmente na casa dos 20% a 25% para 2022. Uma inflação de tipo Argentina.

No País vizinho a moeda derreteu e a inflação já está completamente fora de controle. É preciso, portanto, acompanhar cuidadosamente o desenvolvimento do problema inflacionário e também as questões que estão relacionados com ele, como o déficit público federal, a falência dos estados e municípios, etc. porque tudo isso irá resultar numa inflação muito grande.

O governo por sua vez não tem muitas alternativas para enfrentar essa situação. Na verdade possui apenas dois grandes instrumentos de controle inflacionário. O primeiro é o controle cambial, onde o Brasil faz uso de um fundo de reserva chamado de Fundo Soberano. Bolsonaro e Paulo Guedes já gastaram parte expressiva deste fundo para controlar o preço do dólar, evitando que a moeda norte-americana chegasse à casa dos R$ 15,00. Já foram gastos valores próximos dos US$ 60 bilhões de dólares um fundo de cerca de US$ 400 bilhões para conter essa situação.

Outro mecanismo de controle inflacionário é a política monetária que atualmente está sob o controle dos banqueiros, uma vez que foi aprovada a independência do Banco Central. A política monetária é muito simples nessa situação, você aumenta os juros cada vez mais e induz uma recessão artificialmente, que é uma paralisia ou congelamento da atividade econômica com vistas a desacelerar o consumo e a produção desacelerando por sua vez a economia criando uma tendência à diminuição da inflação.

A taxa de juros já está sendo aumentada novamente de uma forma novamente acentuada. Controlar essa situação, no entanto parece improvável diante da conjuntura internacional. Fazer um prognóstico do que irá ocorrer na economia mundial, no entanto, seria algo arriscado. É possível que haja uma crise mais profunda da que foi iniciada em 2008 com a quebra dos bancos norte-americanos.

Uma constatação que é segura é que a disposição de dinheiro dos bancos centrais e dos governos dos Estados Unidos e da Europa para conter uma situação de falência generalizada é muito menor do que era em 2008.

Na atual situação se os governos e os bancos centrais decidirem socorrer os capitalistas que entrarem em falência eles serão obrigados a imprimir dinheiro fomentando de uma maneira bastante explosiva a situação inflacionária.

Nesse sentido o conflito russo-ucraniano tem o mérito de ter colocado às claras a enorme fragilidade da situação política internacional. No caso brasileiro é preciso acompanhar de perto a situação e colocar a palavra de ordem da reposição salarial, uma vez que já se faz necessário num primeiro momento se propor a negociação coletiva de todas as categorias de trabalhadores pelo menos duas vezes por ano.

Essa medida já seria muito modesta, uma vez que se a inflação disparar será necessária uma reposição trimestral, mensal ou ainda um gatilho conforme o índice inflacionário, com alguma modalidade de escala móvel de salários para suprir a situação.

No que se refere às lutas operárias e demais categorias, é dado de que se o governo não controlar a situação inflacionária essa tendência tende a se intensificar, uma vez que para a classe operária esse problema é muito simples: ou você luta pelo aumento salarial ou você vai morrer de fome.

O que nós temos vivido ate agora é uma política sem a presença ostensiva da classe operaria brasileira, ou seja, a grande maioria da população que só existe como eleitorado chamado a cada dois anos a votar, sendo essa a participação politica deles. A mobilização grevista nesse sentido terá o poder de modificar profundamente o quadro politico brasileiro ao trazer para o debate a maioria da população.

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